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I Bienal de Poesia promete iluminar Brasília
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Sem perdão
“Minha arte é bruta”, avisa um dos primeiros versos de Trigal com Corvos, livro de poemas do multiartista J.W. Solha. Mas é uma brutalidade serena, embora incontida; a brutalidade dos inconformados. São 110 páginas, ao longo das quais ele desfila um rosário de inconformismos, em versos que evocam desde a Rainha Má da história da Branca de Neve até Hitler, Gengis Khan, passando por Fellini e Jimmy Hendrix e, acima de todos, Deus.
Solha escreveu romances e peças de teatro, atuou no cinema e fez exposições de pintura. Trigal com Corvos, seu único livro de poesia, foi lançado em co-edição entre a Imprell, de João Pessoa, onde ele vive, e a Palimage, de Portugal, depois de classificar-se entre os finalistas da Bienal Nestlé de Literatura, em 1991.
Trigal com Corvos é um grande poema cujos versos vão trocando de temas e abordagens com a velocidade de um caleidoscópio. Parece veicular a ansiedade do autor, que derrama suas angústias acumuladas e não perdoa nada nem ninguém. “O que existe é um frio programa que usa sofrimentos como esporas que / estuguem nosso esforço pela Evolução / e onde o que importa é o superorganismo chamado Homem / não cada uma das milhões ou bilhões de céulas ambulantes que somos dele / salvaguardada entre nós a preservação de uma média permanentemente ativa / sempre renovada / que garanta a marcha ao ponto para onde convergem ou de onde partem / todas as nossas perspectivas”.
A lógica da poesia de Solha – se é que poesia e poeta devem seguir alguma lógica – é a do alienígena que testemunha absurdos e não consegue compreender a docilidade de seus agentes e vítimas. É a lógica da criança que aponta o dedo e pergunta: “Por que – se existe um Deus – não me fez melhor? / Imagino que teria sido mais fácil do que planejar / sincronizar / e programar o lépido movimento octópode das aranhas e o do exército de pernas das centopéias!”
Solha começa o livro questionando a si próprio – ou, para ser exato, o ato de escrever. Passa, em seguida, a tentar compreender, ou incompreender, o tempo e o envelhecer, inútil atividade sem fim da literatura. E, ao final, desmascara Deus: “se houvesse realmente acontecido algum momento / na História / em que alguém tivesse encravado uma coroa de espinhos em Deus / e lhe tivesse metido umas porradas na cabeça / cuspido na cara dele / despejando-lhe uma carrada de desaforos / mereceria de mim o perdão / pois o que o homem sofre neste mundo / criado por tal personagem criado por nós / ...é de um sadismo que chega a ser... torpe.”
O livro de W. J. Solha não é daqueles que o leitor esquece na estante e na memória. Sua poesia é de uma aspereza que incomoda o leitor – e ele se põe de pé, para ler em voz alta.
(dezembro/2007)
Anderson e os Criadores de Mantras
Documentário sobre "O Sol": lançamento
O jornal O Sol saiu, pela primeira vez, em 21 de setembro de 1967, no início da primavera, ou seja, há exatos 40 anos. O filme O Sol – caminhando contra o vento é um recorte da Geração 68, por meio das páginas do jornal que, embora tenha sobrevivido pouco, tornou-se símbolo de uma época e contou com a participação ativa de Chico Buarque, Zuenir Ventura, Ana Arruda Callado, Gilberto Gil, Betty Faria, Gilberto Braga, Hugo Carvana, Ittala Nandi, Ruy Castro, Luiz Carlos Sá, entre outros.
A versão em DVD do documentário de Tetê Moraes e Martha Alencar inclui depoimentos adicionais de Caetano Veloso, Carlos Heitor Cony, Dedé Veloso, Fernando Gabeira, Reynaldo Jardim (o criador do jornal), Ziraldo, Zuenir Ventura, Fernando Barbosa Lima, Silvio Tendler e, ainda, uma conversa entre Cacá Diegues e as diretoras.
Além disso, os extras do DVD contam com uma variada seleção de páginas de O Sol e making-of da trilha sonora incidental do filme, assinada por David Tygel - que reúne fonogramas originais de sucessos da época como Alegria, Alegria, Domingo no Parque, Roda Viva, Tropicália, Panis et Circenses, entre outras.
A poesia de Leonard Cohen no Brasil
Palmas para Miranda
Festival de Poesia em São Paulo
Rivera no Painel Brasil
Novas opiniões sobre a Bienal de Poesia
"A Feira é realizada no melhor espaço possível numa cidade cujo comércio e fluxo de pessoas se encontra quase exclusivamente em shopping." Tércio se diz contra isolar feiras e bienais (como no Rio) em lugares distantes;
Para ele, dizer que "público de shopping não é, por definição, público leitor" é "visão estereotipada, preconceituosa e rançosa";
Os motivos da pouca leitura são estruturais e históricos, lembra Tércio. Por isso, prossegue, "deveria haver feira de livro não só em shopping, mas em supermercado, em boate, em farmácia, em festa rave, em boteco, calçada, enfim, todo lugar", lembrando que o que estimula a leitura é política de governo, preço mais baixo, incentivo nas escolas etc;
Tércio acha que a Bienal de Poesia pode até ser realizada simultaneamente com a Feira, mas também por uma questão de espaço, não no Pátio Brasil. Ele sugere o Teatro Nacional, que tem três boas salas e espaço para os poetas venderem seus livros;
"Não considero como opção aquele monumento natimorto chamado Biblioteca Nacional, que é um belo bolo embolorado por dentro", afirma;
E continua: "Esperar que a poesia promova 'um mundo menos mercantilista e mais humano' é atribuir responsabilidade demais à poesia. Poetar é um ato lúdico."
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Uma Bienal de Poesia em Brasília?
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Cassiano, boa viagem
Cassiano Nunes era alma generosa, que procurava conhecer e estimular o trabalho de novos autores. Boêmio, enturmava-se com pessoas de todas as idades, desde que tivessem afinidade com ele e gostassem de conversar sobre Literatura. Até cinco anos atrás, quando sua saúde se debilitou, freqüentava assiduamente bares e eventos culturais em Brasília, e sempre encontrava alguém com quem conversar e trocar idéias. Gostava de declamar, com seu vozeirão, poemas de seus autores favoritos, que sabia de cór. Era um defensor apaixonado de Brasília.
Um poema...
Um texto de Rui Werneck
Vinte anos de Martinho da Arcada
Gerúndio perde emprego
De volta
Poesia de Brasília no Guiness
Woodstock no interior de Minas
Se o Festival de Woodstock levou quase 500 mil jovens a uma fazenda, debaixo de chuva e em meio a lama, para quatro dias de celebração da paz e da boa música, o que acontece agora no Sudoeste de Minas provoca um sentimento de nostalgia a quem viveu o espírito da época. Mas a maior parte do público está ali para provar que o rock está mais vivo do que nunca – que o digam os meninos atentos aos covers de Pink Floyd, Creedence Clearwater Revival e muitos outros.
A cidade é Passos, o lugar mágico se chama Woodstock Bar e o mentor de tudo é o guitarrista Magrão, nascido em São Paulo mas ligado à cidade desde sempre. O Woodstock Bar localiza-se numa rua bucólica, quase deserta, entre terrenos baldios, no final do bairro de São Francisco. É ali que a coisa ferve nas noites de quinta, sexta, sábado e domingo.
O bairro de São Francisco é um dos mais tradicionais de Passos, que em 2008 completa 150 anos de emancipação política. Nasceu ao redor do morro do mesmo nome, onde foi construída uma simpática capelinha, ainda nos primeiros tempos da cidade. A capelinha sobreviveu intacta até a década de 70, mas a partir daí começou a sofrer sucessivas reformas, até que a demoliram e construíram no lugar uma nova igreja, autêntico exemplar do mau-gosto da arquitetura pós-moderna. Parece uma nave alienígena.
A capelinha foi uma perda, mas não era mais possível salvá-la. Ao longo das últimas décadas, os padres lotearam o morro e o bairro subiu pelas suas encostas, descaracterizando-o. Mas o bairro mantém até hoje suas principais características de cidadezinha do interior, com casinhas singelas, ruas tranqüilas por onde as pessoas caminham, trocam um bom-dia e conversam, a caminho da padaria ou do botequim. Foi nesse ambiente tipicamente interiorano que nasceu o Woodstock Bar. É por isso que os que o procuram, noite adentro, têm às vezes dificuldade para encontrá-lo – pior ainda, quem está em Passos para uma visita. O cara percorre ruas escuras, vira esquinas desertas, e de repente se depara com uma rua lotada de carros e motos e é despertado por um som que parece vir de uma outra época. E vem mesmo.
O Woodstock Bar deveria ser incluído no roteiro turístico oficial de Passos, uma cidade simpática que recebe visitantes atraídos por suas lojas de roupas modernas e ecoturistas em busca das belas cachoeiras da região. E, é claro, os imortais roqueiros.
Feira do Livro começa na sexta
A Câmara havia anunciado que o evento voltaria a ser realizado no Centro de Convenções, mas a promessa não se concretizou. Outra possibilidade anunciada para o ano que vem é sediar a Feira no Complexo Cultural da República, ao ar livre, entre o Museu e a Biblioteca.
A 26a. Feira do Livro homenageia Ariano Suassuna e dá uma atenção especial ao cordel. A CBDF anuncia a presença da escritora portuguesa Alice Vieira, conhecida mundialmente por suas obras infanto-juvenis; Lira Neto, biógrafo da cantora Maysa; o poeta amazonense Thiago de Mello; o contista Ronaldo Cagiano, que depois de se mudar para a capital paulista volta a Brasilia para participar do Café Literário. Também comparece, acreditem ou não, o paulista Marcelo Mirisola. Será que não havia ninguém mais interessante disponível em São Paulo?
No mais, haverá as atrações de sempre - oficinas, peças de teatro, apresentações musicais, palestras, debates... Quem sabe as livrarias não promoverão, desta vez, significativos descontos nas vendas dos livros, o que, afinal, deveria ser uma característica de tudo aquilo que se chama de "feira"? Fica a sugestão.
Quarta-feira literária
Drummond: 20 anos
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
É uma estrofe do poema Procura da Poesia, do livro Rosa do Povo. Nessa meia dúzia de versos está contida, em minha modesta opinião, toda a essência daquilo que chamamos poesia.
Guerrilheiros [2]
Guerrilheiros
Gaia no Balaio
A poesia de Ana Ramiro é feita de versos elegantes e delicados, que atraem o leitor para um pacto de cumplicidade. Ana Ramiro cria imagens de grande sensualidade, em poemas densos e concisos.
A poeta estará acompanhada de Virna Teixeira, tradutora de Na Estação Central (Editora UnB), coletânea do escocês Edwin Morgan, e da antologia Ovelha Negra (Lumme Editor), também de poesia escocesa. Também será lançado o livro 8 Femmes, que reúne trabalhos de oito autoras.
E quem comparecer verá ainda um pocket show do poeta Marcelo Sahea, com participação do baterista Renato Dias.
Tudo isso numa noite de sexta-feira...
Justa homenagem
Aos 80 anos, Garcia Márquez pode viver à sombra das grandes obras que produziu, embora sua inquietação o leve a prosseguir escrevendo histórias geniais. Ele contribuiu para o acervo literário latino-americano com alguns dos melhores livros aqui escritos, colocou seu país e nosso continente no mapa da literatura mundial e trouxe para cá um Prêmio Nobel. Apesar de tudo isso, jovens escritores (ou nem tanto) hispano-americanos tentam criar um novo modismo: falar mal de Garcia Márquez. Uma razão a mais para as incontáveis homenagens que têm sido feitas a ele e suas obras.
Uma esperança para a Biblioteca
Erguida na Esplanada dos Ministérios durante o governo Joaquim Roriz sem qualquer planejamento quanto à origem, aquisição e administração de seu acervo, a Biblioteca Nacional começa a dar sinal de vida. Um dos grandes responsáveis por isso é o professor e poeta Antonio Miranda, que ainda nem foi oficialmente nomeado diretor da instituição, mas já está na luta para viabilizar o elefante branco. Graças a ele, a Universidade de Brasília (UnB) fez uma significativa doação à Biblioteca, em processo de catalogação.
A doação dos livros foi anunciada pelo embaixador Lauro Moreira, ex-marido de Marly, que na última sexta-feira, 20, fez uma palestra sobre ela e uma apaixonada leitura de seus poemas no auditório da própria Biblioteca. Moreira é embaixador do Brasil junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa. E especialista em leitura de poesia.
Brasília sob a neve
It´s only rock´n´roll, but I like it!
Octávio Scapin e banda apresentam "Ressaca", um rock básico composto por Scapin sobre poema de Alexandre Marino. Siga a letra abaixo.
Ressaca
Tenho mania de recordar o futuro
e gritar te amo, te amo,
como se atingisse o orgasmo
a cada erro de concordância
Mas sou apenas uma ilha deserta,
sem palmeiras ou náufragos.
Minha diversão é atirar ao mar
mensagens de amorem garrafas de açúcar
(Nem alcanço a praia
nem o mar fica mais doce)
Navegante de águas mortas
nem aprendi a tossir
e já tenho uma cicatriz no coração
(minha filha se chamaria Tarsila
mas morreu antes da ejaculação)
Nesta noite, há bares e homens tristes
e essa mania de desvendar o futuro
como procuro desejos
Mas agora meu coração está de ressaca.
E vomita atrás de um muro a indigestão dos beijos.
[Do livro O Delírio dos Búzios, Varanda Edições, 1999, esgotado]
Bric-a-Brac: nova festa!
Haverá recital poético, reexibição do clip-documentário produzido pelo poeta Luís Turiba, ex-editor da revista, e pelo cineasta André Luiz Oliveira e, o mais esperado, lançamento do catálogo da exposição Bric-a-Brac Maior Idade, que será distribuído gratuitamente aos presentes.
O Catálogo, com 112 páginas, representará na prática o derradeiro número da revista, já que veiculará poemas e textos inéditos de poetas de Brasília e outras cidades brasileiras, além de refinada edição de fotos e trabalhos gráficos e plásticos.
Um poema de Manoel de Barros, datilografado em sua velha máquina de escrever, e um fac-símile de um manuscrito de Paulo Leminski, criado em Brasília durante sua visita à cidade em 1984, são duas das atrações do Catálogo, que deverá atrair tanta atenção da mídia cultural brasileira quanto as seis edições da revista.
Quem estiver em Brasília não deve perder essa!!
Bombas sobre Macondo
O que o realismo mágico fez pela literatura deste continente miserável, ignorante e iletrado não foi pouco. Deu-nos pelo menos um Prêmio Nobel, merecidíssimo (estou me referindo a García Marquez) e descreveu nossas tragédias com as tintas da criatividade e da arte. Cem Anos de Solidão, assim como outros livros do mesmo autor, com seus personagens absurdos e situações nonsense, traça um retrato psicológico fiel do povo latino.
A matéria da Folha - "Latinos debatem uma Macondo em ruínas", Ilustrada, pág. E3 - é assinada pela repórter Sylvia Colombo. Ela parece concordar com os neo-rebeldes, tanto que chama o movimento que combatem de "cadáver insepulto". Fotos de vários desses autores ilustram a página. Seus livros são publicados por grandes editoras daqui, de lá ou multinacionais. Márquez, Juan Rulfo, Julio Cortázar e muitos outros, quando começaram, não tinham a alta tecnologia marqueteira em que se apoiar, apenas seu talento.
Este escriba não combate a literatura feita por esses novos autores e acredita que escrevam bons livros, a julgar pelo pouco que conhece de alguns deles. O realismo urbano que eles propõem faz sentido, já que nos últimos 30 anos houve intensa urbanização dessas sociedades. Mas cuspir na obra dos grandes autores do continente não passa de rebeldia infantil.
Além disso, o continente latino-americano, depois de séculos de opressão econômica e cultural, com seus governantes populistas e "ridículos tiranos", como disse Caetano Veloso, será sempre um pouco surrealista.
O piano
Arte e mercado
Um poeta de vida simples
Para ler O Piano e outros poemas do Arqueolhar, acesse o sítio Ave Palavra, do jornalista e escritor Carlos Machado, clicando aqui. No Sítio do Alexandre Marino, você acessa poemas de vários livros deste autor.
Em Teerã
A festa do Liga Tripa
Bric-a-Brac, Maior Idade
Liga Tripa no Clube do Choro!
O Clube do Choro fica próximo ao Centro de Convenções de Brasília, no meio do gramado que separa as duas pistas do Eixo Monumental. É um espaço informal, descontraído, totalmente adequado a uma apresentação do Liga Tripa, que costuma arrastar o público pelos gramados e avenidas depois de descer do palco.
Já lá se vão mais de 25 anos que o Liga Tripa emitiu seus primeiros acordes nos gramados brasilienses. Misturando influências do baião, do frevo, do samba e outros ritmos desse Brasil adentro, Aldo Justo e sua trupe criaram um ritmo - a "ligada" - que não poderia ter surgido em outra cidade. Na formação atual, Sérgio Duboc, Toninho Alves, Carrapa, Fino e Caloro completam o grupo, com violões, flautas, cavaquinho, percussão e o "negão" - um contrabaixo monocórdio de origem africana que é uma das atrações do Liga.
O grupo já se apresentou em diversas capitais brasileiras e em cidades da Nicarágua, onde representou o Brasil no V Encuentro Iberoamericano de la Cultura.
Portanto, para não esquecer: Liga Tripa no Clube do Choro, dia 9, sábado, às 21h30. Ingressos a R$ 10 e R$ 5.
A palavra
Bruna Surfistinha, musa da UFRJ
Drummond em Itabira?
Deu no jornal
Simpáticas palavras de Clara Arreguy no caderno Pensar do Correio Braziliense deste sábado, 21 de abril, sobre o novo livro deste escriba.
Poemas por amor
Homenagem sim, mas...
Fernando merece todas as homenagens que lhe fizerem. Poeta de alta estirpe, original, erudito, grande amigo, figura iluminada. Autor de obra extensa, expressiva, traduzida para vários idiomas, saiu do Rio de Janeiro e veio morar em Brasília na década de 60. Seu último livro foi Rosa Anfractuosa, publicado pela Thesaurus.
Homenagear Fernando, isso está certo. O que está errado é marcar essa homenagem para esta quinta-feira, véspera de sexta-feira da Paixão, data que, por razões óbvias, é inadequada para qualquer evento, ainda mais uma homenagem a um poeta. Outro fato estranho é que os convites estão circulando entre amigos de Fernando, mas não há qualquer informação oficial no sítio da Secretaria de Cultura.
Além disso, a Biblioteca Nacional de Brasília é um prédio oco - quatro meses após sua "inauguração", não possui qualquer acervo, absolutamente nenhum livro. Foi mandada construir por um político semi-analfabeto, o ex-governador Joaquim Roriz, e inaugurada por um indivíduo que detesta livros, o presidente Lula. Embora seu projeto seja de um gênio da arquitetura, Oscar Niemeyer, dizem que o prédio é inadequado para o fim proposto, devido à incidência do sol. Bem, quanto mais demorarem a colocar esse prédio para funcionar, mais disse-me-disse.
Duas notícias
14 de março, Dia Nacional da Poesia
Adormecida
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos - beijá-la.
Mesmo em sonhos a moça estremecia....
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
"Virgem! - tu és a flor da minha vida!..."
Na capital do Brasil, é proibido entrar na Biblioteca
A Biblioteca Nacional, edifício de cinco pavimentos, com 11.500 metros quadrados, está literalmente vazia, três meses depois de sua inauguração e suposta abertura ao público. Deverá contar com um acervo de 500 mil volumes. Teoricamente - porque nenhuma autoridade se dispõe a informar de onde virá esse acervo, quando virá, se virá. Enquanto isso, o secretário de Cultura do DF, Silvestre Gorgulho, a quem cabe (também teoricamente) a administração da Biblioteca, discute com o Ministério da Cultura um projeto comum para "tornar Brasília a capital cultural do Brasil" e com o Ministério da Ciência e Tecnologia a criação de um acervo digital.
Emir Suaiden, diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), instituição vinculada ao Ministério, já deu uma aula aos 16 secretários do GDF sobre a futura (?) Biblioteca Nacional Digital, um projeto que, segundo ele, "viabiliza a implantação de um centro de inclusão social numa biblioteca onde o virtual, o digital e o bibliográfico funcionarão em harmonia".
Enquanto as autoridades discutem idéias e propostas, o elefante branco dorme. O edifício faz parte do Complexo Cultural da República, que custou R$ 110 milhões ao Governo do Distrito Federal. O outro edifício, inaugurado no mesmo dia, é o Museu da República. Segundo o governo local, sua missão é incluir a cidade no circuito nacional e internacional de exposições. Conta com sistema de climatização e dois auditórios, além de salas para restauração de obras e laboratórios. Por enquanto, está ocupado com uma exposição de fotos de projetos do arquiteto Oscar Niemeyer ao redor do mundo.
O Complexo faz parte do projeto original de Brasília, de autoria de Niemeyer, e ocupa a ala sul da Esplanada dos Ministérios, próximo à Catedral Metropolitana. A ala norte ainda está vazia, o que por enquanto não faz grande diferença.