Woodstock no interior de Minas


Um grande festival de rock´n´roll realizado numa fazenda no interior dos Estados Unidos, em 1969, entrou para a história da música e tornou-se o principal símbolo da contracultura e da era hippie. Agora, mais de 40 anos depois, o espírito Woodstock permanece vivo numa cidade do interior de Minas – ainda que limitado ao espaço físico de um bar lotado, um palco onde tocam bandas formadas por uma garotada talentosa, tudo isso animado por um maestro que carrega a alma desse tempo.

Se o Festival de Woodstock levou quase 500 mil jovens a uma fazenda, debaixo de chuva e em meio a lama, para quatro dias de celebração da paz e da boa música, o que acontece agora no Sudoeste de Minas provoca um sentimento de nostalgia a quem viveu o espírito da época. Mas a maior parte do público está ali para provar que o rock está mais vivo do que nunca – que o digam os meninos atentos aos covers de Pink Floyd, Creedence Clearwater Revival e muitos outros.

A cidade é Passos, o lugar mágico se chama Woodstock Bar e o mentor de tudo é o guitarrista Magrão, nascido em São Paulo mas ligado à cidade desde sempre. O Woodstock Bar localiza-se numa rua bucólica, quase deserta, entre terrenos baldios, no final do bairro de São Francisco. É ali que a coisa ferve nas noites de quinta, sexta, sábado e domingo.

O bairro de São Francisco é um dos mais tradicionais de Passos, que em 2008 completa 150 anos de emancipação política. Nasceu ao redor do morro do mesmo nome, onde foi construída uma simpática capelinha, ainda nos primeiros tempos da cidade. A capelinha sobreviveu intacta até a década de 70, mas a partir daí começou a sofrer sucessivas reformas, até que a demoliram e construíram no lugar uma nova igreja, autêntico exemplar do mau-gosto da arquitetura pós-moderna. Parece uma nave alienígena.

A capelinha foi uma perda, mas não era mais possível salvá-la. Ao longo das últimas décadas, os padres lotearam o morro e o bairro subiu pelas suas encostas, descaracterizando-o. Mas o bairro mantém até hoje suas principais características de cidadezinha do interior, com casinhas singelas, ruas tranqüilas por onde as pessoas caminham, trocam um bom-dia e conversam, a caminho da padaria ou do botequim. Foi nesse ambiente tipicamente interiorano que nasceu o Woodstock Bar. É por isso que os que o procuram, noite adentro, têm às vezes dificuldade para encontrá-lo – pior ainda, quem está em Passos para uma visita. O cara percorre ruas escuras, vira esquinas desertas, e de repente se depara com uma rua lotada de carros e motos e é despertado por um som que parece vir de uma outra época. E vem mesmo.

O Woodstock Bar deveria ser incluído no roteiro turístico oficial de Passos, uma cidade simpática que recebe visitantes atraídos por suas lojas de roupas modernas e ecoturistas em busca das belas cachoeiras da região. E, é claro, os imortais roqueiros.

Feira do Livro começa na sexta

A Câmara do Livro do Distrito Federal anuncia para a próxima sexta-feira, 31 de agosto, a abertura da 26a. Feira do Livro, que mais uma vez será realizada nos corredores externos do Pátio Brasil Shopping. Alô, Walter Silva, quando é que vão arranjar um lugar melhor para a Feira? Os livreiros adoram, porque o local tem grande circulação de pessoas, com feira ou sem. Mas para o público consumidor de livros, e especialmente para quem pretende acompanhar palestras e debates, deixa muito a desejar.

A Câmara havia anunciado que o evento voltaria a ser realizado no Centro de Convenções, mas a promessa não se concretizou. Outra possibilidade anunciada para o ano que vem é sediar a Feira no Complexo Cultural da República, ao ar livre, entre o Museu e a Biblioteca.

A 26a. Feira do Livro homenageia Ariano Suassuna e dá uma atenção especial ao cordel. A CBDF anuncia a presença da escritora portuguesa Alice Vieira, conhecida mundialmente por suas obras infanto-juvenis; Lira Neto, biógrafo da cantora Maysa; o poeta amazonense Thiago de Mello; o contista Ronaldo Cagiano, que depois de se mudar para a capital paulista volta a Brasilia para participar do Café Literário. Também comparece, acreditem ou não, o paulista Marcelo Mirisola. Será que não havia ninguém mais interessante disponível em São Paulo?

No mais, haverá as atrações de sempre - oficinas, peças de teatro, apresentações musicais, palestras, debates... Quem sabe as livrarias não promoverão, desta vez, significativos descontos nas vendas dos livros, o que, afinal, deveria ser uma característica de tudo aquilo que se chama de "feira"? Fica a sugestão.

Quarta-feira literária

A literatura agita esta semana em Brasília. Mais precisamente esta quarta-feira, 22: no mesmo dia, haverá nova edição do Conjunto em Prosa com o escritor paranaense Cristóvão Tezza, que fala sobre O Filho Eterno (no Espaço Cultural do Conjunto Nacional); o lançamento de dois livros de Gustavo de Castro no Carpe Diem (104 Sul), um de poesia (Os Ossos da Luz) e um de ensaio literário (Ítalo Calvino, Pequena Cosmovisão do Homem); e no Feitiço Mineiro (306 Norte), apresentação do novo livro de Climério Ferreira (Memorial de Mim - As Lembranças Poéticas de um Menino de Angical do Piauí). No Auditório da Biblioteca Nacional de Brasília, o poeta Antonio Miranda apresenta recital conferência em homenagem a João Cabral de Melo Neto. Tudo isso ao mesmo tempo, às 19h.

Drummond: 20 anos

O poeta Carlos Drummond de Andrade morreu há 20 anos, mas sua poesia vive para sempre. Pouparei aos meus quatro ou nove leitores qualquer tratado a seu respeito, preferindo reproduzir alguns de seus versos mais emblemáticos:

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?


É uma estrofe do poema Procura da Poesia, do livro Rosa do Povo. Nessa meia dúzia de versos está contida, em minha modesta opinião, toda a essência daquilo que chamamos poesia.

Guerrilheiros [2]

Mais um flagrante do grupo de guerrilheiros poéticos que espalhou seus versos pela Belo Horizonte do início dos anos 80. Li Egg (primeira à esquerda), Sérgio Fantini (de boné), Avanilton, Fátima e Raimundo Nonato, Marcos Lunán (de chapéu), Alexandre Marino (exibindo seu livro recém-lançado, Todas as Tempestades), Almir Rosa, Marco Bellini (encoberto) e Luci Soalheiro. A foto, de autor desconhecido, foi feita no campus da Universidade Católica de MG. Alô, poetas, dêem notícias!!!

Guerrilheiros


Aí está um grupo de guerrilheiros poéticos que andou agindo em Belo Horizonte nos anos 80, flagrados em pleno recital no campus da Escola de Belas Artes da UFMG numa tarde daqueles tempos. Em primeiro plano, Almir Rosa, posteriormente cognominado Almir Almas, e ao fundo os demais participantes - Avanilton de Aguilar, Sérgio Fantini e este escriba, entre outros (não pela ordem).

Gaia no Balaio

A escritora Ana Maria Ramiro lança nesta sexta-feira, 3 de agosto, seu livro de poemas Desejos de Gaia (LGE Editora). Será no Balaio Café (SCN 201, bloco B, Asa Norte, em Brasília).

A poesia de Ana Ramiro é feita de versos elegantes e delicados, que atraem o leitor para um pacto de cumplicidade. Ana Ramiro cria imagens de grande sensualidade, em poemas densos e concisos.

A poeta estará acompanhada de Virna Teixeira, tradutora de Na Estação Central (Editora UnB), coletânea do escocês Edwin Morgan, e da antologia Ovelha Negra (Lumme Editor), também de poesia escocesa. Também será lançado o livro 8 Femmes, que reúne trabalhos de oito autoras.

E quem comparecer verá ainda um pocket show do poeta Marcelo Sahea, com participação do baterista Renato Dias.

Tudo isso numa noite de sexta-feira...

Justa homenagem

A Embaixada da Colômbia no Brasil promove, nesta quinta-feira (2 de agosto) o lançamento da edição comemorativa de 40. aniversário do romance Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez. O evento acontece no Espaço Cultural Ecco (SCN quadra 3, bloco C, telefone 61-3327-2027), próximo ao Liberty Mall, em Brasília. Participam o diretor do Instituto Cervantes, Juan Manuel Casado; Elga Perez-Laborde, professora da UnB, e o escritor Ronaldo Costa Fernandes, entre outros.

Aos 80 anos, Garcia Márquez pode viver à sombra das grandes obras que produziu, embora sua inquietação o leve a prosseguir escrevendo histórias geniais. Ele contribuiu para o acervo literário latino-americano com alguns dos melhores livros aqui escritos, colocou seu país e nosso continente no mapa da literatura mundial e trouxe para cá um Prêmio Nobel. Apesar de tudo isso, jovens escritores (ou nem tanto) hispano-americanos tentam criar um novo modismo: falar mal de Garcia Márquez. Uma razão a mais para as incontáveis homenagens que têm sido feitas a ele e suas obras.