LITERATURA NAS ESCOLAS

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Para realizar sua primeira feira literária, a Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer da cidade de Passos (MG) optou por priorizar as atividades nas escolas do município. Nada de falsamente grandioso: não foram convidados superstars da literatura nem foram montados pavilhões gigantescos para atrair turistas. Mas o evento deixou marcas profundas em cerca de 20 mil estudantes de 40 escolas. E também nos escritores que participaram.

A I Flipassos foi oficialmente aberta em 8 de maio. No dia 11, sexta, falei sobre a importância dos livros e da literatura a mais de 700 alunos da Escola Estadual Nazle Jabur. Os estudantes haviam lido meu livro Arqueolhar, e fizeram emocionantes apresentações de meus poemas. No mesmo dia, conheci o belo trabalho que os alunos da escola Júlia Kubitschek fizeram sobre o mesmo livro.

Cerca de 30 escritores convidados tiveram atividades semelhantes em várias escolas. Quando não estavam conversando com os estudantes, eram entrevistados na tenda montada na Praça Geraldo da Silva Maia e conversando com o público. Alguns fizeram palestras em auditórios superlotados. Diariamente houve lançamentos de livros, nas dependências do Palácio da Cultura (sede da Secretaria) ou na praça.



No dia 14 de maio, segunda-feira, aniversário dos 154 anos de Passos, os escritores foram homenageados pelas escolas, participando do desfile que atraiu grande público, mesmo debaixo de chuva, à região central da cidade.

Este ano, o tradicional Carnaval da cidade foi cancelado pela prefeitura devido à alta incidência de casos de violência. Os R$ 80 mil investidos na I Flipassos foram remanejados da festa que não houve. O aumento de interesse pelos livros e pela leitura é evidente. Tem havido crescente procura de livros nas bibliotecas escolares, que a Secretaria de Educação e Cultura tem mantido bem equipadas.



Os escritores nascidos em Passos que participaram do evento - este escriba, Antonio Barreto, Marco Túlio Costa, Alexandre Brandão, Marise Pacheco, Benedito José, Sebastião Wenceslau Borges, Deucélia Maciel - se tornaram profetas em sua terra. Uma bela homenagem prestada pela cidade, que pode reverter em enormes benefícios.

O trabalho desenvolvido pela Secretaria de Educação e Cultura e pelas escolas já fez subir o Ideb (índice que mede o grau de educação do município) para 6,3, média prevista para o Brasil em 2020. Investir em educação é garantir um futuro melhor para todos. Passos no caminho certo.  

ARQUEOLHAR NA FLIPASSOS

Meu livro de poemas Arqueolhar, lançado em 2005, foi escrito durante quatro anos – desde 2001, quando me ocorreu a ideia de fazer um mergulho em minha infância, até 2005, quando o publiquei. Foi uma fascinante experiência de cavoucar meus abismos interiores por meio da literatura. Ao mesmo tempo, considero o resultado bem sucedido em termos de projeto literário, o que prova, ao menos para mim, que a poesia, a literatura e as artes em geral só se realizam plenamente quando o autor lança mão de seus fantasmas e pirações para produzir suas obras, dosando os frutos desse mergulho com a técnica, o lirismo e um certo olhar crítico, de forma a tornar sua obra palatável a quem teve outras vivências. 
 
O cenário dos poemas de Arqueolhar é minha terra, Passos, no sul de Minas Gerais, que realiza esta semana, com encerramento em 14 de maio, a sua primeira Feira Literária, a Flipassos. Volto à cidade para conversar sobre o livro com grupos de estudantes, em duas escolas, e em encontros com outros escritores. Minha expectativa é grande, porque terei a oportunidade de apresentar novamente a meus conterrâneos um trabalho que não deixa de ser, também, uma homenagem à cidade onde passei minha infância e adolescência. 

 
Os poemas de Arqueolhar abordam aquilo que poderíamos chamar de alma de uma cidade, ou ao menos um espírito que identifiquei como tal. Lá estão lugares, personagens, objetos, anônimos e banais, que podem ou não ser reconhecidos, mas que compuseram o mosaico de minha formação – e prova disso é que estão arraigados em minha memória. Conviver de novo com o cheiro do cômodo da antiga cadeia pública, onde meu pai trabalhava como radiotelegrafista, ou o sabor do sorvete vendido nas imediações da antiga rodoviária, numa máquina trêmula e barulhenta, foi uma experiência quase psicanalítica. 

 
Ao descrever o livro numa frase, eu dizia que escrever esses poemas foi como escavar o fundo do quintal, como fazem as crianças, ao sonhar com a possibilidade de descobrir a ossada de um dinossauro. Assim, minha intenção não foi de falar de saudade, nem de recordar o passado, não foi de entrar numa sessão de nostalgia. Arqueolhar é um encontro, um mergulho numa caverna escura, uma descoberta.

COMEÇA A FLIPASSOS


A I Feira Literária de Passos, Flipassos, será aberta nesta terça-feira, 8 de maio, com palestra da escritora Maria Antonieta Cunha, secretária-executiva do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) do Ministério da Cultura. Passos localiza-se no sudoeste de Minas Gerais, tem cerca de 100 mil habitantes e a I Flipassos é um acontecimento histórico, no entender deste escriba. Afinal, a cidade é celeiro de escritores, tem uma História que daria um romance – ou vários, alguns dos quais já foram escritos – e precisava há muitos anos promover esse encontro, que será, acima de tudo, uma troca de experiências entre escritores e potenciais leitores.

A programação da feira é ampla e contará com debates, seminários, lançamentos de livros, oficinas, apresentações musicais e de peças teatrais, a partir desta quarta-feira, 9, até o dia 14, segunda-feira, quando uma série de festividades encerra a feira e comemora o aniversario da cidade.

Não é possível citar a programação inteira neste espaço. Mas vou citar os escritores que passarão por lá. Banca Maria de Paula (dia 9), Marco Túlio Costa (9), Jairo de Paula (9), Ronaldo Simões Coelho, Décio Martins Cançado (10), Alexandre Brandão, Marise Pacheco, Leo Cunha,  Maurílio Andréas Silveira, Nelson Cruz, Jaime Prado Gouveia, Neusa Sorrenti, Hilda Mendonça, Sérgio Fantini (dia 11), Luís Giffoni, Deucélia Maciel, Sebastião Wenceslau Borges, Alexandre Marino, Benedito José, Adriano Alcântara, Antonio Barreto, Ricardo Bastos Machado, Marcelo Xavier (dia 12).

A feira privilegia atividades que atraiam os estudantes do ensino médio, como encontros com escritores, oficinas, narração de histórias. Uma proposta extremamente importante para a cidade, que tem boas bibliotecas mas é pobre em livrarias e tem baixo índice de leitura – nada diferente de outras cidades médias de um país chamado Brasil.

FLIPASSOS, LÁ VOU EU


Praça da Matriz de Passos, Minas Gerais. Minha terra. Nesta praça, dei meus primeiros passos, fiz meus primeiros grandes amigos, namorei pela primeira vez. Nesta igreja transgredi pela primeira vez a obrigação da missa dominical. Esta semana, volto à cidade para participar da I Feira Literária de Passos, Flipassos. Em ótimas companhias.