EM MEMÓRIA
Já pensei várias vezes em não mais escrever obituários neste blog. Recentemente, tivemos perdas importantes de grandes artistas: Glauco, Wilson Bueno, Antonio Poteiro e, agora, José Saramago. Bem, pessoas chegam ao fim de suas trajetórias todos os dias, e nem sempre seus nomes alcançam a mídia ou o nosso conhecimento. Certamente muitos trabalhos interessantes são interrompidos sem nos darmos conta. Mas é impossível não lembrar da grandeza de algumas dessas trajetórias e lamentar as perdas, embora o mais agradável seja contribuir para o conhecimento de suas obras.
RONALDO FERNANDES, PRÊMIO DA ACADEMIA
A poesia de Ronaldo Costa Fernandes não silencia sobre os ruídos obscenos do mundo. Seus versos são serenos, como se ao abrir a cortina ele apenas pronunciasse as palavras exatas, sem alterações na voz, para analisar a cena que desnuda. São poemas altamente líricos, coloridos com ironia sutil e imagens às vezes inusitadas, que fazem mudar o foco do sentido nos objetos descritos. É o caso, por exemplo, do intrigante Churrasco: "Da minha janela, vejo fornos crematórios. / (...) / Nos fins de semana, / começa o sacrifício de bois e rins ; e a fumaça se evola, em suas cólicas / cinzas, a passagem das horas, / o riso grotesco dos feriados (...)".
Seu livro A máquina das mãos, onde se lê esse poema, valeu a Ronaldo Costa Fernandes, maranhense radicado em Brasília, o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras deste ano. Os acadêmicos Lêdo Ivo, Affonso Arinos de Mello Franco e Alberto da Costa e Silva assim explicaram a sua escolha: “Trata-se de um livro em que a experiência pessoal do poeta, convertida em linguagem, se transmuda em poemas de excelente nível, e nos quais se casam a emoção e a execução apurada, sob a regência de um rigor que não exclui a aventura e a transgressão.” A máquina das mãos foi publicado pela Editora 7 Letras, do Rio de Janeiro.
Os demais vencedores do Prêmio Literário da ABL foram, respectivamente, Rodrigo Lacerda (romance Outra vida), Ângela-Lago (Marginal à esquerda) e Milton Lins (Pequenas traduções de grandes poetas), nas categorias ficção, literatura infanto-juvenil e tradução. O mais importante dos prêmios, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra, coube ao crítico literário, professor, escritor, ensaísta e filósofo paraense Benedito Nunes.
Seu livro A máquina das mãos, onde se lê esse poema, valeu a Ronaldo Costa Fernandes, maranhense radicado em Brasília, o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras deste ano. Os acadêmicos Lêdo Ivo, Affonso Arinos de Mello Franco e Alberto da Costa e Silva assim explicaram a sua escolha: “Trata-se de um livro em que a experiência pessoal do poeta, convertida em linguagem, se transmuda em poemas de excelente nível, e nos quais se casam a emoção e a execução apurada, sob a regência de um rigor que não exclui a aventura e a transgressão.” A máquina das mãos foi publicado pela Editora 7 Letras, do Rio de Janeiro.
Os demais vencedores do Prêmio Literário da ABL foram, respectivamente, Rodrigo Lacerda (romance Outra vida), Ângela-Lago (Marginal à esquerda) e Milton Lins (Pequenas traduções de grandes poetas), nas categorias ficção, literatura infanto-juvenil e tradução. O mais importante dos prêmios, o Machado de Assis, pelo conjunto da obra, coube ao crítico literário, professor, escritor, ensaísta e filósofo paraense Benedito Nunes.
FERREIRA GULLAR, PRÊMIO CAMÕES
"A arte existe porque a vida, só, não basta." Esta é uma das frases lapidares do poeta Ferreira Gullar, maranhense prestes a completar 80 anos e a lançar mais um livro - Em alguma parte alguma. Ao longo do tempo, Gullar refinou sua linguagem poética sem jamais perder a capacidade de observação e indignação que o leva a ganhar, agora, o Prêmio Camões, principal distinção concedida a autores de língua portuguesa.
Gullar está cheio de energia, e esta semana participa do programa Viagem Literária, da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, que leva escritores a cidades do interior para falar com estudantes e leitores. Em setembro, mês de seu aniversário, Gullar será um dos homenageados da II Bienal Internacional de Poesia de Brasília, que deve reunir na capital do país poetas de todas as linguagens artísticas, vindos das Américas, Europa e Ásia.
Um viva para Ferreira Gullar.
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