Se a vida é um circo...

[...]
Indomáveis feras adormecidas,
sol e chuva, solitários viajores,
a vastidão para meu pequeno corpo
aprendiz de domador,
coração movido a espantos;


O circo e seu bestiário,
a aura mágica do mágico:
a lona esconde desejos
além de meus olhos fátuos.


E lá adiante, meu pai,
um realejo, a sorte lançada,
o dobre de um sino,
a estrada.


O ano que termina foi muito gratificante, por várias razões, e a principal delas foi a publicação de meu livro Arqueolhar, que alguns dos visitantes deste espaço tiveram a oportunidade de ler. O que o internauta lê acima são os versos finais de Circo, último poema do livro. Uso destas palavras para desejar aos leitores um bom Natal e um 2006 cheio de esperanças. Cada um que escolha as suas... Os mais sensíveis, capazes de mergulhar em livros de poesia nesses tempos mercantilistas, certamente compreenderão as minhas.

Escavações

"Em Arqueolhar, Alexandre Marino, mineiro radicado em Brasília, entrega-se a uma experiência que ele considera "quase infantil": a partir do reencontro com diversos objetos perdidos - velhos bonecos, brinquedos, relógios - 'escavar' a própria memória atrás de recordações da meninice. Tal 'arqueologia da infância', ele ressalta, não possui intenções nostálgicas nem autobriográficas: é, antes de tudo, um exercício de imaginação. Marino já publicou Os operários da palavra, Todas as tempestades e O delírio dos búzios."
Nota publicada na edição 67 do jornal literário paranaense Rascunho (novembro/2005).

Orgia das borboletas

Octávio Scapin inaugura seu blog lítero-musical Orgia das Borboletas com um relato vibrante sobre o show do blueseiro Buddy Guy no Rio de Janeiro, no último fim de semana. Buddy Guy todo o mundo sabe quem é; já Octávio Scapin é um nome que vocês devem guardar. Ele é autor de uma ótima balada para o poema O Estranho, que abre o Arqueolhar. Um dia vocês ouvirão e também se emocionarão. E esse título, Orgia das Borboletas, é um achado, não?

Nova resenha

Visitem o Sítio do Alexandre Marino e leiam o estudo do escritor goiano Pedro Paulo Ernesto sobre Arqueolhar. E aproveitem para ler um texto deste escriba sobre Estão todos aqui, novo livro de contos do xará e conterrâneo Alexandre Brandão. E depois fiquem à vontade para comentar.

Direto de Curitiba

Palavras carinhosas do Rui Werneck, meu amigo paranaense, em seu blog NeoPseudoSupra:

"O clipe de hoje é uma grande homenagem ao amigo mineiro sediado em Brasília: Alexandre Marino. Ele me mandou seu mais recente livro. O belíssimo Arqueolhar. Bonito desde a capa, passando pela diagramação até os poemas. E vice-versa. Um garimpo milagroso e da mais alta voltagem. Abraços, Marino."

O clipe a que ele se refere é a música Because Of, do bardo canadense Leonard Cohen, de quem sou fã de carteirinha. Se você clicar no blog do Werneck, poderá ver o clipe.

Bebemorações Arqueolíricas [4]

O músico Babilak Bah, este escriba, Luís Turiba, que lançou seu livro Bala, e o poeta Rique Aleixo, conversando sobre poesia numa mesa da Cantina do Lucas, após o Sempre um Papo do dia 24 de outubro, em Belo Horizonte. Uma pena que vocês não estiveram lá.

Bebemorações Arqueolíricas [3]

Depois do lançamento de Arqueolhar no Projeto Sempre um Papo, em Belo Horizonte (24 de outubro) fomos para a Cantina do Lucas, que ninguém é de ferro. Os escritores Sérgio Fantini, Chico Morais Mendes e Jeferson de Andrade não me deixam mentir.

Bebemorações Arqueolíricas [2]

Antônio Carlos Navarro, editor da LGE, os escritores Salomão Sousa, Wilson Rossato, Ronaldo Costa Fernandes e Fernando Mendes Vianna, além da artista plástica Tânia, flagrados no lançamento de Arqueolhar no Café Martinica, em Brasília. Isso aqui está parecendo coluna social...

Bebemorações Arqueolíricas [1]

Cena do lançamento de Arqueolhar em Brasília, 27 de setembro: a Colônia Passense reunida. Caso raro... Aí estão Willians, este escriba, Anival, Urbano, Paulinho Amauri, Eustáquio Grilo e Rosângela. O garoto é o Thales, filho do Grilo, que já entende de poesia. E música, é claro.

Um poema [4]

Alguns visitantes deste espaço têm observado a dificuldade de encontrar aqui os poemas do livro. Esclareço que alguns poemas foram publicados nos meses de agosto e setembro (basta clicar nos links à esquerda). Mas, para facilitar a leitura, segue abaixo uma pequena amostra do Arqueolhar.


Paisagem Doméstica

É inverno, não importa o tempo, as horas.
O inverno se esconde nos raios do sol.
O fim de tarde arranha as gargantas.
Seres invisíveis inventam a escuridão.

Fecham-se as portas, a gente desvaira.
Um cheiro de café aponta o horizonte.
Deus implora abrigo entre as cortinas.
Pássaros guardam os cantos no terraço.

Vozes velejam no limiar do silêncio.
Notícias antigas no rádio invisível.
Vestígios de velhas fábulas.

Ninguém sabe a história inteira.
Evocam-se vazios invulneráveis.
O tempo é feito de destroços.

Arqueolhar em Ribeirão Preto

Leitores do interior paulista poderão adquirir o Arqueolhar na Livraria Paraler, que possui uma "megastore" no Ribeirão Shopping, em Ribeirão Preto, e em Bebedouro. O livro também é distribuído para livrarias de Barretos, Piracicaba e outras cidades. Leitores de outras cidades que me perdôem, diante de qualquer dificuldade. Poesia é coisa rara... Mas a internet garante o contato. Escrevam.

Um presente do Marcelo Sahea


Vejam o simpático presente que recebi do poeta Marcelo Sahea, no dia do lançamento do Arqueolhar em Brasília: um poema, rabiscado num guardanapo, inspirado pelas primeiras leituras do livro, ainda na mesa do Martinica Café. Marcelo também me presenteou com um exemplar do Carne Viva, seu belo livro de poemas. Um abraço, Marcelo!

Entrevista ao "Hoje em Dia"

Leia no Sítio do Alexandre Marino a entrevista concedida por este autor ao jornalista Alécio Cunha, do jornal mineiro Hoje em Dia, sobre o livro Arqueolhar. E aguarde novas informações...

Notícias de Belô!!


Na última segunda-feira, 24, eu e Luís Turiba lançamos em Belo Horizonte nossos livros Arqueolhar e Bala. O evento foi realizado na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, local nobre da capital mineira, com realização do Projeto Sempre um Papo. Um bom público, presença de bons amigos, novos e velhos, uma ótima conversa sobre poesia, ilustrada pela leitura de alguns dos poemas dos livros.

Este escriba faz questão de agradecer aos que compareceram e adquiriram os livros, dando um voto de confiança ao nosso trabalho; ao pessoal da imprensa cultural de BH, especialmente do Estado de Minas, Diário da Tarde, Hoje em Dia e O Tempo, além das rádios Guarani e Itatiaia, que nos concederam generosos espaços, e à equipe da AB Comunicação, especialmente Afonso Borges, que realizam um importante trabalho de divulgação da literatura não apenas em Minas, mas também em Brasília e outras capitais.

Nos próximos dias, especialmente na próxima semana, publicarei neste espaço algumas fotos do evento e contarei alguns lances. Peço aos arqueonautas só um pouquinho de paciência...

O palhaço, em 2 tempos!


Aí está um dos personagens principais do Arqueolhar, o palhaço Aço. Da forma como foi encontrado num antigo armário, dentro de um porão, em 2001 (foto colorida)... E na plenitude de sua forma, 48 anos atrás, dentro do chiqueirinho do garoto (ao fundo).

"Arqueolhar" e "Bala" em Belô!

Na próxima segunda-feira, eu e Luís Turiba dividiremos a mesa de debates do Projeto Sempre um Papo em Belo Horizonte para lançar nossos livros - Arqueolhar e Bala. Nosso objetivo é falar sobre a poesia como linguagem no mundo contemporâneo e a importância desse meio de expressão na vida de cada um. Na oportunidade, lançaremos um manifesto de apoio à volta da Bienal Internacional de Poesia, lançada em 1998 e da qual nós dois participamos. Contamos com a presença de leitores, escritores e todos os interessados em poesia! Será na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, a partir das 19h30.

Deu no Jornal do Brasil:

Trecho da matéria de Ronaldo Cagiano publicada no Caderno B do Jornal do Brasil, domingo passado (16/10), sob o título Um poeta que crê na força da linguagem:

"A ousadia em Arqueolhar não é jogo arquitetônico ou visual, mas o poder de transfiguração da palavra a partir de antigos referenciais, voltados para a verdadeira comunicação da arte, permitindo inovar e renovar dentro da própria tradição.

Nas escavações desse mundo que ficou para trás e se insinua como um ricochete no inconsciente - e aqui reside o sentido arqueológico de seu olhar -, o autor não postula uma reverberação saudosista ou um refluxo nostálgico, mas tematiza poeticamente experiências importantes para sua formação humana e intelectual, encetando um diálogo entre tempos e espaços distintos.

O mergulho nesse ''oceano de fantasias'' transforma-se em catarse e oferece momentos de verdadeira epifania, ao mesmo tempo em que a evocação do passado constitui-se em pano de fundo para uma leitura existencial e a compreensão da relação do homem com o seu meio e sua gente."

A matéria está publicada na íntegra no Sítio do Alexandre Marino e foi reproduzida no site da Livraria Cultura, na página de informações sobre Arqueolhar. Para visualizá-la, basta digitar "arqueolhar" na busca por um título, e ao aparecer o livro clicar na capa.

Lançamento em BH


Projeto Sempre um Papo. Dia 24 de outubro, segunda-feira, a partir de 19h30, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes. Ao lado de Luís Turiba, que lançará o seu Bala. Conversaremos sobre poesia, jornalismo e outros temas afins.

Escritores desaparecidos!

Guido Heleno sumiu. Alguém sabe do paradeiro de Guido Heleno? A última vez que foi visto trajava um chapéu de feltro cor de areia, com uma fita multicolorida envolvendo a copa. O chapéu era tão vistoso que as testemunhas não souberam dar informações precisas sobre o restante do traje do Guido, a cor da camisa, o modelo da calça. As testemunhas confirmaram que Guido passou pelo Café Martinica na noite do lançamento do livro Arqueolhar. Ele entrou na fila, recebeu a dedicatória, ficou mais alguns minutos e desapareceu.

Guido Heleno é talvez o mais antigo amigo que tenho em Brasília. Eu o conheci em Belo Horizonte, apresentado pelo Antônio Barreto, outro que não tem dado notícias, mas já morava em Brasília quando vim para cá, em 1982. O primeiro livro dele que li foi o Pássaro de Luz, pequeno mas denso livro de poemas publicado naquele mesmo ano e que releio de vez em quando. Seu conto Sax noite a dentro, que faz parte da Antologia do Conto Brasiliense (Projecto Editorial, 2004), é um achado. Guido já publicou muitos livros infanto-juvenis, vários deles em parceria com o desenhista Jô Oliveira. Guido provavelmente está preparando alguma surpresa. Faz tempo que não publica nada.

Outro desaparecido é o Jason Tércio, autor de um belo romance sobre a vida dos brasileiros em Londres, num tempo em que a polícia londrina não assassinava brasileiros - Pão de queijo em Hyde Park, título que numa edição posterior ele mudou para A pátria que me pariu. O caso desse é ainda mais misterioso, porque ele voltou para Brasília depois de morar alguns anos no Rio de Janeiro, onde escreveu e organizou vários livros sobre o cronista Carlinhos Oliveira. É duplamente desaparecido.

Tércio também estava no Martinica naquela noite, e foi visto em animada conversa com Guido Heleno. Tércio é outro de meus mais antigos amigos de Brasília, e permaneceu nessa condição mesmo na época em que, durante acaloradas discussões, defendia com unhas e dentes o voto em Lula, que deu no que deu. Tércio me foi apresentado pelo Menezes y Moraes, mas esse é desaparecido nato. Não costuma aparecer nem em lançamentos de livros, e pelo jeito vai continuar assim
.

Livraria Cultura

Além das livrarias citadas no post "Pontos de venda em Brasília", o Arqueolhar também pode ser adquirido na Cultura do Casa Park. Dessa forma, o livro fica disponível para todo o Brasil pelo site da Livraria Cultura (www.livrariacultura.com.br). É uma opção para quem estiver fora de Brasília, embora esteja prevista a sua distribuição por uma ampla rede de livrarias.

Pontos de venda em Brasília

As livrarias listadas a seguir serão as primeiras de Brasília a receber o Arqueolhar. De acordo com informações da Distribuidora Arco-Íris, todas essas livrarias terão o livro a partir de segunda-feira, 3 de outubro. Sugiro aos amigos e interessados que telefonem antes para se informar, e solicito encarecidamente que me comuniquem imediatamente qualquer dificuldade ou contratempo. Usem o telefone 9673-2334, o e-mail alexandre.marino [arroba] click21.com.br, ou simplesmente a caixa de comentários abaixo do texto. Agradeço a todos.

Café com Letras / 203 Sul
3322-4070, 3322-5070
Cotidiano / 201 Sul
3224-3439
Entrelivros / 406 Norte
3202-0010
Esquina da Palavra / 406 Norte
3039-7979
Livraria da Rodoviária
3224-9808, 3224-9850
Livraria do Chico / UnB-Minhocão
3307-3254
Nobel / Gilberto Salomão
3364-5457
Nobel / Pátio Brasil
3224-5294, 3321-9012
Quiosque do Ivan / Conic
3225-2832

Um cenário









O cenário acima é a Praça da Matriz de Passos, terra natal deste escriba e locação, às vezes real, às vezes imaginária, dos poemas do livro Arqueolhar. É uma bela cidade, apesar dos atentados em nome de um suposto progresso. A foto acima, por exemplo, foi feita de forma que as árvores escondessem um edifício horroroso, que sufoca o belo visual da igreja.

Sempre um Papo

Próximo evento na agenda: lançamento do Arqueolhar em Belo Horizonte, dia 24 de outubro, segunda-feira, na sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, no Projeto Sempre um Papo. E muito bem acompanhado: Luiz Turiba, que lançará seu Bala. Beleza!

A festa!

Festas são feitas de ausências inesperadas e presenças surpreendentes. Foi assim o lançamento de Arqueolhar em Brasília, ontem, no Café Martinica. Alguns amigos aguardados não apareceram, por razões circunstanciais. No entanto, houve muitas presenças improváveis, amigos escondidos mostraram a cara, pessoas se ofereceram a novas amizades. Muita gente, muita gente mesmo, passou pelo Martinica entre as 18h, antes do horário marcado, até por volta de 1h, já dia 28, quando saímos. Lá esteve o poeta Fernando Mendes Vianna, com seu brilho especial; Anderson Braga Horta chegou a ser visto, mas logo desapareceu; Ronaldo Cagiano também passou rapidamente. Velhos amigos das redações de jornal, como Márcia Turcato, Antonio Marcello, João Alberto, Ney Flávio, Gilson Euzebio, Marba Furtado. Uma reunião inusitada: a turma de Passos, que eu não via há anos - Rosângela, Willian, Anival, Paulo Amaury, Urbano e o violonista Eustáquio Grilo. Vamos promover novos encontros! Vera Americano me emocionou com os comentários sobre alguns poemas. Caloro representou os amigos do Liga Tripa, agora em fase internacional, em turnê pela Espanha. Marcelo Sahea, que eu só conhecia virtualmente, trouxe dois simpáticos presentes: seu livro Carne Viva e um poema, rascunhado num guardanapo, inspirado na leitura do Arqueolhar. Pepê Rezende, editor do Pensar, caderno semanal do Correio Braziliense. Taisa atrasou, mas não faltou. Sérgio de Sá, autor do texto de orelha do livro, interrompeu os preparativos de sua mudança para a Argentina. Sylvia Cintrão, Luís Martins, Margarida Patriota, Angélica Torres. Velhos amigos, Wande e Julie. Ganhei também, do Salomão Sousa, um exemplar da Revista da Academia Brasiliense de Letras. Fiquei feliz com a presença da Carmen Luiza. Aninha e Ricardo Pedreira, que já havia lido o livro e escreveu a respeito na Roteiro Brasília. E o pessoal do Centro de Documentação da Câmara, especialmente a Kátia, que levou flores amarelas em nome dos amigos da Ceate. Fernando Marques, Ronaldo Fernandes, Wilson Rossato, Joilson, Jules Queiroz... Kido Guerra, que renovou a proposta para tomarmos uma Westmalle. O pessoal da Tia Nana e o sempre impagável Vinicius, com a Adriana e o Octávio, que deu uma canjinha de violão no final da festa. O pessoal da LGE. E o povo do Martinica, especialmente Joel e Adeildo - e, é claro, Capeta, atração turística de Brasília. Ufa! Se você leu até aqui, deve estar sem fôlego. E a maioria das pessoas presentes eu nem citei. Mas agradeço a todos.

É hoje!

Estarei logo mais, a partir das 19h, lançando Arqueolhar no Café Martinica, na 303 Norte. Quem estiver em Brasília, apareça. Quem estiver fora, pegue um avião e apareça também... Quem não puder vir, aguarde. Novos lançamentos estão sendo programados. Agradeço a presença de todos, e àqueles que prestigiarem o evento espero retribuir com boa poesia.

Roteiro Brasília

O jornalista Ricardo Pedreira publicou na revista Roteiro Brasília, edição 82, uma belíssima matéria sobre Arqueolhar. Leiam a seguir.

Arqueologia poética
Uma inspirada viagem pelo tempo e pela memória

O jornalista e poeta Alexandre Marino conta que seu quarto livro de poesias, Arqueolhar, começou a surgir numa viagem que fez à cidade natal, Passos, em Minas Gerais. Ele resolveu fotografar pessoas, objetos, ruas, casas - tudo o que lhe lembrava a infância e a adolescência. Veio então idéia de juntar essas imagens e poemas num livro em que faria uma espécie de "arqueologia poética". Mas depois, numa sábia decisão, entendeu que devia publicar apenas os poemas.

Poderia ser um livro muito bonito, com poemas e fotos dialogando entre si. Mas as imagens acabariam por "contaminar" os poemas, influenciando e - quem sabe - empobrecendo sua leitura. É que a poesia de Alexandre é tão vigorosa e rica que merece ser lida apenas dessa forma - como poesia.

Para muita gente, literatura é a mais nobre das artes por ser aquela que melhor instiga a imaginação, que abre um campo de possibilidades, que mais nos leva a criar junto com o autor. E a poesia seria o supra-sumo da literatura, por dar às palavras significados infinitamente mágicos, de riquíssima diversidade, que potencializam sua beleza.

Assim, mais do que qualquer outra manifestação artística, cada poema é uma experiência única para cada pessoa. Isso, naturalmente, só acontece com poesia de qualidade, aquela em que as palavras, o ritmo e a sonoridade se somam num conjunto a serviço da emoção, que estabelece um fio encantado com o leitor.

É o que faz o Arqueolhar de Alexandre Marino.
A arqueologia trabalha nas várias camadas do solo para investigar o passado. A arqueologia poética de Alexandre não olha apenas o passado, mas busca nas várias camadas e dimensões da memória a percepção que ele tem do mundo. É uma viagem muito pessoal em que o leitor embarca levado pela emoção que transborda das palavras.

A passagem do tempo - intangível e misterioso - e a força imaginativa da memória são a matéria prima do livro. Diz ele num poema: "Diante do espelho, o reflexo/do relógio da sala:/o tempo corre inverso/e a si mesmo devora./Digere meu pensamento/e o que resta é memória".

Quando olhou no espelho, Alexandre não buscou o reflexo, mas a reflexão. Neste seu quarto livro, o poeta está maduro, no pleno domínio da técnica a serviço da emoção. As lembranças da cidade, da família e da infância são elementos para uma tentativa de entendimento da vida e do mundo.

Arqueolhar é poesia na veia e chega rápido ao coração. Será lançado no dia 27 de setembro, a partir das 19h, no Café Martinica. Chegue lá e veja o que nos diz o poeta: "Ninguém sabe a história inteira./Evocam-se vazios invulneráveis./O tempo é feito de destroços".

Poema

O poema que se segue foi publicado, com grande destaque, na contracapa do caderno Pensar, do Correio Braziliense deste sábado, 24/09. Agradeço aos editores e perdôo um pequeno erro: a ausência de um verso, na quinta estrofe.

Arqueologias

As infinitas casas dentro de uma casa.
Incontáveis cômodos, entre corredores
e labirintos.
Passagens secretas,
quartos abandonados,
paredes falsas
por onde fantasmas navegam seus instintos.


No banheiro, sinais de uma presença
sem testemunhas.
Um nome proibido e seu vazio.
O perfume de sabonete Labas
e a gastura de fincar-lhe as unhas.


As gavetas onde o pai esconde as amantes,
uma flor seca entre as páginas do caderno,
as janelas invisíveis
onde mãe e filhas se debruçam para sonhar,
uma bola que nunca mais voltou à terra
e um muro que limita três mistérios.


E há outra casa e dentro ainda outra,
onde plange um violão doente de cupins,
um violão que se atira ao quintal
em noites de vendaval,
abre cordas e peito à ventania
e desperta um morto no jardim
para a última cantoria.


Mas há outras casas, e outras
enterradas sob a alvenaria,
onde se ouve o amor dos gatos no porão
e seus ecos no coração de uma tia
em eterna vigília no fogão,
enquanto chegam as notícias
à mesa da cozinha.


E no guarda-roupas do último quarto,
um espelho esclerosado
reflete sorrisos senis de crianças mortas,
na escuridão do dia ensolarado.


Ainda entre as paredes de outra casa escondida,
uma cortina veste o rosto da senhora arrependida,
e no oratório, santos expiam culpas
ouvindo confissões das filhas de Maria.


Mas há outras sombras soterradas
sob os alicerces de tantas epigamias,
entre ladrilhos rotos e canteiros d´alface,
jabuticabas maduras e rosas ressecadas,
o cão de guarda farto de fobias.


Sob a terra, vermes se embriagarão
com os restos da adega feita em lágrimas
e os suores de mortais enquanto vivos.


Não haverá poças após as chuvas,
frutas a colher, pássaros nos fios.
Não vou chorar pelo tombo na escada.
Não haverá escadas.
Haverá o espanto dos arqueólogos
ao desenterrar
entre choros
o meu sorriso
.


Um poema


Velho barco

Mensageiro dos deuses da chuva,
onde navegará o velho barco
enlouquecido de notícias
que zarpou
sob a primeira tempestade?


Cargueiro de promessas e pecados,
lotados os porões daquilo que me afoga,
ousará o velho barco,
à deriva de outros sonhos,
salvar do naufrágio
o néscio navegante?




Prefácio [1]

Arqueolhar tem prefácio assinado a quatro mãos por Maria Esther Maciel e Floriano Martins, que abordam alguns aspectos do livro e de minha poesia num texto em forma de diálogo.

O trecho que se segue é de Floriano.

“O livro não se descuida um só momento da forma, do esmero com a linguagem, de seu embate com os abismos rítmicos e o bailado da versificação. O mais cativante é que nenhum dos objetos de sua construção é refém dos demais, que não há um imperativo de destaque, seja do argumento, da forma, do ritmo, seja do passado, do presente, do futuro. Apenas aparentemente o livro se organiza dentro do olhar, pois o faz com todos os sentidos.”

Poeira e diversão

Há cerca de cinco anos ocorreu-me a idéia de fuçar em antigos baús abandonados, retirar de lá alguns pedaços perdidos de infância, velhos esqueletos, bichos hibernados, caminhos esquecidos. Começou assim a grande aventura de planejar e escrever o Arqueolhar. Transformei em poesia o meu gosto pela poeira. E para aguçar meu olhar míope, ainda mais que era brumoso o território a observar, fiz mais de uma centena de fotografias de gentes, recantos, pedras, brinquedos velhos, amuletos, apetrechos, instrumentos. E essas imagens também se fizeram poesia. Mas nada de saudade. Foi uma escavação arqueológica. Arqueólogos sentem saudade dos objetos que desenterram? Poetas também não. Poetas se divertem.

Lançamento!!!!!!!!

Arqueolhar terá sua primeira festa de lançamento em Brasília no dia 27 de setembro, terça-feira, a partir das 19h, no Café Martinica (CLN 303, bloco A, loja 4, Asa Norte, tel. 3326-2357 ou 3327-6608).

Anote em sua agenda! Sua presença é muito importante.

E continue navegando por aqui. A partir de hoje, as atualizações serão, no mínimo, diárias.

Um poema


O oboé


A sombra de um oboé
junto aos cacos
de um candelabro,


A música do tempo
nessas tardes de silêncio,

O espectro do campanário,
o sorriso dos mortos,
entre paredes demolidas
e sua abstrata aspereza,


As serestas,
o silvo do vento
e das calmarias;


O suspiro
das noites de tristeza,


A alma do oboé,
prisioneira do antiquário,
e seu choro
quando sopra a ventania.

O livro

Arqueolhar será publicado em setembro, numa parceria entre o selo do autor, Varanda Edições, e a editora brasiliense LGE, que lançou mais de 300 títulos de literatura nos últimos três anos e tem levado alguns dos escritores de Brasília às livrarias das principais cidades brasileiras.
Arqueolhar reúne 40 poemas em que este autor faz uma (re) leitura do universo de sua infância, com um olhar maduro - ou "arqueológico", como prefere. Sem intenção nostálgica, Alexandre Marino se inspira em objetos, lugares e personagens que o marcaram para, como disse a escritora e crítica literária mineira Maria Esther Maciel, "desenterrar traços, imagens, sensações, experiências de uma infância perdida mas que, reimaginada, se justapõe ao mundo presente, reconfigurando-o".
Maria Esther Maciel assina a quatro mãos com o também escritor e crítico cearense Floriano Martins o prefácio de Arqueolhar.