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[história afetiva] PROTÓTIPO Nº 5

 “Fique por dentro da literatura jovem deste país: leia e passe pra frente”, clamava o texto publicado na primeira página da quinta edição de Protótipo, lançada em agosto de 1973, apenas dois meses após a edição anterior. A revista estava a todo vapor. Elogiada pela imprensa especializada, recebia cartas, livros e colaborações de várias regiões do país e a turma de escritores do grupo conquistava prêmios literários.

O texto da primeira página mostrava um pouco do currículo desses autores, listando alguns dos prêmios conquistados em concursos e festivais de vários estados brasileiros. Definitivamente, a turma da Protótipo rompia as fronteiras de Passos, cidade com pouco mais de 50 mil habitantes no sudoeste de Minas Gerais, onde não se fazia uma ideia exata dos estragos causados pela ditadura militar país adentro.

Novos autores apareciam pela primeira vez nas páginas da quinta edição da Protótipo, que trazia na capa um desenho deste escriba. Mas o expediente registrava uma sentida ausência: Carlos Anselmo Parada, um dos fundadores, se afastou da revista, por discordar de alguns métodos adotados pelo grupo. Posteriormente, ele criou outra, Ardeia, de orientação mais jornalística e cultural, voltada para questões locais.

Neste quinto número, publicaram, pela primeira vez na Protótipo, os autores Geraldo Rezende e José Francisco da Silveira (Guaxupé-MG), Heber Fonseca Santos (Recife), Susete de Lourdes (Passos), Ronaldo Botrel (Belo Horizonte) e Leônidas Azevedo Filho (Salvador). Entre os escritores que não pertenciam ao grupo, mas se tornavam frequentes nas páginas da revista, estavam os paranaenses Domingos Pelegrini e Rui Werneck de Capistrano.


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[história afetiva] PROTÓTIPO Nº 4

O quarto número da revista literária Protótipo foi lançado em junho de 1973, e o sucesso das edições anteriores, que atraíram notas, artigos e reportagens em grande número de jornais e revistas, deu uma certa segurança ao grupo para compreender que nossos textos já rompiam as fronteiras da cidade de Passos. No editorial, Antonio Barreto fazia referências ao “país em que as revistas literárias não passam do número três...” e onde uma cruel ditadura militar “ceifava as manifestações culturais ao alvorecer”.

Esta edição teve na capa um desenho de Marco Túlio Costa, um dos escritores do grupo. No expediente, um dado curioso: havia o diretor geral, o diretor executivo, o tesoureiro, o departamento de vendas, o departamento de propaganda, o departamento de intercâmbio; mas na verdade, todos os integrantes eram escritores e publicavam contos e poemas nas páginas da revista. Até hoje não entendi o propósito dessa divisão do grupo em cargos burocráticos, já que todos faziam de tudo. Nenhum de nós saberá explicar isso.

Nessa época, Antonio Barreto já se mudara de Passos para Belo Horizonte, onde se empregou numa pequena gráfica montada pelo também escritor Jefferson Ribeiro de Andrade, a Copibel. Jefferson editava uma revista semelhante à Protótipo, Bel´Contos, e ambas se tornaram revistas irmãs. Barreto datilografava todos os textos em estêncil eletrônico, e outros integrantes do grupo da Protótipo cuidavam das ilustrações, feitas da mesma maneira trabalhosa e rudimentar das edições anteriores, com estilete sobre o estêncil.

Além dos autores do grupo, esta edição de Protótipo também abriu suas páginas a outros autores, como Carlos Verçosa e J. Cristiniano, de Londrina (PR), Maria Aparecida Negrinho, de Guaxupé (MG) , e Carlos Alexander Mínimo, de Passos. 


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[história afetiva] PROTÓTIPO Nº 3

Nossa turma começou o ano de 1973 embalada pelo sucesso da revista literária Protótipo, e em maio lançamos o terceiro número, com capa de Carlos Parada. Esta edição mantinha o formato de 21x15 cm, inaugurado na anterior, lançada em março, e os textos foram datilografados sobre o estêncil em máquina de escrever elétrica, melhorando a qualidade gráfica. Mas o processo de impressão em mimeógrafo a tinta era o mesmo das primeiras edições. O comércio de Passos continuava apoiando, e o interesse pela revista, entre professores e estudantes, continuava crescendo.

Se o sucesso da Protótipo nos trazia orgulho, também trazia aborrecimentos. Antonio Barreto, que assinava como diretor-geral da revista e fazia o serviço militar, foi convocado pelos três sargentos do Exército que administravam o Tiro de Guerra local a dar explicações sobre a revista, e teve que lhes apresentar uma série de textos que preparávamos para esta edição. Os militares, uma espécie de versão linha dura dos Três Patetas, pareciam deslumbrados com o clima de terror instalado no Brasil pela ditadura, e queriam fazer em Passos seu próprio departamento de censura. Felizmente o Barreto conseguiu driblá-los com a mesma destreza com que fechava o gol do time do Colégio Estadual, e não houve mais incidentes.

Cinco meses após o lançamento do primeiro número, já havíamos tomado conhecimento de grande número de publicações que fizeram referência à 
Protótipo, incluindo revistas e jornais de circulação nacional. Esta terceira edição reproduzia um desses textos, aquele que maior orgulho nos trouxe: assinado pelo escritor e desenhista Ziraldo, foi publicado na coluna Dicas do jornal carioca O Pasquim, numa edição histórica, o nº 200.

O Pasquim era o campeão de vendas da imprensa alternativa, que se desenvolveu no Brasil numa época de fortes ataques da ditadura militar à liberdade de expressão. Tinha no expediente grandes nomes do jornalismo brasileiro – Ziraldo, Ivan Lessa, Jaguar, Paulo Francis, Millôr Fernandes, entre outros. Crítico e irreverente, marcou época por ter inovado a linguagem jornalística, e muitas de suas edições causaram furor. Na coluna Dicas, publicada nas páginas finais, os jornalistas escreviam textos curtos sobre os mais variados assuntos.

Sob o título Nem tudo está perdido, a nota do Pasquim rasgava seda sem dó para a Protótipo, e o jornal, que comprávamos todas as semanas na banca de revistas que funcionava do lado oposto da Praça da Matriz, circulou de mão em mão na sede da União Passense dos Estudantes Secundários (Upes), também sede da revista, antes que se esgotasse no ponto de vendas. “A televisão não conseguiu destruir completamente a província”, dizia a nota. “Recebo de Passos, no interior de Minas, uma revista impressa lá, feita lá, bolada lá. Com contos, poemas experimentais e ensaios. Uma revista literária, sim senhores. Dentro dos moldes mais perfeitos.”

Assim como a edição anterior, o terceiro número da Protótipo se abriu a autores que enviaram colaborações. Assim, publicamos Rui Werneck de Capistrano, de Curitiba; J. Cristiniano, premiado em concurso literário da Universidade de Campinas, e Domingos Pelegrini, que na época ainda acrescentava um “Jr.” ao nome. Do grupo que fundou a revista, esta edição trouxe contos e poemas de Iran Freits´mach, Marco Túlio Costa, Antonio Barreto, Roger Leinad, Carlos Anselmo Parada, Paulo Regissilva e Alexandre Marino. 


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[história afetiva] PROTÓTIPO Nº 2

Lançamos em março de 1973 a segunda edição da revista literária Protótipo, que a essa altura da vida já reunia uma coleção de histórias, muito além daquelas narradas em contos e poemas com que preenchemos suas 70 páginas. A primeira novidade apresentada neste número era o formato, 21 x 15 cm, metade da primeira edição. Entre uma e outra, alguns de nós conquistamos prêmios literários, viajamos, conhecemos gente interessante, a literatura era um mundo novo que abria suas portas. 
 

Com capa de Antonio Barreto, assim como o primeiro número, Protótipo se apresentava como “revista literária de Passos”. O expediente informava que a revista era “idealizada e editada por jovens de 16 a 20 anos, pertencentes ao Grupoema (bando de chimpanzés criadores em busca do meteoro incandescente ou passarinhos do quintal com fome de prosa e verso)”. 

A cidade de Passos, sudoeste de Minas Gerais, parecia manter a perplexidade com que recebeu a Protótipo, que circulou pela primeira vez em dezembro de 1972. Ao abrigo da União Passense dos Estudantes Secundários (Upes), nós, aprendizes de escritores, estávamos cheios de disposição para mostrar nossa literatura aos conterrâneos, e até mesmo fora dos limites da cidade e do estado. O comércio local apoiou com patrocínio e material – Ótica Santa Luzia, Casas Buri, Bazar Americano, Casa das Máquinas, Dragão dos Pneus eram alguns dos estabelecimentos que viabilizaram a edição.

Mas a grande colaboração recebida pelo grupo foi um texto do professor de Português de maior prestígio na cidade, Francisco Soares de Melo, publicado no jornal local O Sudoeste. “Trabalho de vanguarda, procurando abrir caminho novo neste ´mare magnum´ que é o movimento artístico atual”, disse o professor Chiquito, como era conhecido, referindo-se à primeira edição de Protótipo. Ao comparar a revista passense com a Verde, de Cataguases, também em Minas, que revelara, décadas antes, escritores como Rosário Fusco e Ascânio Lopes, ele dizia que “como esta marcou época e lançou escritores (...), o mesmo poderá acontecer com Protótipo, se esses moços encontrarem apoio e orientação que merecem.” O artigo foi republicado na contracapa da segunda edição de Protótipo.

A impressão da revista era precária. Os textos eram datilografados sobre estênceis de mimeógrafo a tinta, e as ilustrações exigiam habilidade e paciência, porque não eram feitos a lápis, mas a estilete, com os quais os estênceis deviam ser perfurados. O mesmo processo dava origem aos textos. Os tipos das máquinas de escrever perfuravam as matrizes, ao se datilografar sem o uso das fitas. Esta segunda edição talvez tenha apresentado uma das melhores seleções de contos e poemas da primeira fase da revista, mas foi certamente a de pior qualidade gráfica. Tudo por culpa da minha máquina Olivetti Studio 44, novinha, que eu ganhara de presente de minha mãe e que durante anos foi minha ferramenta literária. Os tipos dela eram muito bonitos, porém pequenos, o que prejudicou a perfuração dos estênceis, tornando a impressão cheia de falhas. 


Nesta edição, nosso grupo começou a se abrir para outros colaboradores, como o paranaense Rui Werneck de Capistrano e o baiano Daniel Cruz Filho. Quando nos reunimos no salão da Upes para selecionar os textos, as cópias enviadas por Rui Werneck circularam de mão em mão, não só para leitura, mas também porque queríamos ver de perto o resultado da reprodução nas máquinas xerox. Creio que na cidade só existia uma dessas máquinas, e para fazer cópias usávamos o papel carbono.

Eis aqui a relação completa dos autores publicados nesta segunda edição da Protótipo: Antonio Barreto, Marco Tulio Costa, Alexandre Marino, Paulo Regissilva, Iran Machado, Carlos Parreira, Ricardo Donabella, Carlos Parada, Rogério Daniel, Rui Werneck de Capistrano e Daniel Dias Cruz Filho. Turma danada de boa! 


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[história afetiva] PROTÓTIPO, O COMEÇO

Em dezembro de 1972, circulou na cidade de Passos, sudoeste de Minas Gerais, a primeira edição da revista literária Protótipo. Publicava contos e poemas de um grupo de estudantes do ensino médio, ou ginasial, como se dizia na época, com idades entre 16 e 19 anos. O expediente da revista explicava: “(...) Objetivando a descoberta de novos valores, voltados para o mundo que nos cerca, em forma e conteúdo, o sempre/real mágico, correndo livre na imaginação de cada um: aquilo que desejaríamos criar ou estamos botando pra fora do corpo.”
 
A revista era patrocinada pelos comerciantes da cidade, aqueles que se sensibilizaram com a inquietação dos jovens – filhos, sobrinhos, filhos de amigos, ou simplesmente conterrâneos. Passos, localizada a 350 km de Belo Horizonte, por estrada não totalmente asfaltada, tinha uma população de 30 mil habitantes. O país vivia conturbado momento político e efervescente momento cultural. Jovens artistas de todo o país colocavam sua criatividade a serviço da resistência à ditadura militar. Protótipo despertou a atenção dos oficiais que administravam o chamado Tiro de Guerra, onde os jovens prestavam o serviço militar obrigatório. E também de professores e artistas da cidade.

 
Do expediente da revista constavam os nomes de Antonio Barreto, Carlos Parreira, Alexandre Marino, Iran Machado, Antônio Rogério Daniel, Carlos Parada, Paulo Régis da Silva, Marco Túlio Costa e Marise Pacheco. “Protótipo é nós. Nosso modo de exprimir o mundo presente. Aqui-agora, nos explodimos em estilhaços/bagaços, no interior das vísceras. Por favor, reaja. Faz de conta que te agredimos”, apelava o editorial. 

 
Na imagem que ilustra este texto, a reprodução da capa da primeira edição da Protótipo, uma raridade. A revista, que pretendia mostrar aos conterrâneos os primeiros passos dos futuros escritores passenses, rompeu os limites da província e foi comentada nos principais veículos de comunicação do Brasil. 


Algum tempo depois, em 1981, o escritor Glauco Mattoso, em seu livro O que é poesia marginal, da coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense, informava que Protótipo era uma das pioneiras do movimento da poesia marginal, ao lado da carioca O Feto.  Na época o rótulo de "marginal" para designar a mais recente geração poética brasileira ainda não estava assimilado pela cultura acadêmica, mas já era usado pelos autores, incluindo o próprio Mattoso. 
 
Um pouco da história de Protótipo será contada aqui, em capítulos. 


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Vinte anos de Martinho da Arcada

Fundado em 1782, o Martinho da Arcada, situado na Praça do Comércio, é o mais antigo café de Lisboa. Por lá circularam, entre outros clientes ilustres, Mário de Sá-Carneiro, Cesário Verde e Fernando Pessoa, que até hoje tem sua mesa reservada, e sobre ela uma xícara e alguns livros. Na parede, uma foto e um poema, redigido ali mesmo. Em outubro de 1987, um poeta brasileiro foi conferir o ambiente e receber fluidos do ilustre português, que espiritualmente ainda circula por lá. E voltou, exatamente 20 anos depois. É claro que o Martinho, do alto de seus 225 anos, não mudou muito nesse curto período. O que surpreende é que o poeta brasileiro, que lá tomou uma Sagres e guardou o rótulo como lembrança, também está muito bem conservado.

Guerrilheiros [2]

Mais um flagrante do grupo de guerrilheiros poéticos que espalhou seus versos pela Belo Horizonte do início dos anos 80. Li Egg (primeira à esquerda), Sérgio Fantini (de boné), Avanilton, Fátima e Raimundo Nonato, Marcos Lunán (de chapéu), Alexandre Marino (exibindo seu livro recém-lançado, Todas as Tempestades), Almir Rosa, Marco Bellini (encoberto) e Luci Soalheiro. A foto, de autor desconhecido, foi feita no campus da Universidade Católica de MG. Alô, poetas, dêem notícias!!!

Guerrilheiros


Aí está um grupo de guerrilheiros poéticos que andou agindo em Belo Horizonte nos anos 80, flagrados em pleno recital no campus da Escola de Belas Artes da UFMG numa tarde daqueles tempos. Em primeiro plano, Almir Rosa, posteriormente cognominado Almir Almas, e ao fundo os demais participantes - Avanilton de Aguilar, Sérgio Fantini e este escriba, entre outros (não pela ordem).

Sessão Nostalgia: turma da Upes

Esta foto foi encontrada num velho baú, dos tempos da Upes. Foi feita em 1972, lá em Passos, é claro. Quem não quiser aparecer nela, que se esconda... Da esquerda para a direita, este escriba, Carlos Parreira, Antônio Barreto, Antônio Rogério, Iran Machado e Carlos Parada. O troféu na mão do Rogério é um dos muitos que a entidade estudantil ganhou naqueles tempos. A camisa (só o Parada não veste o "uniforme") também é uma marca registrada da Upes. Os meninos foram fotografados no adro da Igreja Matriz, aparecendo ao fundo as Casas Pernambucanas. Ei, pessoal, estarei em Passos no dia 20 de maio, sábado, para lançar o Arqueolhar e repetirmos essa foto. O que acham? Qualquer comentário, podem clicar no ícone aí embaixo.