Um bom começo para um bom 2007

Vem aí 2007, trazendo esperanças e novas energias. 2006 passou, com perdas e ganhos. Lá se vai mais um pedaço de nós, mas nosso edifício pessoal recebeu mais alguns tijolos. Esperamos que 2007 nos surpreenda com boas notícias e a perspectiva de um mundo melhor, com mais tolerância, solidariedade e poesia. Muita saúde, inspiração e sorte a todos.

Minha contribuição para este início de ano será um novo livro de poemas, que começará a circular ainda em janeiro. Tiragem pequena, um presente especial para leitores escolhidos.

O vácuo



Brasília ganhou neste último mês de 2006 o Complexo Cultural da República, conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer no Eixo Monumental de Brasília. Foi aberto ao público a 16 de dezembro. Poderia ser uma das grandes notícias do ano, se não fosse um pequeno detalhe: o Complexo, formado por um Museu e uma Biblioteca, ambos monumentais, estão vazios. Ocos. Cheios de vácuo. O prédio da Biblioteca, com espaço para abrigar 500 mil volumes impressos, não tem um único livro sequer.

O Complexo ocupa 91,8 mil mestros quadrados, custou R$ 110 milhões e foi construído em quatro anos. Faz parte do projeto original de Brasilia, e fica próximo à Catedral e ao Teatro Nacional, dois cartões postais conhecidos no mundo inteiro. Bem ao seu estilo, o ex-governador Joaquim Roriz, recém-eleito senador pelo DF, construiu o Conjunto indiferente aos custos, da mesma forma como levantou quase 30 viadutos e pontes nos dois últimos mandatos. No entanto, em momento algum trocou idéias com sua equipe sobre o acervo dos dois edifícios - de onde viriam as coleções, as obras, os livros, como seria administrado.

Roriz já deixou o governo. Ficaram como herança dois belíssimos prédios, à altura dos demais monumentos da principal via de Brasília. Mas ficou, também a incômoda sensação de que vivemos num país de fachada, de aparências, sem grandeza, que não consegue compreender as suas reais necessidades de educação, de formação cultural, de compreensão do mundo e da humanidade.

Criação literária em debate no MinC

O Ministério da Cultura distribuiu Relatório sobre as discussões promovidas pela Secretaria de Políticas Culturais durante a Oficina Sobre Produção Literária, que reuniu, no dia 5 de dezembro, diversos escritores convidados. O objetivo: levantar subsídios para o Poder Público fomentar ou estimular a produção literária. Para os mais céticos, pode ser uma bobagem, medida burocrática sem resultados práticos. Mas nunca é demais acompanhar, até porque não se tem notícia de que o Governo tenha aberto portas, em outras ocasiões, para que escritores apresentassem reivindicações ou expusessem questões que os incomodam.

De acordo com Sérgio Fantini, um dos convidados, o Relatório reproduz as discussões com bastante fidelidade. Como se poderia esperar, foi um primeiro passo e não houve resultados práticos concretos, mas percebe-se que foram lembradas questões importantes. Como a intenção do MinC é traçar linhas gerais de uma política cultural para o Brasil, definida no Plano Nacional de Cultura (PNC), é bom que os escritores estejam atentos e possam encaminhar sugestões.

O manifesto “Temos fome de literatura”, redigido em 2005 pelo Movimento Literatura Urgente e assinado por mais de 180 escritores, foi o ponto de partida das discussões. O documento defendeu a inclusão da literatura nas ações públicas, a distribuição de bolsas de criação literária, promoção de programas de circulação de escritores pelas universidades e escolas de ensino médio, intercâmbios de autores latino-americanos e de países lusófonos, apoio a publicações literárias, entre outras ações.

Não se pode falar em estímulo à criação literária no Brasil sem falar no estímulo à leitura. O País tem alto índice de analfabetismo funcional, bibliotecas pobres e mal conservadas, baixíssima proporção de livrarias e um mercado editorial elitizado. Portanto, o investimento em educação, abertura de bibliotecas e enriquecimento do acervo das existentes, além de ações para o barateamento do livro, são medidas recomendáveis para que o escritor veja crescer o seu público, ainda que o resultado só seja perceptível a longo prazo.

Diante desses problemas estruturais, talvez a melhor contribuição da Oficina tenha sido o debate sobre programas de circulação de escritores em escolas, bibliotecas e feiras de livros pelos municípios do interior, o que colocaria autores em contato direto com os estudantes e despertaria curiosidade pelo seu trabalho, além de levar o objeto livro a um público maior. Esses programas são muito comuns no Rio Grande do Sul, patrocinados pelos governos estadual e municipais. O apoio à realização de feiras de livros no maior número possível de cidades, especialmente pequenas e médias, poderá compensar a inexistência de bibliotecas e livrarias, e conseqüente falta de convivência da população com o objeto livro. A presença de escritores nessas feiras, para palestras e debates, e o subsídio para a aquisição de seus livros estimularia a leitura e o trabalho do escritor.

Outra boa idéia apresentada na Oficina foi a da criação de uma agência nacional de fomento, nos moldes do CNPq ou da Capes. Assim como a distribuição de bolsas de criação literária, prêmios e programas de residências para escritores, poderia gerar um movimento criativo com repercussão na qualidade e no vigor de nossa literatura. A Oficina debateu ainda temas como a autonomia dos escritores, os males do dirigismo estatal e de mercado, o apoio das emissoras de TV, cooperativas de autores, a regulamentação da profissão do escritor (idéia felizmente rejeitada por todos), a realização de um censo nacional sobre criação, produção e distribuição editorial, etc. Certamente há concordâncias, discordâncias, controvérsias.

O mais importante é que todos os interessados participem da discussão. Para começar, solicitem a este escriba a íntegra do Relatório distribuído pelo Ministério da Cultura. Escrevam para
arqueolhar@gmail.com.

Participaram oito convidados: Fabio Weintraub, Fernando Reis, Francisco Foot Hardman, Gina Machado, Guiomar de Grammont, José Almino, Paulo Bentancur e Sérgio Fantini; do Ministério da Cultura, Elder Vieira e Jéferson Assumção. Do Núcleo de Redação do PNC, Sérgio Alcides foi o moderador e Daniel Hora tomou as notas para a elaboração do Relatório.

Jardim da Babilônia

Este minifúndio virtual comemora os 80 anos do poeta, jornalista e multiartista Reynaldo Jardim, figura histórica da fase de ouro do jornalismo brasileiro. Reynaldo faz aniversário no dia 13 de dezembro - a próxima quarta. Já no dia 11, segunda-feira, haverá no foyer do Teatro Nacional, em Brasília, a abertura de uma exposição multimídia, sarau poético-musical e exibição de filmes. Além disso, Reynaldo receberá o título de Cidadão Honorário de Brasília, concedido pela Câmara Legislativa do DF. Entre as muitas façanhas cometidas pelo poeta ao longo de seus 80 anos, está a criação do lendário Caderno B do Jornal do Brasil, nos anos 50, uma revolução permanente que o pobre e medroso jornalismo de resultados praticado hoje tem vergonha de recordar. Reynaldo foi também o criador do jornal O Sol, citado por Caetano Veloso na canção Alegria Alegria e tema do documentário O Sol - Caminhando contra o Vento, de Tetê Moraes e Marta Alencar, surpreendente e merecido sucesso recente do cinema nacional. Nascido em Curitiba e morador de Brasília há alguns anos, Reynaldo parece estar quieto no seu canto, mas mesmo assim foi a razão da criação da ARREY - Associação Recreativa Unidos dos Amigos do Reynaldo Jardim. Não é todo dia que um personagem desses chega aos 80!
[o título desta postagem foi tomado por empréstimo da matéria Reynaldo Jardim da Babilônia, de Luís Turiba, publicada na revista Roteiro Brasília]

Primeiras notícias da Oficina

O Ministério da Cultura divulga nos próximos dias um relatório sobre a Oficina de Produção Literária, promovido pela Secretaria de Políticas Culturais. Nessa primeira reunião, realizada na terça-feira, 5 de dezembro, o ponto de partida das discussões foi o manifesto "Temos fome de literatura", elaborado há dois anos pelo movimento Literatura Urgente e assinado por grande número de escritores de todas as regiões do País.

Os principais pontos do manifesto, debatidos ontem, são o incentivo à criação literária, com medidas como concessão de bolsas, promoção de caravanas de escritores para palestras em universidades, a interferência oficial na deficiente distribuição de livros no Brasil, entre outros assuntos.

A reunião foi fechada, mas o escritor mineiro Sérgio Fantini, um dos convidados, revelou a este escriba suas impressões e declarou-se otimista, pela maneira como as discussões estão sendo conduzidas. O objetivo dessa e futuras reuniões é definir propostas para o Plano Nacional de Cultura (PNC). Segundo Fantini, não houve grandes polêmicas e os participantes preferiram ouvir os relatos apresentados e, à medida do possível, enriquecê-los, com discussões equilibradas.

O sítio do Ministério da Cultura na internet não tem qualquer informação sobre esse assunto. É uma pena, porque poderia ser uma fonte de consulta sobre o andamento dessa discussão. Também não seria mal se o Ministério abrisse um canal de debate público, para que outros escritores pudessem enviar sugestões para as pautas de novas reuniões. A democratização dessa discussão não deve se restringir ao convite a escritores supostamente representativos para reuniões fechadas. Boas idéias podem vir de longe, de cabeças desconhecidas.

Com exceção do poeta e editor Augusto Massi, os demais convidados compareceram. Lá estiveram os escritores Fábio Weintraub, José Almino, Guiomar de Grammont, Paulo Bentancur; o historiador e crítico literário Francisco Foot Hardman, e a consultora cultural Gina Guelman Gomes Machado, além de Sérgio Fantini, representante do Movimento Literatura Urgente.

A oficina foi coordenada pelo poeta Sérgio Alcides, integrante do Núcleo de Redação do PNC. Élder Vieira, coordenador executivo do Plano, e Jeferson Assunção, do Núcleo de Redação, também participaram. Estão previstas novas reuniões, ainda sem data marcada, com a participação de outros escritores.

Literatura no PNC

O Ministério da Cultura promove nesta terça-feira, 5/12, em Brasília, uma Oficina sobre Produção Literária, com a finalidade de levantar subsídios para a redação do Plano Nacional de Cultura. Esse documento pretende traçar as linhas gerais de uma política cultural para o Brasil. De acordo com informações oficiais, a criação literária deve ser pensada como parte das políticas públicas de estímulo à leitura, acesso ao livro e promoção da literatura brasileira dentro e fora do País.

Escritores como Ademir Assunção e Cláudio Daniel levantaram essa discussão há dois anos, propondo o movimento Literatura Urgente e lançando um manifesto, apoiado por grande número de escritores, em que se reivindicava uma política pública para a Literatura, e não apenas para o livro. Há uma grande diferença.

Para a reunião desta terça, algumas questões foram colocadas. O Estado tem algum papel a desempenhar no estímulo à criação literária? Programas de apoio ou subsídio seriam favoráveis à atividade do escritor? Nesse caso, como fica a independência? Quais as alternativas para o estímulo à criação literária no Brasil? Como seria um programa público com esse fim?

Há muito o que discutir, e é ótimo que esse debate seja proposto. Para esse primeiro encontro, foram convidados os escritores Augusto Massi, Fábio Weintraub, José Almino, Guiomar de Grammont, Paulo Bentancur; o historiador e crítico literário Francisco Foot Hardman, e a consultora cultural Gina Guelman Gomes Machado. Também participa meu amigo Sérgio Fantini, poeta e ficcionista, um dos integrantes do Literatura Urgente.

Sempre defendi que o maior estímulo à criação literária é uma política consistente de formação de leitores, com a necessária multiplicação de bibliotecas bem administradas, renovadas e acessíveis à população. Existem iniciativas incipientes nesse sentido. Mas a ação do Ministério revela ao menos uma intenção de incluir a Literatura entre as atividades reconhecidamente importantes para o enriquecimento cultural do País, assim como a música e o cinema. Espera-se que os escritores brasileiros estejam atentos e contribuam para essa discussão.

Cagiano em BH

O escritor Ronaldo Cagiano, mineiro radicado em Brasília, estará em Belo Horizonte neste sábado, 2/12, lançando seu livro de contos Dicionário de Pequenas Solidões, na Livraria Quixote (Fernandes Tourinho, 274, Savassi), a partir das 11h. O livro dele é publicado pela Língua Geral, nova editora criada pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa. Ele estará acompanhado de Christiane Tassis, que autografa o romance Sobre a Neblina, da mesma editora. Ronaldo e Christiane já lançaram seus livros no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na semana passada, Dicionário de Pequenas Solidões levou grande público à livraria Café com Letras, de Brasília. Boa sorte aos livros, aos autores e à editora.

A verdade sobre o Domínio Público

O portal Domínio Público, do Ministério da Educação, tem um acervo de 25.875 obras literárias e outras, nos formatos de texto, som, imagem e vídeos. Livros de Machado de Assis e Shakespeare, por exemplo, estão disponíveis para os leitores, e podem ser baixados na íntegra. Também há um banco de 2 mil teses universitárias. Criado em novembro de 2004, com um acervo inicial de 500 obras, o portal já recebeu quase 3 milhões de visitas. Apesar desses números significativos, há um "hoax" que circula insistentemente na internet afirmando que o Domínio Público será desativado por falta de acessos. Alguns jornalistas acreditam nessas mensagens e as repetem, sem checar. Foi o caso de Fausto Wolff, no Jornal do Brasil. O Domínio Público é uma excelente contribuição para a leitura no Brasil, um país onde as editoras investem em livros cada vez mais caros e tiragens cada vez menores, como se pobre não tivesse o direito de ler.
http://www.dominiopublico.gov.br/

ANE lembra Mendes Vianna

Nesta terça-feira, 21, a Associação Nacional de Escritores (ANE), sediada em Brasília, promove uma leitura de poemas de Fernando Mendes Vianna, em homenagem ao poeta, morto em setembro. Participarão Anderson Braga Horta, Joanyr de Oliveira e vários outros convidados, incluindo este escriba. O evento acontece na sede da ANE, SEPS 707/907, Lote F, próximo à Cultura Hispânica, a partir das 20h.

Literatura lusófona

O escritor Ronaldo Cagiano está radiante com seu recém-lançado livro Dicionário de Pequenas Solidões e com a editora que o publica, Língua Geral, criada pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa. No dia 31 de outubro, ele foi ao Rio de Janeiro participar da festa de lançamento da editora, que atraiu à Casa de Cultura Laura Alvim um grande número de visitantes ilustres e uma multidão de mortais comuns. Uns e outros foram conhecer os primeiros frutos de uma bela idéia de Agualusa - divulgar obras de escritores de todos os países de língua portuguesa, aproximando países e culturas.

Nesta quarta-feira, 22, Cagiano lança o livro em Brasília. Será no Café Com Letras (CLS 203), a partir das 19h30. Depois vai a Belo Horizonte e outras cidades.

Mais uma edição do Curto Circuito Poético

Neste sábado, 18 de novembro, Ivan Presença, Luís Turiba e Paulo Cac voltam a agitar o Conic, ou Setor de Diversões Sul, em Brasília, com mais uma edição do Curto Circuito Poético. O Conic, que abriga cafés, bares, escritórios, cinema pornô, bancos, sex-shops, teatro, faculdade de artes, salas de massagem, além do Quiosque Cultural do Ivan, é a verdadeira democracia popular brasiliense. E sempre no segundo sábado do mês, reúne um grupo eclético de músicos, poetas e performáticos em geral para um sarau que costuma atrair os diversos exemplares da fauna que circula por lá. Aproveitando que dia 18 é véspera do Dia da Consciência Negra, o Curto Circuito Transformará o Conic num Quilombo Poético, com a participação da poeta e atriz afro Cristiane Sobral. Primeria atriz negra formada pela UnB e professora de Artes Cênicas da Faculdade Dulcina de Moraes, ela vai animar o público com sua interpretação marcante. Participarão, também grupos de hip-hop do Varjão e da Ceilândia e os Radicais Livres, grupo poético de São Sebastião. Mais de 50 poetas das mais variadas tribos e estilos versejaram nas três edições anteriores do Curto Circuito Poético.

Poesia para unir Brasil e Argentina

Uma antologia bilíngüe de poesia contemporânea brasileira e argentina, com o objetivo de integração e intercâmbio de experiências estéticas entre os dois países, além de, é claro, divulgação mútua de obras e autores. Esta é a atual empreitada do escritor Ronaldo Cagiano, que selecionou 78 poetas, muitos dos quais de Brasília - um deles é este escriba que lhes fala.

Entre os convidados, constam nomes como Affonso Romano de Santanna, Anderson Braga Horta, Claudio Sesín, Daniel Chirom, Alejandro Acosta, Donizete Galvão, Micheliny Verunschk, Fabrício Carpinejar, Miguel Sanches Netto, Eduardo Dalter, Enrique Traverso, Francisco Alvim, Francisco Kaq, Juan Gelman, Marcos Siscar, Reynaldo Jardim, Ruy Espinheira Filho, Whisner Fraga e Reynaldo Valinho Alvarez, para ficar em algumas amostras. Os textos serão traduzidos por poetas de competência reconhecida nessa arte, como Anderson Braga Horta, Jerônymo Rivera e Ronaldo Costa Fernandes.

O livro, a ser publicado pela Thesaurus, de Brasília, deve ser lançado por ocasião da Feira do Livro de Buenos Aires, em junho do próximo ano. Aliás, Ronaldo Cagiano participa ainda de outra empreitada com intenções de integração - seu livro Dicionário de pequenas solidões vai circular com o selo da Editora Língua Geral, criada pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa, voltada para autores lusófonos, com o objetivo de aproximar países e culturas de língua portuguesa. Autógrafos na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, no dia 31, terça-feira, a partir das 19h30.

O violão de Eustáquio Grilo

O violão mágico de Eustáquio Grilo estará em ação no próximo sábado, 4 de novembro, no Clube do Choro de Brasília (próximo ao Centro de Convenções), como convidado do Projeto Prata da Casa. Irmão, sobrinho e neto de músicos, Grilo é violonista clássico, fiel às raízes da música popular brasileira e latino-americana. Nascido em Passos (MG), é professor da Universidade de Brasília e da Universidade Federal de Uberlândia, além de ex-professor da Escola de Música de Brasília. Também é pesquisador da obra de Bach e do choro. Grilo também tem dado grande contribuição a espetáculos e discos gravados em Brasília, mas são raras as oportunidades de ouvi-lo. Mais uma razão para não perder esse espetáculo. Ele promete tocar um pacote de peças originais, incluindo a Tocata Cici e Tiloca, homenagem a seus pais. O espetáculo começa às 21h30. Informações e ingressos antecipados: 3327-0494. Estaremos lá!

Guimarães Rosa no Correio Braziliense

Duas biografias de Guimarães Rosa e um romance inspirado em sua obra são os temas de extensa reportagem que publiquei hoje, sábado, 28/10, no caderno Pensar do Correio Braziliense. A primeira biografia é uma reedição - Joãozito, a infância de João Guimarães Rosa - de autoria de Vicente Guimarães, tio e amigo de infância do escritor, ele próprio autor de literatura infantil, mais conhecido pelo pseudônimo de Vovô Felício. A segunda biografia ainda está no prelo da editora brasiliense LGE - Sinfonia Minas Gerais, um trabalho volumoso do escritor goiano Alaor Barbosa. E o terceiro livro é o romance Nhô Guimarães, do baiano Aleilton Fonseca. Os textos ocuparam 5 páginas do Pensar. Foi uma leitura proveitosa e um trabalho gratificante.
[Leia no Sítio do Alexandre Marino a íntegra da reportagem]

Um encher de alma

A figura e a obra do poeta Fernando Mendes Vianna, ambas refinadas e provocadoras, foram relembradas, celebradas e recitada por poetas, professores universitários, cantores e outros manifestantes, num sarau de lágrimas e emoções. Fernando foi a razão e a fonte de energia do 3o. Curto Circuito Poético, realizado no sábado, 14 de outubro, no Quiosque Cultural do Ivan, no Conic, área folclórico-popular de Brasília. O evento ocorre sempre no segundo sábado de cada mês.

Fernando "era um encher de alma", bem definiu o editor Victor Alegria. Depois dos emocionados comentários do Victor, os presentes tiveram o privilégio de ouvir leituras de poemas do Fernando, incluindo alguns inéditos, que desde a sua morte, em setembro, vêm saltando de seus cadernos de poetar.

A artista plástica Tânia Mendes Vianna, viúva do poeta, cedeu os trabalhos inéditos para a leitura. Seu filho Rafael também esteve discretamente presente. A emoção uniu muita gente em torno do palco - a professora Mazé, da UnB; os poetas Nicolas Behr, Amneres, João Carlos Taveira, Walter Silveira, e o criador deste Blog [foto], além dos organizadores do evento, Ivan Silva, Luis Turiba e Paulo Cac.

Radicais Livres - No mesmo espaço, houve também a apresentação vivíssima, renovadora e inusitada do grupo poético Radicais Livres – jovens da cidade de São Sebastião que trabalham e buscam a cidadania por intermédio da música, do teatro e, principalmente, da poesia. Um show à parte, que começa a fazer diferença no mundo cultural do Distrito Federal.

Os Radicais Livres trabalham com a palavra como instrumento de comunicação artística há quase cinco anos. Todos moram na cidade de São Sebastião, a alguns quilômetros do Lago Sul. Lá, realizam saraus literários e performances artísticas todos os meses. O grupo, liderado pelo poeta Paulo Dagomé, é formado por jovens de grande criatividade, conscientes da força e da importância da arte e da cultura para a construção de um mundo melhor.

[Em breve, serão postadas aqui outras fotos do evento]

Pobre Caetano


Caetano Veloso livrou-se da perua que durante 15 anos atentou contra sua força criativa, mas não se livrou da mediocridade a que ela o relegou. Seu novo álbum, , é uma caricatura do outrora genial baiano que sacudiu a música e a cultura brasileiras. É uma pena.
Pensando bem, não dá para afirmar que Paula Lavigne (que, logo depois de se casar com o ídolo declarou numa entrevista que possuía nas mãos um produto de grande potencial e o transformaria numa fábrica de dinheiro) sumiu da vida de Caetano. As novas canções parecem falar quase sempre dela, ainda que seja para dizer que "cê foi a mor rata comigo".

Coisas assim: "Já chorei muito por você / também já fiz você chorar / agora olhe pra lá porque / eu fui me embora / você nem vai me reconhecer / quando eu passar por você." Ou esta pérola: "Eu sou homem / pele solta sobre o músculo / eu sou homem / pêlo grosso no nariz". É, você não acredita, mas é o Caetano.

O novo CD reúne 12 faixas dificílimas de atravessar. São melodias sem inspiração, letras ruins, arranjos medíocres. Pelo menos três faixas - Wally Salomão, Odeio e Homem - são impossíveis de ouvir até o fim. As outras você suporta, enquanto seu pensamento passeia pela estante em busca dos CDs dos bons tempos - Transa, Cinema Transcendental, Velô, Circuladô, Outras Palavras, Jóia, Cores Nomes, Qualquer Coisa... Quanta diferença!

E, para completar, a crítica musical fica babando diante de Caetano e não consegue mostrar que o reizinho está nu.

Curto-Circuito Poético: é sábado

A poesia volta a movimentar Brasília. Poetas, músicos, amantes das letras, atores e atrizes estarão reunidos para mais uma celebração da linguagem poética no 3º Curto-Circuito Poético, uma invenção do Ivan Presença, que mantém no Conic o Quiosque Cultural. O evento acontecerá no sábado, 14 de outubro, a partir das 10h, no pátio coberto do Conic (Setor de Diversões Sul), próximo ao Quiosque e ao Teatro Dulcina.

O homenageado desta vez será o poeta Fernando Mendes Vianna, falecido em setembro. Erótico e erudito, sarcástico e romântico, dramático e moleque, Fernando Mendes Vianna construiu ao longo de mais de 50 anos uma obra selvagem e universal.

Participarão, entre outros, os poetas Ronaldo Cagiano, Santiago Naud, Nicolas Behr, Amneres, Luis Turiba, Paulo Cac, Walter Silveira, João Bosco e René Bonfim, João Carlos Taveira e este escriba. O editor Vitor Alegria, da Thesaurus, fará uma breve apresentação da obra de Fernando Mendes Vianna.

Alunos de colégios e faculdades de letras de Brasília estarão presentes e participarão do evento, recebendo brindes e livros. Contatos: Paulo Cac, 8134-3234; Turiba, 7811-9875; Ivan Presença, 3225-2832 e 9601-1221.

Liga Tripa no CCBB


Você é novo em Brasília? Então vá ver o Liga Tripa no CCBB neste domingo, 8 de outubro, a partir das 17 horas, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Quem não conhece o Liga Tripa não conhece Brasília. Ah, é velho na cidade? Então vá rever a trupe que é a cara da cidade. Estaremos lá!

Um sucesso

A antologia Todas as Gerações - o Conto Brasiliense Contemporâneo, um dos livros mais vendidos em vários dos estandes da Feira do Livro de Brasília, encerrada a 7 de setembro, está prometendo fazer uma bela carreira. O livro já está distribuído nacionalmente, em especial nas lojas da Livraria Siciliano, uma das maiores redes do Brasil. O lançamento no sábado passado, 16, lotou a loja do Pátio Brasil Shopping, em Brasília. A Editora LGE já rodou uma segunda edição, para atender os pedidos dos diversos distribuidores espalhados pelo Brasil. O livro também pode ser adquirido pela internet, nas lojas virtuais da Siciliano e da Cultura, entre outras.
Todas as Gerações reúne 102 autores que vivem e escrevem em Brasília, pacientemente reunidos por Ronaldo Cagiano, que organizou a antologia. Boa leitura!!

A premonição


É simplesmente chocante o poema Réquiem para o poeta, de Fernando Mendes Vianna, publicado pelo Caderno Pensar do Correio Braziliense de hoje, 16 de setembro. Escrito a 13 de agosto, menos de um mês antes da morte do poeta, é a prova maior de que Fernando tinha uma premonição - a de que seu tempo estava prestes a esgotar-se.
O Correio Braziliense fez uma bela homenagem ao escritor, ao publicar, além do Réquiem, outros quatro textos: uma análise de sua obra, por Fernando Marques; um poema de Ronaldo Costa Fernandes; outro do próprio Mendes Vianna, As trevas, recolhido de seu livro Proclamação do barro, além de uma reflexão deste escriba.
Vi o Fernando pela última vez no dia 8 de julho, quando ele esteve em minha casa para comemorar meu aniversário (a foto ao lado foi feita pela Cristina Bastos). Estava iluminado, como sempre.

Lançamento no sábado, 16


A antologia Todas as Gerações - O conto Brasiliense Contemporâneo, organizada por Ronaldo Cagiano e que conta com a participação deste escriba, será lançada no próximo sábado, 16, a partir das 19 horas, na Livraria Siciliano do Pátio Brasil. Conto com a presença de todos.

Um poema de Fernando Mendes Vianna


Soneto da ressurreição

Nas frondes do meu peito cantam pássaros
de descante quase congelado.
Primavera, neste amor renasço,
desfazendo o inverno do passado.

O vôo que me enleva rompe o espaço
da gaiola do viver domesticado,
e jorra um fluxo rubro sobre o aço
dos barrotes do canto jugulado.

Este amor tudo inunda. Apaga os traços
do meu rastro de nós, medos e laços.
Humo, espraia-se em mim de lado a lado.

Enfim me lanço à vida com meu brado
de bardo e bicho rubro no chão baço!
Amor nas mãos do estar, meu ser refaço.



Fernando Mendes Vianna (1933-2006)

Adeus, amigo

Fernando Mendes Vianna deixou-nos neste domingo, 10 de setembro. Um infarto fulminante o levou, enquanto escrevia, sentado numa poltrona, no escritório de sua casa. Todas as homenagens serão inúteis, embora plenamente merecidas.

As três virtudes

Quais são as três características fundamentais de um bom escritor? A questão foi lançada por Stela Maris Rezende aos colegas escritores reunidos no Café Literário da Feira do Livro no último domingo, 27, para falar sobre a antologia Todas as Gerações - O Conto Brasiliense Contemporâneo, lançamento da LGE. Da mesa, além de Stela e do organizador Ronaldo Cagiano, faziam parte Lourenço Cazarré, Alaor Barbosa, Rui Fabiano, Alexandre Pilati e Emanuel Medeiros Vieira, diante de um público curioso, que superlotou o salão.
Este escriba, um dos selecionados para a Antologia, toma a liberdade de utilizar este espaço para dar sua resposta à pergunta apresentada. A primeira qualidade de um bom escritor é a profundidade. Não basta observar a superfície da vida - o escritor (e isso vale para todos os artistas) deve escavar a alma do ser humano na tentativa de desnudá-lo, dissecá-lo e, se possível, compreendê-lo; da mesma forma, deve estar atento para desnudar e denunciar a vileza, o cinismo, a sordidez e outros "dons" humanos que se apresentam sob máscaras virtuosas. A segunda qualidade do bom escritor é a criatividade, que lhe permita encontrar sempre uma nova roupagem para suas palavras, ainda que aborde temas universais e milenares, fugindo do clichê como o diabo da cruz. A terceira qualidade é a necessidade vital de cumprir seu ofício, como a única forma possível de superar a mesquinhez da vida e da própria condição humana.

Liga liga liga Tripa-pá

A Sala Cássia Eller do Complexo Funarte abriu seu palco, no último fim de semana (26-27 de agosto), para mais uma aparição do Liga Tripa, a trupe que há 26 anos transforma Brasília numa cidade ainda mais diferente do que já é. E, assim como acontece sempre, compareceram os súditos fiéis da música mais tipicamente brasiliense que já se criou. Sérgio Duboc, Aldo Justo, Carrapa, Fino, Toninho Alves e Caloro (que não aparece nesta foto) apresentaram velhas e novas canções e o sempre aguardado momento inusitado do show. Na platéia, desde cinqüentões até as crianças, que também se ligam numa "ligada".

[foto de Marcelo Dischinger]


Ivan Guerreiro


O Ivan da Presença volta a ocupar espaço na vida cultural de Brasília. Ele é o idealizador do Curto-Circuito Poético, que começou no dia 12 de agosto, e deve acontecer no segundo sábado de cada mês até o fim do ano, no espaço central do Conic, no Setor de Diversões Sul. Nessa primeira edição, organizada por Paulo Cac e Luís Turiba, houve participação de cerca de 30 poetas, entre veteranos e estreantes, que versejaram durante quase duas horas.
Ivan mantém ali mesmo no Conic o Quiosque Cultural, duas tendas localizadas em frente ao Teatro Dulcina de Moraes, onde vende livros novos, usados, raros e esgotados, além de vinis e filmes. E, neste domingo, 20, Ivan foi capa do Caderno de Cultura do Correio Braziliense, numa simpática reportagem contando sua história. Ivan anuncia para o próximo ano a realização da Feira Cultural, com barracas de livros e artesanato, além de lançamentos e bate-papos com escritores, igual aos inúmeros eventos que ele organizou à frente da Livraria Presença.
Ivan é um desses personagens que não podem faltar numa cidade. Um guerreiro da cultura.

Cones de chocolate

Há algum tempo venho me surpreendendo com as composições de Octávio Scapin. Não só pela criatividade, mas pela leitura pessoal de alguns de meus poemas, a partir dos quais ele tem criado belas canções. Antes de chegar aos 20 anos, Octávio Scapin já deixa aflorar uma personalidade de artista curioso, sensível e criativo. Seu CD Cones de Chocolate, lançado recentemente, é uma pequena mostra de sua busca pela harmonia entre o conhecimento e a intuição, técnica e sensibilidade. Ele vem formando um acervo musical em constante evolução, feito de peças únicas e unas, que revelam o início de uma trajetória além dos limites de mera aventura musical. Essa coletânea indica novas surpresas para o futuro. Octávio vive em Goiânia, onde começa a tornar-se conhecido no circuito universitário. Quem tiver oportunidade, embarque com ele nessa viagem através de cenários repletos de imagens e cores, e ouça a sua leitura pessoal de uma urbanidade ao mesmo tempo comum e estranha. Será um prazer. Palavra de parceiro e admirador.

Escritores de Brasília na Livraria Cultura

Luiz Carlos da Costa, engenheiro aeronáutico e mestre em transporte aéreo pelo ITA, meio paranaense, meio paulista, se diz apaixonado por Brasília e sua literatura. Que ninguém duvide: ele dedicou dois anos a cansativas pesquisas para escrever a História da Literatura Brasiliense, lançada no final do ano passado pela Thesaurus. Está certo que falar em "literatura brasiliense" me dá um certo mal-estar, pelo sentido de regionalização, um evidente provincianismo. Mas o trabalho está lançado. Nesta segunda-feira, 14 - ou seja, hoje - Luiz Carlos vai fazer palestra no auditório da Livraria Cultura (Shopping Casa Park) e será montado um balcão com obras de autores da cidade. À venda, é claro.

Contistas de Brasília em antologia


Está saindo do forno mais um belo trabalho de garimpagem e documentação sobre a literatura feita em Brasília. Mais uma vez, quem está à frente da empreitada é o escritor Ronaldo Cagiano. Neste livro, Todas as Gerações - o conto brasiliense contemporâneo, ele reuniu 102 autores para mostrar a vitalidade da arte da escrita na capital brasileira.
Cagiano já organizou antologias semelhantes. O que distingue esta das demais é que aí estão apenas, como o título diz, escritores vivos, em plena atividade. Há um ou outro caso de autores que se mudaram recentemente, mas neste caso são brasilienses e criados na cidade.
Pode-se dirigir a esta antologia as mesmas críticas que usualmente se fazem a qualquer antologia. Mas é interessante observar que se trata de um importante documento, e mais ainda para uma cidade que ainda está com seu universo cultural em formação. Cagiano observa que reuniu no livro escritores de três gerações: a pioneira, que são aqueles que para cá vieram nos anos de inauguração da capital; uma já estabelecida, representada por escritores que aqui vivem há muito tempo e já se estabeleceram, embora não tenham raízes brasilienses; e uma nova, formada por autores aqui nascidos e criados, e que já incorporaram Brasília no seu universo ficcional.
Todas as Gerações é editada pela LGE e terá lançamento na cidade muito em breve. Este escriba, como um dos antologiados, sugere aos internautas que estejam atentos, e que se considerem convidados.

Ouvindo Keith Richards

O multiartista Gomes de Souza, de Goiânia - e do mundo - acaba de inaugurar seu blog, onde pretende escrever sobre artes plásticas, filosofia e história das artes. Na imagem acima, um belo exemplar de seu trabalho, "Listening Keith Richards", que se encontra numa galeria dos Estados Unidos. O endereço do blog: http://degomes.blogspot.com/. Vale uma visita.

Universo em nomes

Este escriba prestou assessoria de imprensa ao 19. Inverno Cultural, promovido pela Universidade Federal de São João del-Rei, entre 15 e 29 de julho de 2006. O festival celebrou os 50 anos de publicação do romance Grande Sertão:Veredas, de Guimarães Rosa. O texto que se segue refere-se a um interessante estudo da escritora Ana Maria Machado, e foi publicado pelo Correio Braziliense no dia 22 de julho de 2006.

Riobaldo? um rio que não flui, mas se fecha num baldo, e ainda guarda em seu nome todas as letras do diabo. Diadorim? Nome que encerra o Diá, forma como são chamados, na narrativa, tanto o demo quanto o personagem. Diadorim é guerreiro, mas também dea, que se revela adorada Deodorina, a Deus dada. São exemplos da complexidade da construção dos nomes dos personagens em Guimarães Rosa, não apenas em “Grande Sertão:Veredas”, como em todos os demais livros.

A escritora Ana Maria Machado mergulhou nesse mundo tão grande quanto o sertão, que nas palavras de Riobaldo “está em toda parte”, e descobriu que os nomes, em Guimarães Rosa, são material suficiente para uma tese. Esse foi o tema de sua pesquisa de doutorado, que concluiu na Sorbonne, França, no início dos anos 70, sob orientação do semiólogo Roland Barthes, e deu origem ao livro Recado do nome, recentemente publicado pela Editora Nova Fronteira. E foi o assunto de sua palestra durante o Inverno Cultural, que a Universidade Federal de São João Del-Rei promove na cidade e outros 20 municípios, tendo como tema central os 50 anos de publicação de Grande Sertão:Veredas.

Cada nome de personagem carrega, em sua etimologia, o universo físico, social, religioso e histórico em que se passa a história, além de ser importante dentro da estrutura narrativa. Ana Maria cita o exemplo da novela O recado do morro, e garante que a significação da história seria outra se os personagens tivessem outros nomes. No texto, o vaqueiro Pedro Orósio (Pedro como pedra, Orósio como oros, montanha) faz uma viagem pelo sertão e escapa de uma cilada, graças a uma mensagem que o morro lhe manda.

Pedro percorre as fazendas do Apolinário, de Nhá Selena, do Marciano, de Nhô Hermes, do Jove, de Dona Vininha e do Juca Saturnino, em companhia dos vaqueiros Helio Dias Nemes, João Lualino, Martinho, Zé Azougue, Jovelino, Veneriano e Ivo Crônico. Todos esses nomes aludem aos dias da semana, como são nomeados em outras línguas, e aos deuses e seus planetas correspondentes: Apolo/Sol; Selene/Lua; Marte, Mercúrio/Hermes; Júpiter, Vênus, Saturno/Cronos. Parecem facilmente perceptíveis, assim relacionados, mas não quando diluídos na narrativa. O que acontece nas fazendas tem a ver com cada deus dominante (beleza, festa, guerra, comércio/mensagem, poder e fartura, amor, tempo). O recado que salva Pedro Orósio é decifrado por Pedrão Chãbergo (chão e berg , rocha em alemão).

Em Buriti, o patriarca viril, homem poderoso, chama-se Liodoro Maurício Faleiros, que faz referência ao nome científico da palmeira do título, Mauritia vinifera. A novela aborda um universo vegetal, onde as mulheres têm nomes de plantas - Dionéia, Leandra, Alcina. Ana Maria Machado identificou até mesmo um anagrama do nome de Guimarães Rosa no conto Cara-de-bronze, em que um fazendeiro recluso encarrega o vaqueiro Grivo de ver o sertão e descrevê-lo. É Soares Guiamar, que faz comentários de pé de página. “É interessante também citar o vaqueiro Moimeichego, cujo nome soma ‘eu’ em quatro línguas: moi, me, ich, ego”, diz Ana Maria.

Com 33 anos de carreira, mais de 100 livros publicados no Brasil e outros 17 países, ocupante da cadeira número um da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado lembra que começou por acaso a perceber a riqueza dos nomes em Guimarães Rosa, e ao mergulhar nesse contexto puxou “um fio sem fim”. A tese de doutorado, iniciada no Brasil sob orientação de Afrânio Coutinho e concluída durante seu exílio na Europa, permitiu-lhe revelar a Roland Barthes um escritor que ele desconhecia, o que lhe valeu uma manifestação de agradecimento do semiólogo, ao final do trabalho.

Cidade abstrata


Depois de uma visita a Passos, o espírito da cidade me acompanha. Minha porção poeta projeta seu arqueolhar pelas novas e velhas ruas, sobrados, jardins, outros olhares. Minha porção repórter quer saber o que acontece. Uma e outra percorrem velhos e novos passos de mãos dadas. Ao redor, uma cidade antiga e nova, fiel companheira, desconhecida, arrogante. Tento me reconciliar com uma e outra. O chão da antiga rodoviária me recolhe e oferece espaço a mim e àqueles que querem saber o que o velho menino pensa pela cabeça do novo homem, ou o que o homem velho vê pelos olhos do antigo menino. Eternos amigos dividem poesia, sensações, idéias, memórias, vinhos e cervejas. Novos amigos me emocionam. A cidade ao redor: a Praça do Rosário promete recuperar a beleza da velha fonte luminosa. A Antônio Carlos mais agradável para o sobe e desce. A Igreja da Matriz, o jardim, lindos como sempre. Mas a praça envelhece. A arquitetura, identidade da cidade, já não é a mesma. Onde se esconde sua história? Entulhos são rugas, edifícios modernos são manifestações geriátricas de uma cidade que delira. A cidade não pára. A idade da cidade não é a idade dos homens. Rejuvenesce se há respeito pela História. Ao perder a memória, perde o viço. A cidade é para toda a gente. E toda a gente quer felicidade, conforto, prazer, beleza, cultura. Minha porção repórter busca saber e compreender. Minha porção poeta quer brincar. As palavras são brinquedo e ofício. Poesia, liberdade e emoção. O reencontro com a cidade sonhada, guardada na memória, na utopia do desejo. Em versos, imagens, paralelepípedos. A realidade não é apenas o que se vê. O futuro é a mistura do ontem com o hoje. O primeiro homem que aqui pisou é cidadão passense, seus passos e sua voz permanecem na sonoridade urbana, reverberam no toque do sino que se ouve nas velhas fotografias e no silêncio desta madrugada.

Volta a Passos


Voltar à minha cidade, Passos, é sempre um prazer. Desta vez, quando o objetivo foi apresentar aos meus conterrâneos um livro do qual a cidade é ao mesmo tempo cenário e personagem, o prazer foi dobrado. No sábado, fiz o lançamento de Arqueolhar na Casa da Cultura. Lá estavam estudantes, velhos amigos e um público atento e curioso, com quem conversei sobre minha experiência como poeta e jornalista. Uma das surpresas foi a simpática participação de Arlete Porto, Gilda Parenti, Graça Santana Garcia, Sandra Parenti e Clélia Monteiro Carvalho, que fizeram emocionante e emocionada leitura de poemas do Arqueolhar (foto). Foi inesquecível. Nas próximas postagens, mais informações sobre o evento.

Em Passos

Estarei em Passos neste sábado para lançar Arqueolhar. A festa acontecerá na Casa da Cultura, na Praça do Rosário, começando com um bate-papo com os estudantes de Comunicação da UEMG às 18h30 e em seguida coquetel de apresentação do livro. Conto com a presença de todos os amigos, parentes, conhecidos, ex-colegas de escola e povo em geral. E aí está, para quem não tem o prazer de conhecer, a histórica e simpática Igrejinha da Penha, em Passos. Quem a encontrar na capa de Arqueolhar, ganha um autógrafo!

Poesia e contemplação

O que há de melhor na paisagem? O próprio gesto de contemplar, o integrar-se à essência daquilo que se esparrama perante nossos olhos. Assim é a poesia - um ato de contemplação, um derrame de imagens despertadas por nossa imaginação e memória. A transição dos sinais gráficos da escrita para particulares paisagens se faz enquanto nossos olhos percorrem os versos, ou enquanto a voz amiga os decodifica em sons e palavras. A poesia tem o poder, quase mágico, de provocar essa interação entre poeta e leitor. O primeiro traduz para o papel a sua emoção, seu ponto de vista sobre o mundo; o segundo recria o poema a partir de sua sensibilidade. Assim, a poesia é um jogo de cumplicidade e afinidade, ainda que momentâneas, entre o criador-poeta e o criador-leitor. Ambos atuam em sintonia e, assim, completa-se o poema. O mergulho do leitor na poesia que o envolve e lhe desperta todos os sentidos é um momento extremamente feliz. Alcançar a poesia é gratificante, mas é atividade que exige talento, sensibilidade e sabedoria, virtudes freqüentemente presentes no interior do indivíduo, mas nem sempre disponíveis para aflorar. Essa interação entre dois universos distintos é fruto de um diálogo atemporal e silencioso. Nenhum poeta é grande sem um grande leitor, assim como nenhuma paisagem será bela se não houver quem saiba contemplá-la.

Antonio Olinto gostou do livro

Matéria publicada pelo escritor Antonio Olinto em sua coluna
na
Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 2 de maio.

O sereno domínio do verbo

É na poesia principalmente que a literatura brasileira atinge seu ponto mais alto. O ponto em que estiveram Drummond, Jorge de Lima, Quintana, Cassiano, Cecília, Bandeira. Repito: poesia é, neste País, das coisas mais vivas e mais avançadas que existem. Volta e meia, poeta novo começa a fazer versos e a sacudir a mesmice dos estilos. Ou poetas já conhecidos alcançam pontos mais altos no exprimir o talvez inexprimível.

O mais evidente exemplo desse permanente renascer, de uma linha, e de outra, e de outra, é o do poeta Alexandre Marino, cujo livro "Arqueolhar" reúne poemas que, num desdobramento de temas, numa experimentação verbal própria, numa retração de sons e numa explosão silábica cheia de significados, atinge um nível de poesia que o situa entre o que de melhor tem o verso brasileiro do momento.

No livro de Alexandre Marino, predominam a rua, a árvore, a fruta, um pente, uma escova de dentes, uma xícara, a montanha, o quarto, a pedra, muitas vezes a pedra, que espera, contempla, acompanha tudo e aceita as mais diversas possibilidades nua verdadeira poesia do possível.

Veja-se de que maneira obriga o poeta a que a rua nos acompanhe, no belo poema "Esta rua", de que cito 11 versos: "Esta rua te percorre/ e faz de teus passos exílio./ Esta rua te caminha/ e vigia,/ define teus limites/ e espaços,/ e de tua saudade/ te alimenta."

Quase no final do poema, que é belamente longo, diz: "Vaga nesta rua a tua alma/ ao redor da fogueira/ que te devora os ossos".

Além de sabedoria vocabular, revela o estilo de Alexandre Marino uma extraordinária elasticidade rítmica. Alguns de seus versos dão a impressão de que podem ser lidos ao contrário ou tomados em qualquer ponto, pois o ritmo como que parte dali e se integra em nova unidade. Atente-se para o sereno domínio do poeta sobre seus símbolos, suas realidades, suas palavras.

O poeta multiplica os lugares do mundo, já que dentro da casa há outra casa, e outra, e outra, com outros quartos e incontáveis cômodos, entre corredores e labirintos passagens subterrâneas numa completa reconstrução dos espaços de ontem, que ainda são os espaços de hoje. Os poemas são todos dedicados ao menino, o menino de ontem que não mudou e continua vivendo o momento. Assim:

"Lá vai o menino
e o homem invisível
que o acompanha,
feito de sua própria sombra
a jorrar-lhe das entranhas."


Dois temas visíveis do poeta - o menino e o espanto - poderia ser fixado num "espanto do menino", diante das coisas todas, diante do preto velho mais feliz do mundo que um dia não mais se achava lá. Diz o verso: "Não imaginava que morrer fosse enorme."

Na realidade, "Arqueolhar" é uma história do Brasil, com suas jabuticabas, seus palhaços, seus circos, onde a trapezista flutua e os malabaristas fazem malabarismos - e é, assim, a historia do País, a história de uma infância, a história de um tempo, que o poeta levanta em versos, numa luta pelo aperfeiçoamento de uma capacidade de percepção.

Para isto, precisa o poeta de uma entrega total, absoluta, de si mesmo às palavras que viram versos, uma entrega cromo a do sacerdote, como a do eremita. E precisa ser forte para enfrentar a pedra, que lá está sempre, medida tranqüila das coisas.

Eis o final de seu poema "Pedra de amolar": "Um dia, nos escombros do futuro,/ em certo altar abandonado,/ com paredes e entulhos/ de um alpendre, um terraço/ ossos, restos, rastros sobre a terra,/ irremediavelmente oculta/ ou apenas insepulta,/ lá estará a pedra/ insone,/ a recordar, sem saudade,/ um regato, um leito de rio,/ uma borda de serra."

Não hesito em colocar Alexandre Marino, com este "Arqueolhar", entre os grandes poetas do Brasil. A originalidade de seus temas, o bom e forte equilíbrio de seus versos, seu grave e necessário respeito pelas suas memórias, por inventar uma literatura para cada poema. Há um tipo de poesia que é matéria verbal, vocal, oral, visível, signo, sinal, e é no ritmo que a matéria se forma e ganha contorno. Fazendo poesia com palavras, conscientemente com palavras, o bojo vocabular de Alexandre Marino é de extraordinária riqueza.

Sessão Nostalgia: turma da Upes

Esta foto foi encontrada num velho baú, dos tempos da Upes. Foi feita em 1972, lá em Passos, é claro. Quem não quiser aparecer nela, que se esconda... Da esquerda para a direita, este escriba, Carlos Parreira, Antônio Barreto, Antônio Rogério, Iran Machado e Carlos Parada. O troféu na mão do Rogério é um dos muitos que a entidade estudantil ganhou naqueles tempos. A camisa (só o Parada não veste o "uniforme") também é uma marca registrada da Upes. Os meninos foram fotografados no adro da Igreja Matriz, aparecendo ao fundo as Casas Pernambucanas. Ei, pessoal, estarei em Passos no dia 20 de maio, sábado, para lançar o Arqueolhar e repetirmos essa foto. O que acham? Qualquer comentário, podem clicar no ícone aí embaixo.

Arqueolhar em Passos

O lançamento de Arqueolhar em Passos, marcado para 20 de maio, sábado, será realizado na Casa de Cultura, na Praça Geraldo da Silva Maia, ou Praça do Rosário, como me parece mais familiar. Às 18h30, haverá um bate-papo sobre Jornalismo e Literatura com estudantes de Comunicação, mas aberto ao público em geral. Às 20h, leitura de poemas e apresentação do livro. O evento faz parte das comemorações do aniversário da cidade. Estou contando com a presença de todos os amigos, novos e antigos, que estiverem por lá, incluindo velhos colegas do curso primário no Colégio Estadual, do Tiradentes, do Imaculada e, inevitavelmente, da Upes... Mas faz tempo isso, hein!

Dia 20 de maio, lançamento em Passos

A festa de lançamento de Arqueolhar em Passos já tem data marcada: será no dia 20 de maio, sábado. Será um evento realizado em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer e a Faculdade de Comunicação Social de Passos. De acordo com a programação já definida até agora, terei um bate-papo sobre Literatura e Jornalismo com os estudantes da Facomp e o público em geral, e em seguida haverá uma leitura poética, com a participação de alunos, professores e atores passenses. O lançamento do livro fará parte do calendário oficial de comemoração do aniversário da cidade. Será uma festa bonita, com certeza. Nos próximos dias novas informações serão inseridas aqui.

Uma árvore

Uma árvore não é uma árvore
se parece chorar,
ao se debruçar sobre a cidade
e proteger
a fragilidade dos homens.

Poetando no Atelier [3]


Flagrante do Atelier do artista plástico Gomes de Souza (em primeiro plano, de boina), durante evento lítero-musical realizado no último sábado, em Goiânia. Este escriba lá esteve para uma apresentação do Arqueolhar. Estiveram presentes escritores, artistas plásticos, músicos e gente cabeça (coisa rara nestes tempos).

Poetando no Atelier [2]


Flagrante no Atelier: da esquerda para a direita, este escriba, o artista plástico Gomes de Souza e o músico Octávio Scapin, preparando-se para o lançamento do CD Cones de Chocolate.

Poetando no Atelier


Poetas, músicos, artistas plásticos e público afim compareceu para um agradável encontro, regado a cerveja e vinho, no Atelier do Gomes de Souza, em Goiânia, no último sábado (2/4). Na foto, este escriba lê um de seus poemas, "ilustrado" por uma performance improvisada do poeta Marcelo.

Octávio Scapin no Atelier do Gomes


Octávio Scapin apresenta neste sábado, no Atelier do Gomes de Souza, em Goiânia, suas canções recém-saídas do forno, algumas delas em parceria com este escriba. Aliás, nem saíram do forno ainda: o CD que ele está gravando, com produção de Luís Chaffin, só circulará em maio. Enquanto isso, só alguns poucos privilegiados, como os que estarão presentes no evento de amanhã, terão oportunidade de ouvir suas inspiradas composições.
O Arqueolhar também estará no evento. Farei uma leitura de alguns poemas do livro (e outros, inéditos), e quem gostar poderá adquiri-lo a um precinho camarada.
E depois ainda haverá a exibição do show Phono 73, uma preciosidade da MPB...

No próximo sábado, em Goiânia!

No próximo sábado, primeiro de abril, lançarei o Arqueolhar em Goiânia, mais precisamente no Atelier do artista plástico Gomes de Souza. Estarei muito bem acompanhado por uma das promessas musicais do Centro-Oeste, o Octávio Scapin, que prepara o lançamento de seu primeiro CD independente. Octávio é autor de algumas canções muito inspiradas, e estou muito contente com nossas parcerias. No evento, farei leituras de alguns poemas e depois veremos um DVD precioso: o show Phono 73, reunindo a nata da música brasileira da década de 70. Como o espaço é pequeno, está prevista a presença de um público pequeno, porém privilegiado, que depois se fartará com a caprichada culinária da equipe do Gomes. Beleza!

Deu no PublishNews

Lembranças
PublishNews - 20/1/2006

Ao abrir a porta de um velho armário abandonado num porão, o poeta Alexandre Marino encontrou o que restou de um grande companheiro de infância: um palhaço, que ele chamava simplesmente de "Aço". Ao reaparecer, o palhaço viveu outra vez. Não se tratava de um mero objeto empoeirado, comido pelas traças, mas de uma figura real que voltava de uma longa viagem. "Aço" é um dos personagens do novo livro de poemas de Alexandre Marino, Arqueolhar (LGE Editora, 112 pp., R$ 20). Outros seres inanimados retornaram à vida a partir daquele reencontro: pedras, frascos vazios, relógios, brinquedos, objetos perdidos. Durante quatro anos, Alexandre Marino deu vida àqueles ícones de sua infância, transformando-os em poesia. Espalhou-os por um quintal do interior de Minas, e com eles percorreu ruas de uma cidade ao mesmo tempo fictícia e real. O homem quarentão reencontrou personagens que o marcaram, convocou o menino e retomou com eles um diálogo interrompido pelo tempo. Arqueolhar está sendo lançado numa parceria entre o selo do autor, Varanda Edições, e a editora brasiliense LGE, que lançou mais de 300 títulos de literatura nos últimos três anos e tem levado alguns dos escritores de Brasília às livrarias das principais cidades brasileiras.

Um olhar para o ano passado


Apenas a publicação de Arqueolhar, no segundo semestre de 2005, foi o suficiente para que o ano tenha valido a pena. Um projeto que nasceu em 2000 e tornou-se minha mais importante realização literária.
Lançado há menos de quatro meses, Arqueolhar recebeu muitas manifestações favoráveis de escritores que muito respeito. Alguns deles movidos apenas pela leitura do livro, pois nem me conhecem pessoalmente. Entre os autores que elogiaram o livro, eu posso citar Olga Savary, Ivan Junqueira, Antonio Carlos Secchin, Alexei Bueno, João Gilberto Noll, Marco Lucchesi, Everardo Norões, Fernando Mendes Vianna, Anderson Braga Horta, Geraldo Lima, Antonio Barreto, Jason Tércio, Vera Americano, Rosângela Rocha, Ronaldo Cagiano, entre outros. Sem esquecer de Maria Esther Maciel e Floriano Martins, entre os primeiros leitores de Arqueolhar, autores do prefácio do livro.
Mas a carreira de Arqueolhar segue em frente. Neste primeiro semestre, vou lançá-lo em minha terra, Passos, onde toda a aventura começou. E em outras cidades que informarei oportunamente.