
LIVROS E PANETONES

A agenda de convidados foi fechada no dia da inauguração - e todos os autores de fora tiveram sua vinda cancelada. Exceção apenas para Ziraldo, um dos homenageados. O outro foi Reynaldo Jardim, que mora em Brasília. O gaúcho Marcelo Carneiro da Cunha só soube que não viria mais porque sua editora pediu à organização da feira uma posição oficial sobre a viagem do escritor.
A culpa de tamanha desorganização é da diretoria da Câmara do Livro, que não fez qualquer planejamento e esperou por verba oficial, e do governo do DF, que não dá a mínima para qualquer evento na área da cultura e é incapaz de perceber a importância que teria uma feira de livros realmente bem feita e organizada.
Bem, depois das investigações da operação Pandora, da Polícia Federal, é possível compreender melhor a política no DF, e saber por que a política cultural simplesmente não existe.
Cultura, para o governo do DF, é qualquer coisa que traga turistas a Brasília. Por isso querem comemorar os 50 anos da cidade, em 21 de abril do ano que vem, com Paul McCartney ou Madonna, e não com artistas de todo o Brasil reunidos aos de Brasília, numa grande festa de congraçamento.
Com a crise instalada no governo do DF, que poderá levar ao impedimento do governador José Roberto Arruda, percebe-se o que está por vir. Se ele pelo menos tivesse distribuído livros ao invés de panetones...
Brasil, capital Brasília.
ALÉCIO CUNHA, JORNALISTA
O PODER MÁGICO DOS LIVROS

Os livros representam o que de melhor a civilização humana produziu, e não é à toa que sempre foram execrados pelos ditadores. Agora sofrem uma ameaça de outra espécie. Algumas empresas de alta tecnologia tentam nos convencer das vantagens de substitui-los por uma ferramenta eletrônica de leitura.
Há evidências de que um público consumidor sedento por novidades começa a adotar a idéia, como se deduz de alguns números [leia as postagens anteriores]. Mas cada país tem uma realidade diferente, e o Brasil, é bom jamais esquecer, é um "país de não leitores", como já foi chamado pela imprensa inglesa.
Que tipo de revolução comportamental a chegada de aparelhos como kindle, sony reader e equivalentes poderá causar ao Brasil? O que será das bibliotecas comunitárias? E aquele livro sensacional que você acaba de ler, como o emprestará ao amigo? O livro que você possui e acha que não vai mais ler, mas que poderia ser útil à biblioteca do bairro, o que você fará dele? E as livrarias, vão fechar as portas? Ou se transformarão em mero balcãozinho com um computador em cima? E os sebos, com suas raridades escondidas, seus mistérios empoeirados? Aquele sujeito que se alfabetizou aos 20 anos, se apaixonou pela leitura e montou uma biblioteca na favela – o que será dele?
A leitura não significa apenas aquisição de conhecimento ou o exercício de um prazer. É uma atividade que envolve atitudes e comportamentos. O ato de emprestar um livro fascinante para um amigo é mais que um favor, é uma declaração de afinidade, carinho, intimidade. A devolução do livro, devidamente lido, idem. A troca de comentários a respeito é um movimento de aproximação, um laço a mais de amizade. Com o kindle, como se dará essa relação?
Os grandes personagens da literatura são seres vivos, que aguardam em silêncio, dentro das lombadas empoeiradas, por uma nova leitura. Ou por um novo leitor, a quem contam, pela milionésima vez, a sua inesquecível história. Eles vão sobreviver no meio eletrônico?
Ler um clássico, um grande romance, um livro daqueles que ficam em nossa memória feito tatuagem não é um exercício banal. É uma atividade que exige concentração e dedicação. O fascínio da leitura, ao ativar nossa imaginação e criatividade, nos leva a uma outra realidade, uma realidade paralela, tão real e mais emocionante que a realidade cotidiana.
O grande mistério que só o futuro desvendará é se a tecnologia do livro eletrônico nos permitirá continuar usando e desenvolvendo essas capacidades. Ou se elas serão incompreensíveis qualidades de um ser humano que, ao contrário dos livros guardados em museus, estará simplesmente extinto.
A MAIOR INVENÇÃO DA HUMANIDADE [2]

A ascensão dos e-books se deve à internet, e portanto deve ser estranho descobrir que o produto mais comprado pela internet é o livro. Livro mesmo, de papel. A informação é da empresa Nielsen/NetRatings, verificadora de consumo online, que recolheu dados em 48 países para descobrir que 41% dos 875 milhões de consumidores compram mais livros que qualquer outro objeto. Esse foi o levantamento feito nos últimos três meses de 2007. Outra informação surpreendente é que, entre esses 48 países, o Brasil ocupa a quinta posição, atrás da Coréia do Sul, Alemanha, Áustria e Vietnã.
O Brasil não é um país de leitores, mas nossa elite parece ler bem – afinal, embora não contemos com dados estatísticos a respeito, é evidente que a parcela que acessa a internet é pequena, menor ainda a que tem cartões de crédito, e ainda mais reduzida a que faz compras pela internet usando seu cartão. Pois foi essa parcela da população que colocou o Brasil nessa elite. Para se ter uma idéia, sabe-se que 20% da população brasileira tem nas mãos 66% dos livros publicados no país.
Diante de um quadro desses, o que significará a chegada do e-book ao Brasil? A pergunta está posta.
[clique para ler a primeira parte deste texto]
A MAIOR INVENÇÃO DA HUMANIDADE [1]

E no entanto, parece estar em curso uma campanha articulada para que, em pouco tempo, o livro, um organismo vivo que dialoga com os homens, seja extinto.
É impressionante a pressão exercida pela mídia, pela publicidade, pela indústria tecnológica, para nos convencer de que devemos trocar o livro tradicional pelas ferramentas eletrônicas – kindle, sony reader – que recebem o texto escrito pela internet e substituem as folhas de papel por uma tela, em que estão disponíveis comandos para mudanças de página e até para marcação de trechos do texto. Três ou quatro grandes empresas, nos Estados Unidos, Japão e Europa, desenvolvem esse equipamento e tentam vendê-lo ao mundo.
Uma pesquisa realizada durante a 61ª. Feira do Livro de Frankfurt, no mês passado, constatou a previsão de que o livro digital superará o de papel em 2018. Há controvérsias, é claro, a partir da velha constatação das desigualdades econômicas, que hoje, no Brasil, inviabilizam a comercialização do aparelho leitor, vendido a US$ 300 nos Estados Unidos. Mas naquele país a venda de livros digitais (e-books) superou os US$ 100 milhões em 2008, segundo dados da Associação Norteamericana de Editores (AAP). E a Alemanha registrou a venda de 65 mil aparelhos vendidos no primeiro semestre.
A loja virtual Amazon já conta com mais de 300 mil obras digitais à venda. Para as empresas, esse mercado pode ser extremamente vantajoso, já que o livro deixará de ser uma mercadoria para se tornar um serviço. O futuro que se vislumbra será o do cliente diante de uma máquina, apertando um botão e recebendo o livro virtualmente, contra o pagamento. Ao contrário da venda tradicional, iniciada quando a editora contrata uma gráfica, paga a impressão do livro, vende o objeto às livrarias, às quais o leitor se dirige para fazer a sua compra. Com variações, é claro.
Em 500 anos de história, o livro praticamente não mudou. Por quê? Porque é uma “máquina” perfeita, de fácil utilização, leve, pode ser levada a qualquer lugar, não precisa ser ligada, não requer prática ou habilidade, a não ser a de saber ler. E tem o apelo sensorial – ou você acha que o kindle pode ser acariciado e folheado da mesma maneira, em gesto quase sensual?
[clique para ler a segunda parte deste texto]
UM ROMANCE

ESPELHO

A POESIA NA CONTEMPORANEIDADE

O livro, organizado pela professora e poeta Sylvia Cintrão, discute a crítica e o texto poético à luz da contemporaneidade, e põe a poesia em interação (ou confronto, em alguns casos) com gênero e memória, ensino e tradução, imprensa e mídia, entre outros temas. São diferentes olhares estéticos, por 27 especialistas das cinco regiões do país, além de três ibero-americanos.
Um dos pontos altos do livro, sem dúvida, é a palestra apresentada pelo homenageado do Simpósio, o poeta Affonso Romano de Sant´Anna, durante a abertura da Bienal: As muitas vidas e muitas mortes da poesia, um texto antológico.
Este escriba também está presente no livro, em honrosas companhias, com o texto A imprensa perdeu o que a poesia tem de melhor. Alguns dos autores publicados: Antonio Carlos Secchin, Alexandre Pilati, Anderson Braga Horta, Antonio Miranda, Elga Laborde, Fernando Marques, Rinaldo de Fernandes, Viviane Mosé, Wagner Barja, Maurício Melo Júnior, entre outros.
O livro tem 300 páginas e ainda traz como encarte o CD Fale-me de amor, com poemas e canções do espetáculo apresentado pelo grupo VivoVerso, criado na Universidade de Brasília. Pode ser solicitado pelo endereço vivoverso@gmail.com, ao preço de R$ 25, com frete grátis.
A FEIRA DO LIVRO E OS 50 ANOS
A Feira do Livro de Brasília, agora anunciada para 21 a 29 de novembro na área externa do Pátio Brasil, é tema que desperta debates. O texto que escrevi aqui no dia 27 (veja postagem anterior) recebeu vários comentários, alguns diretamente por e-mail, o que significa que não estou autorizado a divulgá-los. Mas vou prosseguir a discussão.
Li uma entrevista do vice-governador Paulo Octávio em que ele conta que uma das atrações em negociação para a festa dos 50 anos de Brasília é um megashow com as três "rainhas da axé music", cujos nomes considero irrelevantes. Essa intenção comprova: mais importantes que eventos artísticos de alto nível são os eventos comerciais de mau gosto. Ele, que é político, pode dizer que isso faz sentido porque o lixo cultural atrai multidões e deixa o povo feliz. Eu não sou político e estou livre para combater a mediocridade.
Não acho a literatura superior à música, às artes plásticas ou outras manifestações culturais. Mas quando cito o exemplo de megashows da Xuxa ou de duplas sertanejas estou criticando a postura massificante dos administradores públicos, que preferem investir numa atitude conservadora e esquecem o risco revolucionário da arte enquanto produto da consciência, e não do mercado.
Sejamos claros: um show da Xuxa ou de uma dupla sertaneja (que eu prefiro chamar de breganeja para deixar bem clara a distinção da música caipira de raiz) são eventos mercantis, comerciais, e não artísticos. É claro que uma Feira do Livro poderá levar um visitante a entrar em contato com subliteratura, ou literatura produzida a partir de um impulso comercial ou de mercado, mas a feira também será a oportunidade, às vezes tão rara, para que pessoas sem acesso assistam uma palestra, participem de uma oficina, que poderão contribuir para a ampliação de seus horizontes culturais.
Não sou contra megashows. Mas uma atitude sincera do governo poderia partir de uma premissa como essa: "Se o povo não tem acesso a uma das maiores orquestras do Brasil, que é a do Teatro Nacional (na opinião do secretário de Cultura, já veiculada na mídia), então no aniversário da cidade vamos oferecer à população a oportunidade de ouvi-la."
Música breganeja o povo ouve no rádio. O lixo musical existe, sim, não é preconceito ou discriminação. O lixo existe e é imposto pelas gravadoras, pelas rádios, pela televisão, por ser de fácil assimilação e se tornar, mais facilmente, sucesso e, em conseqüencia, dinheiro. Muito dinheiro. O acesso ao lixo é fácil.
Grandes comemorações deveriam ter uma intenção mais nobre, a de levar ao povo que comparece ao evento, ao povo que não pode pagar, a oportunidade de contato com um evento realmente artístico, que o rádio, a televisão não lhe oferecem.
Recuso-me a aceitar que esta minha postura seja preconceituosa, embora tenha consciência de que é elitista, o que é muito diferente. Não tenho nada contra as elites artísticas ou intelectuais. Os grandes artistas são uma elite, os grandes cientistas são uma elite. E quando se fala da necessidade de investir em educação, fala-se da necessidade de conduzir o país a uma elite planetária.
No Brasil há um forte preconceito contra as elites, como se fossem todas farinha do mesmo saco, como algumas elites políticas, econômicas, privilegiadas e egoístas, que preferem saquear o país a investir em projetos para um futuro melhor para a sociedade.
E de saqueadores o Brasil está cheio.
Li uma entrevista do vice-governador Paulo Octávio em que ele conta que uma das atrações em negociação para a festa dos 50 anos de Brasília é um megashow com as três "rainhas da axé music", cujos nomes considero irrelevantes. Essa intenção comprova: mais importantes que eventos artísticos de alto nível são os eventos comerciais de mau gosto. Ele, que é político, pode dizer que isso faz sentido porque o lixo cultural atrai multidões e deixa o povo feliz. Eu não sou político e estou livre para combater a mediocridade.
Não acho a literatura superior à música, às artes plásticas ou outras manifestações culturais. Mas quando cito o exemplo de megashows da Xuxa ou de duplas sertanejas estou criticando a postura massificante dos administradores públicos, que preferem investir numa atitude conservadora e esquecem o risco revolucionário da arte enquanto produto da consciência, e não do mercado.
Sejamos claros: um show da Xuxa ou de uma dupla sertaneja (que eu prefiro chamar de breganeja para deixar bem clara a distinção da música caipira de raiz) são eventos mercantis, comerciais, e não artísticos. É claro que uma Feira do Livro poderá levar um visitante a entrar em contato com subliteratura, ou literatura produzida a partir de um impulso comercial ou de mercado, mas a feira também será a oportunidade, às vezes tão rara, para que pessoas sem acesso assistam uma palestra, participem de uma oficina, que poderão contribuir para a ampliação de seus horizontes culturais.
Não sou contra megashows. Mas uma atitude sincera do governo poderia partir de uma premissa como essa: "Se o povo não tem acesso a uma das maiores orquestras do Brasil, que é a do Teatro Nacional (na opinião do secretário de Cultura, já veiculada na mídia), então no aniversário da cidade vamos oferecer à população a oportunidade de ouvi-la."
Música breganeja o povo ouve no rádio. O lixo musical existe, sim, não é preconceito ou discriminação. O lixo existe e é imposto pelas gravadoras, pelas rádios, pela televisão, por ser de fácil assimilação e se tornar, mais facilmente, sucesso e, em conseqüencia, dinheiro. Muito dinheiro. O acesso ao lixo é fácil.
Grandes comemorações deveriam ter uma intenção mais nobre, a de levar ao povo que comparece ao evento, ao povo que não pode pagar, a oportunidade de contato com um evento realmente artístico, que o rádio, a televisão não lhe oferecem.
Recuso-me a aceitar que esta minha postura seja preconceituosa, embora tenha consciência de que é elitista, o que é muito diferente. Não tenho nada contra as elites artísticas ou intelectuais. Os grandes artistas são uma elite, os grandes cientistas são uma elite. E quando se fala da necessidade de investir em educação, fala-se da necessidade de conduzir o país a uma elite planetária.
No Brasil há um forte preconceito contra as elites, como se fossem todas farinha do mesmo saco, como algumas elites políticas, econômicas, privilegiadas e egoístas, que preferem saquear o país a investir em projetos para um futuro melhor para a sociedade.
E de saqueadores o Brasil está cheio.
FEIRA? LIVRO? BRASÍLIA?

Feiras de livros são importantes para estimular a leitura e aproximar escritores e leitores. Não são apenas um amontoado de barracas onde se vendem livros. São eventos onde ocorrem palestras, lançamentos, concursos, encontros.
A novela da 28a. Feira do Livro de Brasília vem de longe. Havia sido marcada para a primeira semana de setembro, depois foi adiada para 16 a 25 de outubro, depois para 23 de outubro a 1 de novembro. Vai ficar para 2010 - se vier.
A Câmara do Livro do DF precisa de dinheiro oficial para viabilizar a Feira. Nos últimos anos a Feira realizou-se em local inadequado e improvisado, os corredores externos do centro comercial Pátio Brasil. A previsão, este ano, era utilizar o cimentão armado do Conjunto Cultural da República para montar a Feira. A Câmara do Livro precisa de R$ 2,5 milhões para preparar a estrutura. O governo José Roberto Arruda prometeu R$ 700 mil. Já havia prometido para que a feira começasse a 23 de outubro, mas às vésperas o dinheiro não havia saído.
O secretário de Cultura (?) do DF, Silvestre Gorgulho, garantiu aos livreiros: "A Feira vai acontecer, nem que seja na minha casa." Até parece. A diretoria da Câmara, que empurrou o problema com a barriga até chegar a hora da decisão, deu um sorriso amarelo. Até esta terça-feira, 27 de outubro, tudo permanece na estaca zero.
O evento é importante e o governo deveria ter interesse de contribuir. Mas governador, secretário e toda a turma nada entendem de cultura. No ano passado, eles (o governo) compraram de uma entidade qualquer o título de "Brasília, capital brasileira da cultura", com validade de um ano. Nada aconteceu, absolutamente nada, que pudesse lembrar à cidade o pretenso título. Como se título mudasse alguma coisa.
Nos 49 anos de Brasília, comemorados em abril deste ano, o GDF teve o prazer de pagar R$ 950 mil para as "cantoras" Xuxa e Cláudia Leitte se apresentarem ao público. No aniversário de 50 anos vão torrar muito mais. Cultura, para o governo local, é isso: juntar uma multidão ao redor de cantores bregas para duas horas de show.
O jornalista Sérgio de Sá, no Correio Braziliense de sábado, 24, foi incisivo. Lembrou que uma feira do livro "precisa ter conceito", e que a sociedade brasiliense, "desinteressada", precisa "decidir se a cultura é importante para a vida em comunidade ou se prefere se contentar com shoppings, bares, automóveis e nada mais".
Sérgio de Sá está certo. Enquanto a Câmara do Livro dorme e deixa tudo na mão do governo, o governo prefere construir viadutos, massacrar o verde da cidade com rodovias e promover megashows de duplas breganejas para celebrar a cultura. É a capital do Brasil.
É o Brasil.
POESIA NA CONEXÃO MARINGÁ

Exília foi um dos projetos vencedores da Bolsa Funarte de Criação Literária no ano passado.
NOBEL DE LITERATURA PARA HERTA MÜLLER

Ela tem um livro publicado no Brasil: o romance O compromisso, pela Editora Globo. Saiu em 2004. O livro parte de experiências pessoais para mostrar as adversidades que ela viveu na Romênia comunista.
NOBEL DE LITERATURA: FAÇAM SUAS APOSTAS

Apostar é uma das manias inglesas, assim como cuidar de jardins e acenar para a Rainha. Eles arriscam suas librinhas em corridas de cavalos, jogos de futebol, ciclismo, eleições e muitas outras modalidades. No ano passado, quando o francês Le Clézio ganhou a maior láurea da literatura universal, o favorito era o italiano Cláudio Magris, que agora está em sétimo, cotado a sete por um. O mais cotado para este ano é o isrealense Amos Oz: quatro por um.
Na extensa relação de possíveis ganhadores, divulgada por uma das principais casas de apostas de Londres, a Ladbrokes, há escritores da Argélia (Assia Djebar, 5/1), Japão (Haruki Murakami, 9/1), Espanha (Luis Goytisolo, 9/1, Juan Marse, 25/1), Nicarágua (Ernesto Cardenal, 100/1), Coréia do Sul (Ko Un, 12/1), Suécia (Thomas Transtromer, 12/1), Canadá (Margaret Atwood, 25/1), Estados Unidos (Thomas Pynchon, 9/1, Philip Roth, 7/1, Paul Auster, 100/1), México (Carlos Fuentes, 50/1), Peru (Vargas Llosa, 16/1), Holanda (Cees Noteboom, 20/1), Inglaterra (Don Delillo, 25/1), Síria (Adonis, 8/1), Áustria (Peter Handke, 20/1) e muitos outros países. Até um queniano (Ngugi wa Thiongo), que paga 25 por um. O português Antonio Lobo Antunes é muito citado, mas não está na lista.
Brasileiros? Nem pensar. Dizem que a Ladbrokes não aceita apostas em brasileiros, porque em caso de tamanha zebra a casa iria à falência. Bem, é um boato, mas boatos correm junto com apostas. Autores conhecidos e desconhecidos (aqui entre nós) freqüentam a lista. O músico e poeta norte-americano Bob Dylan é um deles, e sua vitória paga 25 por um. Está bem melhor cotado que seu conterrâneo Paul Auster (100 por um). Mas zebras acontecem, caso da britânica Doris Lessing em 2007.
Um amigo meu acredita piamente que Paulo Coelho será o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio Nobel – ele não me disse se costuma apostar. Mas como jamais ganhou prêmios literários, vamos pensar em outros nomes. Os prêmios mais badalados por aqui – Portugal Telecom, Passo Fundo, Camões, São Paulo, Jabuti (alguns dos quais são destinados a autores de língua portuguesa, não apenas brasileiros) – têm apresentado uma série de coincidências de nomes e figurinhas carimbadas.
De acordo com pesquisas do mercado livreiro, em 2007 foram publicados no Brasil algo em torno de 10 mil títulos de autores nacionais na rubrica obras gerais, onde entra literatura. Então, como se explica que meia dúzia deles são sempre os mesmos a disputar os prêmios? São muito melhores que os demais? Ou são produto do marketing pesado das empresas editoriais?
No ano passado, o paranaense Cristóvão Tezza ganhou todos os principais prêmios distribuídos no Brasil, com seu romance autobiográfico O filho eterno. Você apostaria nele para o Prêmio Nobel?
ESTRANHOS
O compositor Octávio Scapin faz neste domingo, 4 de outubro, em Goiânia, show de lançamento de seu CD Nunca converse com estranhos. Será no Cine Goiânia Ouro, às 20h. Octávio Scapin vem construindo uma obra musical muito interessante, com melodias elaboradas e letras que fogem ao lugar comum. Por isso, é bom prestar atenção no seu trabalho: quem não estiver em Goiânia pode conhecer algumas canções do novo CD pelo MySpace. Este escriba participa do CD com dois poemas que Octávio musicou. Está em ótima companhia.
TRIBUTO A AFONSO FÉLIX DE SOUSA

NASCER PELO AVESSO

ADEUS A ANTONIO OLINTO
A notícia da morte do escritor e acadêmico Antonio Olinto, ocorrida no sábado, 12 de setembro, causou-me tristeza. Com uma obra que abrange poesia, romances, ensaios, crítica literária e análise política, Olinto era também um especialista em história e cultura afro-brasileira. Durante cerca de 20 anos foi crítico literário do O Globo. Seus livros foram traduzidos para 19 idiomas. Não o conheci pessoalmente, mas guardo com orgulho o texto que ele escreveu em maio de 2006, em sua coluna no jornal carioca Tribuna da Imprensa, sobre meu livro de poemas Arqueolhar. Mais que os superlativos, o que me chamou a atenção foi a sua leitura cuidadosa e aprofundada, aquela que dá ao autor a sensação de que publicar o livro valeu a pena.
CORAÇÃO VAGABUNDO

O filme de Fernando Grostein Andrade mostra momentos de intimidade do músico baiano durante turnês de lançamento do CD Foreign Sounds, em shows realizados em São Paulo e cidades dos Estados Unidos e do Japão (2003-2005). Chega a ser estranho ouvir Caetano falar de suas dificuldades com a língua inglesa ao enfrentar uma entrevista na televisão norte-americana. “Eu sou de Santo Amaro, e lá vivi até os 18 anos”, afirma ele. “Não sou de São Paulo, uma cidade com espírito cosmopolita.” Não é qualquer baiano que encara aquela gororoba japonesa que Caetano se esforça para provar, na cena mais hilária do filme.
Ao mesmo tempo, é emocionante ver Caetano Veloso interpretar, em plena forma, clássicos do jazz ou os seus próprios, com destaque para Terra, uma das mais belas canções feitas no Brasil desde que o Festival da Record revelou o músico. E as manifestações de fãs ilustres, como o cineasta Pedro Almodóvar e o cantor David Byrne, só reforçam a experiência dos brasileiros privilegiados que acompanham sua carreira. Coisa que estrangeiros anônimos também aprenderam a fazer, como o monge que se declara fã, ou os japoneses que contorcem a língua para entoar trechos de suas canções.
Outro momento marcante do filme é a rápida aparição do cineasta Michelangelo Antonioni, homenageado por Caetano com uma bela canção. Antonioni revê num computador um de seus grandes momentos no cinema, a cena final de Passageiro profissão repórter, enquanto conversa com a esposa sobre o músico brasileiro.
O documentário também mostra que a produtora do filme, Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano, é aquilo que sempre foi: uma chata. Na época, o casal estava em processo de separação e Caetano demonstra, em algumas passagens, não viver bom momento emocional. Agora que Caetano Veloso está livre de Paula Lavigne, quem sabe volte a criar um grande disco, como os que fez nos anos 70 e 80? Ao mostrar o grande artista que ele é, o filme nos reacende a esperança.
BOB DYLAN CHEGA PARA O NATAL

O cantor e compositor Bob Dylan lança em outubro um álbum de canções natalinas, Christmas in the heart. A notícia soa como algo inusitado mesmo na biografia de um artista em permanente estado de mutação, até que se expliquem algumas coisas.
Dylan vai doar todos os royalties sobre as vendas dessas gravações nos Estados Unidos para a ONG Feeding America, garantindo, somente nos feriados da virada do ano, mais de 4 milhões de refeições para 1,4 milhão de pessoas que passam necessidades naquele país. Além disso, ele contribuirá com duas entidades internacionais para atender milhões de pessoas carentes no Reino Unido e no mundo em desenvolvimento, e doará perpetuamente todos os royalties das vendas internacionais do álbum para essas entidades.
Para Dylan, "é uma tragédia que mais de 35 milhões de pessoas, somente neste país, sendo 12 milhões de crianças, vão para a cama com fome e acordem cada manhã sem saber onde será sua próxima refeição". Se na "terra da fartura" é assim, imagine aqui no sul do mundo...
A extensa obra de Bob Dylan rejeita rótulos. No entanto, suas canções de denúncia e protesto, que se tornaram clássicos, valem como contribuição para um mundo melhor. Afinal, é este o papel do artista: tocar nas feridas. Mas Dylan sabe que os podres poderes têm ouvidos moucos.
MAIS LIVROS NO MERCADO

A Câmara Brasileira do Livro (CBL) acaba de divulgar a pesquisa anual sobre produção e venda do setor editorial, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo. Um dos destaques foi a constatação do aumento do número de títulos publicados: 13,3%. Pela primeira vez, foi ultrapassada a marca de 50 mil novos títulos lançados em um ano.
Houve aumento de 20% no número de exemplares, descontada a variação nos programas de compra do Governo Federal. Como se sabe, o livro didático é um livro para leitura compulsória, e por isso não deve ser considerado em interpretação de pesquisas sobre venda de livros e índices de leitura.
Também se deve às compras governamentais o aumento do preço médio nominal de 8,4% dos livros, de 2007 para 2008, já que os livros para o ensino médio, com maior número de páginas, tiveram preço maior. Sem considerar os didáticos, a CBL entende que os preços tiveram redução de 3,68%, considerada a variação do IPCA no período. Contrariando, assim, a recente bronca do presidente Lula no setor livreiro, acusado por ele de subir os preços dos livros, apesar da desoneração do PIS e da Cofins sobre o livro, em 2004.
A SENHORA DE FÁTIMA E OS FANÁTICOS
A igrejinha de Nossa Senhora de Fátima é um dos símbolos da arquitetura de Brasília. Projeto de Oscar Niemeyer, localiza-se na entrequadra 307/308 sul e foi inaugurada em 1959, um ano antes da própria cidade. Sua fachada é decorada com azulejos de Athos Bulcão, constantemente agredidos por atos de vandalismo, como aconteceu recentemente em conseqüência de um incêndio mal-explicado.
O interior possuía originalmente afrescos de Alfredo Volpi, com suas tradicionais bandeirolas. No entanto, uma reforma irresponsável, realizada na década de 60, cobriu as paredes com tinta e a obra de Volpi se perdeu definitivamente.
Estão sendo realizados trabalhos de restauração, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) escolheu Francisco Galeno para fazer uma nova pintura no interior. Ele se inspirou no próprio Volpi, e fez um projeto bonito, singelo, quase infantil: a Nossa Senhora de Fátima, com o rosto não identificável, se apresenta entre pipas e bandeirinhas.
“Essa gente não acredita em Deus nem na arte”, reclama Galeno, referindo-se aos detratores de seu trabalho. “O fanatismo torna as pessoas cegas.” Para explicar sua pintura, ele lembra que, segundo a tradição católica, Nossa Senhora apareceu para três crianças da cidade de Fátima, interior de Portugal. “Essas crianças eram pastoras, tinham uma vida difícil, mas certamente também brincavam”, afirma ele.
O tom alegre dos desenhos de Galeno incomoda os fanáticos, que preferem identificar a religião com a dor, a culpa e o martírio. Contra o tradicionalismo, pesa o fato de que a Igrejinha é um dos símbolos da modernidade e do futurismo de Brasília, e ela não é propriedade deste ou daquele grupo religioso. Recebe não apenas católicos intolerantes, mas também turistas e visitantes da cidade, do país e do mundo.
A Igrejinha fica aberta diariamente, de manhã e à tarde, o que a torna vulnerável à agressão e intolerância. Dizem que Deus é onipresente e tudo vê, mas por via das dúvidas vão instalar umas câmeras para vigiar o ambiente.
Há um abaixo-assinado na internet em apoio à obra de Galeno. Acesse aqui.
OUVIR LEONARD COHEN

Não explique - mergulhe. Por exemplo, ouça Leonard Cohen. Entregue-se às canções desse bardo canadense, que completa 75 anos em setembro e tem se apresentado nos Estados Unidos e Europa com um megashow de quase três horas de duração, gravado neste precioso CD recém-lançado no Brasil - "Live in London".
Deixe-se envolver por essa música inexplicável, moldada por poemas de grande intensidade, cantados, quase declamados, por sua voz ao mesmo tempo áspera e doce, que você nunca vai se cansar de ouvir.
FESTA À FANTASIA

Então ficamos assim: o coronel se traveste de juiz, os jornalistas se travestem de cozinheiros e costureiros, os bandidos se tornam guardiões da democracia, o presidente da República se traveste de enviado de Deus para salvar o Brasil e o mundo, os estudantes se travestem de sindicalistas pelegos. Isto não é uma nação, é uma festa à fantasia. De fora do castelo, os não-convidados chafurdam no lixo.
O ÚLTIMO SHOW DE ZÉ RODRIX
A TV Brasil, conhecida por aí como "a TV do Lula", apresentou ontem, quarta-feira, 27, no programa Cena Musical, o que teria sido o último show gravado pelo músico Zé Rodrix, que morreu no dia 22. Ao lado de seus parceiros Sá e Guarabyra, Rodrix interpretou os eternos sucessos do trio, agora que está para ser lançado um novo CD de canções inéditas do grupo. O show gravado pela emissora incluía trechos de entrevistas dos músicos. Foi emocionante. O ponto fraco do programa é a péssima qualidade sonora da TV Brasil. Parece que o dinheiro público investido no equipamento da emissora foi insuficiente... Ou será que uma parte dos recursos tomou outros destinos?
ZÉ RODRIX ERA UM GRANDE CARA

Nessa época, Elis Regina gravou Casa no Campo, de Zé Rodrix e Tavito. Irônico, criativo, lírico, sarcástico, Zé Rodrix sabia captar em sua poesia o lado inusitado das coisas banais, ou revelar o ridículo das coisas sérias. Mas também abordava com lirismo alguns temas universais.
Depois Zé Rodrix se afastou do trio e eu continuei seguidor de Sá e Guarabyra. Até que em 2001 Zé Rodrix voltou a se unir ao grupo. Eles gravaram um CD, Outra vez na estrada, cheia de canções memoráveis e novas canções surpreendentes - entre elas, uma de suas obras-primas, Jesus numa moto.
Em janeiro, fizeram em Brasília um show de pré-lançamento do CD novo, Amanhã, que misteriosamente ainda não chegou às lojas. Cantaram todas as músicas do novo disco e estavam num astral ótimo, entrando numa nova fase da carreira, num daqueles recomeços que dão toda energia ao impulso criativo.
O Brasil perdeu um grande cara, criativo, e nossa música ficou mais pobre. Espero que Sá e Guarabyra, que voltarão a ser dupla por força da fatalidade, não se abalem e sigam em frente.
BRASÍLIA, O LIXO E OS TURISTAS
Cento e sessenta toneladas de lixo, segundo o Serviço de Limpeza Urbana (SLU); 21 esfaqueados, sendo um morto, segundo a Polícia Militar; presença de mais de um milhão de pessoas, segundo o Governo do Distrito Federal, que despendeu R$ 10 milhões para transformar a Esplanada dos Ministérios, área nobre de Brasília, numa gigantesca muvuca. Não dá para entender o sentido de uma bagunça desse porte. O governo local está empenhado em atrair turistas para Brasília, uma cidade tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade graças à beleza e leveza de sua arquitetura. Será que turistas do Brasil e do mundo vêm a Brasília em função dessa festa?
LÁ SE FOI UM AMIGO
Na foto que ilustra esta postagem, Kido, à esquerda, me apresenta algumas cervejas belgas, entre elas a irresistível Westmalle, feita por monges trapistas. Estávamos em Louvain-la-Neuve, Bélgica, onde ele viveu de 1993 a 1996 e me recebeu durante dois dias no pequeno apartamento em que morava com a esposa, Tânia. Nessa ocasião, Kido me apresentou algumas canções que havia composto sobre poemas que lhe cedi quando ele deixou o Brasil.
Na volta, no fim de 1996, Kido mergulhou em atividades profissionais e me informou que música, a partir de então, seria só para relaxar. Lamentei a decisão, pois Kido tinha talento, que demonstrou nos anos heróicos de Brasília - quando a cidade era um deserto decorado por um prédio aqui, outro ali - e depois, já repórter do Jornal do Brasil, quando uma vez por semana se apresentava num bar da Asa Norte ao lado de Ney Flávio Meirelles.
De Louvain-la-Neuve eu trouxe um presente precioso, que guardei com carinho - uma gravação em fita cassete, voz e violão, de nossas incipientes parcerias. Kido era uma pessoa generosa e eu o considerava um amigo. Soube com dois dias de atraso que ele não estava mais entre nós. Este texto é uma tentativa de prestar-lhe uma homenagem, aquela inútil homenagem que nos sentimos tentados a fazer, como se pudéssemos operar algum milagre.
OS 49 ANOS DE BRASÍLIA [4]

Destaques: Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional (sábado, 18h), Liga Tripa (foto - sábado, 19h), Mapati (domingo, 10h), Bumba meu boi do Seu Teodoro (domingo, 13h), Brazilian Blues Band (domingo, 19h40), Móveis Coloniais de Acaju (domingo, 21h) e Plebe Rude (domingo, 22h).
Apesar dos bons nomes reunidos, faltou ao GDF inspiração para uma programação realmente criativa, com ocupação de diferentes espaços e eventos artísticos mais diversificados.
OS 49 ANOS DE BRASÍLIA [3]

Os grandes pensadores do governo do DF acreditam que sim. Acham que pagar R$ 500 mil para a decadente "artista" fingir que canta seu playbacks no alto de um palco na Esplanada vai encher Brasília de turistas.
A multidão que deverá comparecer aos gramados (e enchê-los de lixo, mijo e merda) não é formada por turistas. É formada por moradores das várias cidades que compõem o Distrito Federal e seu entorno. São pessoas que buscam lazer barato. São pessoas que não têm opção de lazer, entretenimento e cultura, a não ser a tediosa televisão.
O governo do DF não tem política cultural. Não investe em bibliotecas, centros culturais. Não incentiva o aparecimento de artistas entre a juventude da periferia. Não mantém uma política de formação de música, de artes plásticas, teatro. Não investe em política de incentivo à leitura. Não compreende que a arte é o melhor remédio para combater a ociosidade, a droga e o crime.
É por isso que a Esplanada ficará lotada para ver Xuxa e os bregas que comemorarão os 49 anos de Brasília.
Apoiar a cultura não é necessariamente lotar o palco com artistas que moram na cidade, embora muitos deles mereçam uma chance de se apresentar a seu público.
Apoiar a cultura é estimular as atividades culturais entre a população, para que todas as pessoas entendam que a vida é muito mais que lutar o dia inteiro pela sobrevivência e à noite amortecer diante das novelas da Globo (ou mediocridades que tais).
OS 49 ANOS DE BRASÍLIA [2]

Os festejos deste ano terão, além de Xuxa e Cláudia Leite, duplas breganejas e algumas outras bobagens, como demonstração de motocross (será que vão sacrificar os gramados?) e cavalhada. Toda a programação é pensada pela Brasiliatur, empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento e Turismo. A Brasiliatur está sendo investigada pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas.
A Secretaria de Cultura não participa porque a Secretaria de Cultura não existe. Há algum tempo, o virtual secretário, Silvestre Gorgulho, declarou que a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional é uma das melhores orquestras do mundo. Então por que não dão a oportunidade ao povo de Brasília de ouvir sua orquestra, ao ar livre?
No ano passado, Brasília foi eleita a Capital Latino-Americana da Cultura. Eleita é modo de dizer. O governo local comprou o título, para divulgar o nome da cidade e atrair turistas. O governo não sabe que turistas, especialmente internacionais, não são burros.
O que aconteceu nesse ano em que Brasília foi a Capital Latino-Americana da Cultura? O único evento digno de nota foi a Bienal Internacional de Poesia, que aconteceu graças aos esforços do diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, Antonio Miranda, ao apoio de algumas embaixadas e à parceria com órgãos federais. A Bienal de Poesia aconteceu apesar do governo do DF, e não graças ao governo do DF.
O que seria necessário para atrair turistas, o governo local continua não fazendo. Manutenção permanente de nossos monumentos. Transporte público decente, pontual, seguro e com informação de percursos. Sinalização abundante. Abertura de monumentos e palácios para visitação. Melhora dos acervos de museus e galerias, hoje abandonados. Preparo e educação de funcionários. E colaboração da iniciativa privada. Afinal, o atendimento em estabelecimentos comerciais, de todas as espécies, de butiques a restaurantes, é disparado o pior do Brasil.
OS 49 ANOS DE BRASÍLIA [1]

Este é o "grande evento" programado para as comemorações de aniversário de Brasília. A platéia também ouvirá Cláudia Leite, brega da axé music. A moça receberá R$ 450 mil, e assim já se vão R$ 950 mil da festa dos 49 anos.
Gente idiota é o que mais existe no mundo e, em particular, no Brasil e, mais especificamente ainda, em Brasília - assim parece pensar o Governo do Distrito Federal. Nesse aspecto, não deixará de ter razão, se conseguir o que pretende - reunir 1 milhão e meio de pessoas para ver as grandes atrações da festa.
Os mentores dessa aberração comemorativa são o governador José Roberto Arruda e o vice Paulo Octávio.
O presidente da Brasiliatur, empresa do governo vinculada à Secretaria de Turismo, Rôney Nemer, deixou o cargo na semana passada, às vésperas do aniversário da cidade. Há rumores de que ele se recusou a pagar metade do cachê de R$ 800 mil para o obscuro "cantor" baiano Edu Casanova para divulgar Brasília em Salvador (essa é outra aberração de que falarei depois).
No dia 8 de abril, quarta-feira, Nemer participou da divulgação da programação dos eventos comemorativos dos 49 anos. Demissionário ou não, ele é tão cara-de-pau quanto Paulo Octávio, que acumula o cargo de secretário de Desenvolvimento e Turismo. Tanto que exibiram sorrisos amarelos para contar a glória de gastar quase R$ 1 milhão com Xuxa e Cláudia Leite.
E a Secretaria de Cultura, como fica nessa história?
É uma ilusão de ótica. Seu titular, Silvestre Gorgulho, não é da área, nada entende de cultura, e não passa de um fantoche da área de turismo do GDF. A política cultural do governo Arruda simplesmente não existe, mas o Silvestre circula com orgulho em quase todos os eventos que o pessoal do turismo inventa para fins culturais. Como bom carneirinho, ele balança a cabeça.
Veja aqui.
ADEUS, CALIANDRAS!!

Em desabafo poético, o ator e escritor Adeilton Lima apresenta dois lados de Brasília: o romântico, que se esconde no passado, e o real, que parece apontar para o futuro... Com a publicação deste texto, este blog faz uma homenagem ao amigo Adeilton Lima e dá uma cutucada comemorativa nos 49 anos de Brasília, na esperança (?) de que os 50 anos nos reservem uma comemoração mais digna.Velhos tempos os de Eduardo e Mônica, personagens da canção de Renato Russo. Eles iam ao Parque da Cidade passear, à Cultura Inglesa ver um filme, à Escola Parque assistir a uma peça de teatro, e também ao Teatro Galpão, não perdiam o Concerto Cabeças, etc. Tempos em que podiam jogar uma conversa fora embaixo do bloco onde moravam; ou mesmo, sem qualquer preocupação, pegar um ‘busão’ e se mandar para Taguatinga para acompanhar a programação do Teatro Rola Pedra.
O romantismo acabou. A cidade cresceu, ou melhor (pior), inchou. Foram tantas as doses de botox político nos currais eleitorais do Centro-Oeste, que hoje quase não se reconhece mais o velho Distrito Federal doutros tempos, agora obeso, maltrapilho e jogado na sarjeta. De tempos em tempos, alguém se lembra de lhe dar um prato de sopa, sob o viaduto fedorento, frio e desnudo da miséria, das drogas e da violência.
Vive-se hoje em Brasília, e no Distrito Federal como um todo, na base da paranóia coletiva, com o medo constante da própria sombra, e cada vez mais as pessoas se vendo trancafiadas atrás de grades, alarmes e câmeras de segurança, etc. Isso, para os que têm dinheiro, porque quanto ao pobre, ele continua sofrendo discriminações e estupros no bolso, na carne e na alma. Se de um lado, o trabalhador é assaltado pelo político, por outro, levam-lhe as parcas economias numa esquina qualquer da cidade que não tinha esquinas...
Investir em cultura e educação ninguém quer, não dá voto, não dá lucro. Preferem inaugurar postos policiais de fachada para “combater a violência”. Tudo tão medíocre e hipócrita quanto o choro de Joaquim Roriz ou de José Roberto Arruda na tribuna do Senado.
Brasília está tão descaracterizada que Eduardo e Mônica soam distantes e amarelados na memória, como o gramado nos tempos da seca. A cidade está secando moral, cultural e politicamente. O bom gosto, a irreverência e o rock se foram.
Imperam agora a violência, os playboys e o axé music.
Adeus, caliandras!
Adeilton Lima mantém o blog Transe Teatro.
FORA DO AR
Este blog ficou inacessível desde o sábado, 28 de março, até ontem, 31, terça-feira, devido a problemas técnicos nos servidores. A interrupção reduziu a quase zero a visitação, que vinha crescendo diariamente há alguns meses. Peço desculpas aos internautas e convido para novas visitas, agora que o problema está sanado.
LEMBRANDO CECÉU

Angélica Torres, Ariosto Teixeira, Ana Ramiro, Carla Andrade, Fernando Marques e Ivan Sérgio, sob a coordenação deste escriba que lhes escreve, ocuparão o palco do Palavra Solta para uma apresentação de cerca de uma hora. O projeto Palavra Solta dá continuidade aos saraus do Poemação, evento realizado dentro da programação da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, em setembro do ano passado, que levou muita gente a bares e cafés da cidade.
O Palavra Solta começa às 21h. O Café Martinica fica na Comercial da 303 Norte, bloco A. Apareçam por lá. A poesia falada é um ótimo programa de sexta-feira.
PROGRAMA LEITURAS

Quem se interessar, ainda tem duas chances, no próximo sábado, 14, para ver o programa - às 9h30 e às 20h. E é bom lembrar que a 14 de março se comemora o Dia Nacional da Poesia. Agradeço a atenção de quem assistiu a entrevista e aos que a comentaram. Vai também um agradecimento especial a Maurício Melo Júnior e à equipe de produção do programa pelo espaço que me deram.
POESIA NA TV SENADO

CIRCO NO GIRAPEMBA

CASTRO ALVES NO CAFÉ

Castro Alves será o poeta homenageado no II Palavra Solta, encontro poético que acontece mensalmente no Café Martinica, na 303 Norte, em Brasília. O evento será realizado a 13 de março, véspera do Dia Nacional da Poesia.
Para esta edição, Angélica Torres, Ariosto Teixeira, Carla Andrade, Fernando Marques, Ivan Sérgio, Paulo José Cunha e este que lhes escreve farão leituras de poemas autorais e também de Castro Alves. A eles se juntará um poeta convidado, cujo nome ainda não está definido.
O I Palavra Solta, que aconteceu no dia 23 de janeiro, teve ótima recepção do público. O homenageado foi Manuel Bandeira. Em fevereiro, excepcionalmente o evento não será realizado, devido aos feriados de Carnaval.
Para esta edição, Angélica Torres, Ariosto Teixeira, Carla Andrade, Fernando Marques, Ivan Sérgio, Paulo José Cunha e este que lhes escreve farão leituras de poemas autorais e também de Castro Alves. A eles se juntará um poeta convidado, cujo nome ainda não está definido.
O I Palavra Solta, que aconteceu no dia 23 de janeiro, teve ótima recepção do público. O homenageado foi Manuel Bandeira. Em fevereiro, excepcionalmente o evento não será realizado, devido aos feriados de Carnaval.
FLIPIRI

A Flipiri é uma idéia da empresária Íris Borges, ex-presidente da Câmara do Livro do Distrito Federal. A festa deste ano é modesta, mais voltada para o público local que para os turistas. Mesmo assim, estão previstas 84 atividades ligadas à literatura, com a participação de 17 escritores, a maioria de Brasília (João Bosco Bonfim, Lucília Garcez, Rosângela Rocha, Alexandre Lobão, entre outros).
Com certeza, a Flipiri vai pegar. E teremos uma razão a mais para viajar a Pirenópolis.
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