I Bienal de Poesia promete iluminar Brasília

O espírito da Poesia vai visitar Brasília e lançar sobre a confusão dessa cidade, onde a beleza da arquitetura e as negociatas políticas se confundem, seu claro raio ordenador. De 3 a 7 de setembro de 2008, a Biblioteca Nacional, parte do Conjunto Cultural da República e vinculada à Secretaria de Cultura do DF, promove a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília (BIP), ocupando vários espaços urbanos com uma programação ambiciosa. Um belo presente para a cidade que acaba de ser eleita pelo Bureau Internacional de Capitais Culturais a Capital Americana da Cultura 2008.

Escritores e estudiosos reconhecidos internacionalmente estarão na capital brasileira para participar de atividades que vão de sessões livres de recitais a conferências e debates. A BIP será realizada em salas da Biblioteca Nacional, do Teatro Nacional e de vários outros espaços, pertencentes ou não ao governo local, além de bares, cafés, escolas, livrarias, e também ao ar livre. Os eventos não se restringirão a Brasília – os poetas invadirão outras cidades do DF e do Entorno. A programação ainda não está fechada, mas o evento, segundo o diretor da Biblioteca, Antonio Miranda, já conta com patrocínio de entidades nacionais e internacionais e apoio de diversas embaixadas, além do interesse de poetas brasileiros e estrangeiros.

As novas tendências da poesia contemporânea brasileira e internacional estarão representadas em diversas linguagens – escrita, falada, musical, performática. Estão previstas sessões de poesia visual, varais, exposições de banners gigantes, exibição de documentários, projeção de textos nas paredes externas de monumentos da Esplanada dos Ministérios, além da realização de oficinas, concursos, seminários e conferências.

A Bienal de Poesia, da forma como está sendo pensada, tem tudo para exercer o papel agregador que falta ao cenário poético da capital brasileira, que conta com bons escritores, muita atividade literária, mas de forma segmentada e fragmentária. Espera-se que a Poesia se desnude de paletós e gravatas e invada as ruas de Brasília, atraindo não apenas os freqüentadores de alguns auditórios isolados, como também a moçada que discute literatura nos bares. Este será o primeiro grande desafio da Bienal. O segundo será a continuidade, para que possa, de fato, ser chamada de Bienal – ou, quem sabe, até Anual, por força do sucesso.

Leia aqui todas as notas e informações sobre a Bienal Internacional de Poesia de Brasília publicadas neste blog.

Sem perdão

A poesia de J.W. Solha deve ser lida em voz alta

“Minha arte é bruta”, avisa um dos primeiros versos de Trigal com Corvos, livro de poemas do multiartista J.W. Solha. Mas é uma brutalidade serena, embora incontida; a brutalidade dos inconformados. São 110 páginas, ao longo das quais ele desfila um rosário de inconformismos, em versos que evocam desde a Rainha Má da história da Branca de Neve até Hitler, Gengis Khan, passando por Fellini e Jimmy Hendrix e, acima de todos, Deus.

Solha escreveu romances e peças de teatro, atuou no cinema e fez exposições de pintura. Trigal com Corvos, seu único livro de poesia, foi lançado em co-edição entre a Imprell, de João Pessoa, onde ele vive, e a Palimage, de Portugal, depois de classificar-se entre os finalistas da Bienal Nestlé de Literatura, em 1991.

Trigal com Corvos é um grande poema cujos versos vão trocando de temas e abordagens com a velocidade de um caleidoscópio. Parece veicular a ansiedade do autor, que derrama suas angústias acumuladas e não perdoa nada nem ninguém. “O que existe é um frio programa que usa sofrimentos como esporas que / estuguem nosso esforço pela Evolução / e onde o que importa é o superorganismo chamado Homem / não cada uma das milhões ou bilhões de céulas ambulantes que somos dele / salvaguardada entre nós a preservação de uma média permanentemente ativa / sempre renovada / que garanta a marcha ao ponto para onde convergem ou de onde partem / todas as nossas perspectivas”.

A lógica da poesia de Solha – se é que poesia e poeta devem seguir alguma lógica – é a do alienígena que testemunha absurdos e não consegue compreender a docilidade de seus agentes e vítimas. É a lógica da criança que aponta o dedo e pergunta: “Por que – se existe um Deus – não me fez melhor? / Imagino que teria sido mais fácil do que planejar / sincronizar / e programar o lépido movimento octópode das aranhas e o do exército de pernas das centopéias!”

Solha começa o livro questionando a si próprio – ou, para ser exato, o ato de escrever. Passa, em seguida, a tentar compreender, ou incompreender, o tempo e o envelhecer, inútil atividade sem fim da literatura. E, ao final, desmascara Deus: “se houvesse realmente acontecido algum momento / na História / em que alguém tivesse encravado uma coroa de espinhos em Deus / e lhe tivesse metido umas porradas na cabeça / cuspido na cara dele / despejando-lhe uma carrada de desaforos / mereceria de mim o perdão / pois o que o homem sofre neste mundo / criado por tal personagem criado por nós / ...é de um sadismo que chega a ser... torpe.”

O livro de W. J. Solha não é daqueles que o leitor esquece na estante e na memória. Sua poesia é de uma aspereza que incomoda o leitor – e ele se põe de pé, para ler em voz alta.

(dezembro/2007)

Anderson e os Criadores de Mantras

O escritor Anderson Braga Horta lança nesta terça, 4 de dezembro, no auditório da Thesaurus Editora, seu livro Criadores de Mantras, que reúne ensaios e conferências. Haverá apresentação musical do violonista Rodrigo Bezerra e do acordeonista Phillipe Alves. A Thesaurus fica no Setor Gráfico, quadra 8, lote 2356, em Brasília. O telefone é 3344-3738.