[história afetiva] PROTÓTIPO Nº 7

A sétima edição de Protótipo, publicada em novembro de 1975, que pretendia ser a primeira de uma segunda fase, marcou a despedida da revista literária, lançada em novembro de 1972 na cidade de Passos (MG). Ela veio com aspecto gráfico totalmente diferente das anteriores, pois foi a única impressa em offset, tecnologia surgida havia poucos anos, que representava grande avanço em relação ao mimeógrafo a tinta. A capa da revista simbolizava essa mudança: trazia um desenho de Wagner de Castro, artista residente em Passos e nome importante das artes plásticas em Minas Gerais.

Nessa nova fase, até a sede da revista mudou, passando a ser Belo Horizonte. O contista João Antônio, que algum tempo depois alcançaria projeção nacional, foi um dos destaques da edição. Protótipo também publicou Wander Piroli, Jeferson de Andrade, Henry Correa de Araújo e Ronald Claver, autores que ganhariam importância na literatura brasileira, além dos habituais editores da revista. Em suas páginas apareceram ainda dois escritores estrangeiros: o guatemalteco Otto René Castillo e o peruano Jorge Spinoza Sanchez.

Apesar do longo intervalo entre esta edição e a anterior, publicada dois anos antes, o núcleo da equipe permaneceu ativo, seus integrantes amadureceram. Saídos do ninho no interior de Minas, todos já viviam em centros maiores, frequentavam universidades e começavam a tocar a vida. Para alguns dos fundadores da revista, a literatura já representava claramente um projeto para o futuro. Outros já haviam feito outras opções e, embora tenham publicado seus exercícios literários nas primeiras edições, já nem constavam mais do expediente. Infelizmente, a fase da maturidade de Protótipo durou apenas um número.

A efervescência cultural e literária que marcou a década de 1970 no Brasil, e gerou grande número de revistas, não indicava para os escritores da época perspectivas muito otimistas. Na entrevista concedida ao jornalista José Louzeiro, publicada nessa edição, João Antonio reclamava da falta de editores, da falta de crítica literária e da falta de uma política de governo para a literatura. Na época, ele defendia que a televisão, “maior veículo de divulgação do mundo atual”, acolhesse o escritor como profissional de criação.

Na contracapa da revista eram anunciadas algumas das atrações do oitavo número, nunca publicado: Roberto Drummond, Elias José, Adão Ventura, Sérgio Santanna e o chileno Alfonso Alcalde. Por ironia, era a primeira vez que uma edição da revista anunciava a seguinte.

Foi a única edição de Protótipo que não veiculou anúncios do comércio de Passos, onde a revista nasceu, mas o editorial destacava a colaboração financeira da Prefeitura Municipal daquela cidade. E, embora a tecnologia de impressão fosse bem mais moderna que o rudimentar mimeógrafo, o excesso de detalhes gráficos “sujou” a revista, prejudicando a leitura. Fruto da inexperiência dos editores, que exageraram ao brincar com as possibilidades da editoração gráfica.

A sétima edição abria uma nova perspectiva para a revista, e os erros certamente seriam corrigidos nas edições seguintes. Protótipo ainda prometia muito para o futuro. Deixou saudades.


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