ESTRANHOS

O compositor Octávio Scapin faz neste domingo, 4 de outubro, em Goiânia, show de lançamento de seu CD Nunca converse com estranhos. Será no Cine Goiânia Ouro, às 20h. Octávio Scapin vem construindo uma obra musical muito interessante, com melodias elaboradas e letras que fogem ao lugar comum. Por isso, é bom prestar atenção no seu trabalho: quem não estiver em Goiânia pode conhecer algumas canções do novo CD pelo MySpace. Este escriba participa do CD com dois poemas que Octávio musicou. Está em ótima companhia.

TRIBUTO A AFONSO FÉLIX DE SOUSA

O poeta Afonso Félix de Sousa será o homenageado desta quarta-feira, 23, no programa Tributo ao Poeta, realizado pela Biblioteca Nacional de Brasília. Afonso morreu há sete anos, deixando uma poesia de grande força, "telúrica, lírica e mística", na definição de Antonio Carlos Secchin. A participação nesta homenagem me leva a um mergulho mais profundo em sua obra e me desperta a vontade de ler todos os seus livros. A pequena amostra que apresentaremos no evento nesta quarta-feira já revela alguns aspectos interessantes de sua poesia, especialmente para quem a lê em voz alta, tentando compreender seu complexo processo de criação e abrir o coração para a emoção veiculada em seus versos.

NASCER PELO AVESSO

Aí está o Paulo Tovar, personagem da história da música e da poesia brasilienses. É co-autor, ao lado de Aldo Justo, de Juriti ("Meu coração tem um desejo imenso / de ver o dia nascer pelo avesso / meu coração mão de pilão / tem um jeito do avoar"), que toda a moçada cantou junto com o grupo Liga Tripa nos anos 70/80, e continua cantando até hoje. Publicou vários livros de poesia, seus e de autores amigos, e tocou muitos projetos guiados por incurável inquietação. O último desses projetos a chegar às mãos de seu público, o CD H2Olhos, é uma leitura ensandecida do universo cultural brasiliense, a começar pela mistura de ritmos. Mas o incansável Paulo Tovar meteu o pé no balde: acuado por um câncer, refugiou-se em sua cidade natal, Catalão (GO), onde permanece para sempre. Brasília não o esquecerá.

ADEUS A ANTONIO OLINTO

A notícia da morte do escritor e acadêmico Antonio Olinto, ocorrida no sábado, 12 de setembro, causou-me tristeza. Com uma obra que abrange poesia, romances, ensaios, crítica literária e análise política, Olinto era também um especialista em história e cultura afro-brasileira. Durante cerca de 20 anos foi crítico literário do O Globo. Seus livros foram traduzidos para 19 idiomas. Não o conheci pessoalmente, mas guardo com orgulho o texto que ele escreveu em maio de 2006, em sua coluna no jornal carioca Tribuna da Imprensa, sobre meu livro de poemas Arqueolhar. Mais que os superlativos, o que me chamou a atenção foi a sua leitura cuidadosa e aprofundada, aquela que dá ao autor a sensação de que publicar o livro valeu a pena.

CORAÇÃO VAGABUNDO

O tempo trouxe maturidade e levou embora um tanto daquela arrogância que Caetano Veloso parecia gostar de exibir. Mas o gênio, o olhar aguçado, a sensibilidade e a capacidade de observação continuam afiados, a julgar pelo que se vê no documentário Coração Vagabundo, lançado nacionalmente no final de julho e ainda circulando pelos cinemas do Brasil.

O filme de Fernando Grostein Andrade
mostra momentos de intimidade do músico baiano durante turnês de lançamento do CD Foreign Sounds, em shows realizados em São Paulo e cidades dos Estados Unidos e do Japão (2003-2005). Chega a ser estranho ouvir Caetano falar de suas dificuldades com a língua inglesa ao enfrentar uma entrevista na televisão norte-americana. “Eu sou de Santo Amaro, e lá vivi até os 18 anos”, afirma ele. “Não sou de São Paulo, uma cidade com espírito cosmopolita.” Não é qualquer baiano que encara aquela gororoba japonesa que Caetano se esforça para provar, na cena mais hilária do filme.


Ao mesmo tempo, é emocionante
ver Caetano Veloso interpretar, em plena forma, clássicos do jazz ou os seus próprios, com destaque para Terra, uma das mais belas canções feitas no Brasil desde que o Festival da Record revelou o músico. E as manifestações de fãs ilustres, como o cineasta Pedro Almodóvar e o cantor David Byrne, só reforçam a experiência dos brasileiros privilegiados que acompanham sua carreira. Coisa que estrangeiros anônimos também aprenderam a fazer, como o monge que se declara fã, ou os japoneses que contorcem a língua para entoar trechos de suas canções.


Outro momento marcante do filme
é a rápida aparição do cineasta Michelangelo Antonioni, homenageado por Caetano com uma bela canção. Antonioni revê num computador um de seus grandes momentos no cinema, a cena final de Passageiro profissão repórter, enquanto conversa com a esposa sobre o músico brasileiro.


O documentário também mostra
que a produtora do filme, Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano, é aquilo que sempre foi: uma chata. Na época, o casal estava em processo de separação e Caetano demonstra, em algumas passagens, não viver bom momento emocional. Agora que Caetano Veloso está livre de Paula Lavigne, quem sabe volte a criar um grande disco, como os que fez nos anos 70 e 80? Ao mostrar o grande artista que ele é, o filme nos reacende a esperança.