FEIRA? LIVRO? BRASÍLIA?

Podem escrever: a Feira do Livro de Brasília não será realizada este ano. Seria a 28a. edição. Seria.

Feiras de livros são importantes
para estimular a leitura e aproximar escritores e leitores. Não são apenas um amontoado de barracas onde se vendem livros. São eventos onde ocorrem palestras, lançamentos, concursos, encontros.


A novela da 28a. Feira do Livro de Brasília
vem de longe. Havia sido marcada para a primeira semana de setembro, depois foi adiada para 16 a 25 de outubro, depois para 23 de outubro a 1 de novembro. Vai ficar para 2010 - se vier.


A Câmara do Livro do DF
precisa de dinheiro oficial para viabilizar a Feira. Nos últimos anos a Feira realizou-se em local inadequado e improvisado, os corredores externos do centro comercial Pátio Brasil. A previsão, este ano, era utilizar o cimentão armado do Conjunto Cultural da República para montar a Feira. A Câmara do Livro precisa de R$ 2,5 milhões para preparar a estrutura. O governo José Roberto Arruda prometeu R$ 700 mil. Já havia prometido para que a feira começasse a 23 de outubro, mas às vésperas o dinheiro não havia saído.


O secretário de Cultura (?)
do DF, Silvestre Gorgulho, garantiu aos livreiros: "A Feira vai acontecer, nem que seja na minha casa." Até parece. A diretoria da Câmara, que empurrou o problema com a barriga até chegar a hora da decisão, deu um sorriso amarelo. Até esta terça-feira, 27 de outubro, tudo permanece na estaca zero.


O evento é importante e o governo deveria ter interesse de contribuir. Mas governador, secretário e toda a turma nada entendem de cultura. No ano passado, eles (o governo) compraram de uma entidade qualquer o título de "Brasília, capital brasileira da cultura", com validade de um ano. Nada aconteceu, absolutamente nada, que pudesse lembrar à cidade o pretenso título. Como se título mudasse alguma coisa.

Nos 49 anos de Brasília,
comemorados em abril deste ano, o GDF teve o prazer de pagar R$ 950 mil para as "cantoras" Xuxa e Cláudia Leitte se apresentarem ao público. No aniversário de 50 anos vão torrar muito mais. Cultura, para o governo local, é isso: juntar uma multidão ao redor de cantores bregas para duas horas de show.


O jornalista Sérgio de Sá,
no Correio Braziliense de sábado, 24, foi incisivo. Lembrou que uma feira do livro "precisa ter conceito", e que a sociedade brasiliense, "desinteressada", precisa "decidir se a cultura é importante para a vida em comunidade ou se prefere se contentar com shoppings, bares, automóveis e nada mais".


Sérgio de Sá está certo.
Enquanto a Câmara do Livro dorme e deixa tudo na mão do governo, o governo prefere construir viadutos, massacrar o verde da cidade com rodovias e promover megashows de duplas breganejas para celebrar a cultura. É a capital do Brasil.

É o Brasil.

POESIA NA CONEXÃO MARINGÁ

A revista Conexão Maringá trata de literatura e arte e é publicada mensalmente na net. Na edição de outubro, este escriba comparece orgulhosamente, com alguns poemas do novo livro, Exília, ainda inédito.

Exília
foi um dos projetos vencedores da Bolsa Funarte de Criação Literária no ano passado.

NOBEL DE LITERATURA PARA HERTA MÜLLER

A escritora Herta Müller venceu o prêmio Nobel de Literatura este ano. Foi anunciado nesta quinta-feira, 8, pela Academia de Ciências da Suécia. Nascida em 1953 em Nitzkydorf, Romênia, vive na Alemanha. Segundo a Academia, Herta Müller consegue, "com a densidade da sua poesia e a franqueza da sua prosa, retratar o universo dos despossuídos". A escritora não fazia parte da lista de apostas citada na postagem anterior.

Ela tem um livro publicado no Brasil: o romance O compromisso, pela Editora Globo. Saiu em 2004. O livro parte de experiências pessoais para mostrar as adversidades que ela viveu na Romênia comunista.

NOBEL DE LITERATURA: FAÇAM SUAS APOSTAS

Amos Oz, Joyce Carol Oates, Antonio Tabucchi, Carlos Fuentes, Milan Kundera, Umberto Eco, Paul Auster, Philip Roth. Entre azarões e bem cotados balançam os corações dos membros da Academia Sueca – e dos apostadores ingleses. O Prêmio Nobel de Literatura deve ser anunciado entre os dias 6 e 12 deste mês (a Academia não divulgou a data exata), e a temperatura das casas de apostas em Londres está alta.

Apostar é uma das manias inglesas, assim como cuidar de jardins e acenar para a Rainha. Eles arriscam suas librinhas em corridas de cavalos, jogos de futebol, ciclismo, eleições e muitas outras modalidades. No ano passado, quando o francês Le Clézio ganhou a maior láurea da literatura universal, o favorito era o italiano Cláudio Magris, que agora está em sétimo, cotado a sete por um. O mais cotado para este ano é o isrealense Amos Oz: quatro por um.

Na extensa relação de possíveis ganhadores, divulgada por uma das principais casas de apostas de Londres, a Ladbrokes, há escritores da Argélia (Assia Djebar, 5/1), Japão (Haruki Murakami, 9/1), Espanha (Luis Goytisolo, 9/1, Juan Marse, 25/1), Nicarágua (Ernesto Cardenal, 100/1), Coréia do Sul (Ko Un, 12/1), Suécia (Thomas Transtromer, 12/1), Canadá (Margaret Atwood, 25/1), Estados Unidos (Thomas Pynchon, 9/1, Philip Roth, 7/1, Paul Auster, 100/1), México (Carlos Fuentes, 50/1), Peru (Vargas Llosa, 16/1), Holanda (Cees Noteboom, 20/1), Inglaterra (Don Delillo, 25/1), Síria (Adonis, 8/1), Áustria (Peter Handke, 20/1) e muitos outros países. Até um queniano (Ngugi wa Thiongo), que paga 25 por um. O português Antonio Lobo Antunes é muito citado, mas não está na lista.

Brasileiros? Nem pensar. Dizem que a Ladbrokes não aceita apostas em brasileiros, porque em caso de tamanha zebra a casa iria à falência. Bem, é um boato, mas boatos correm junto com apostas. Autores conhecidos e desconhecidos (aqui entre nós) freqüentam a lista. O músico e poeta norte-americano Bob Dylan é um deles, e sua vitória paga 25 por um. Está bem melhor cotado que seu conterrâneo Paul Auster (100 por um). Mas zebras acontecem, caso da britânica Doris Lessing em 2007.

Um amigo meu acredita piamente que Paulo Coelho será o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio Nobel – ele não me disse se costuma apostar. Mas como jamais ganhou prêmios literários, vamos pensar em outros nomes. Os prêmios mais badalados por aqui – Portugal Telecom, Passo Fundo, Camões, São Paulo, Jabuti (alguns dos quais são destinados a autores de língua portuguesa, não apenas brasileiros) – têm apresentado uma série de coincidências de nomes e figurinhas carimbadas.

De acordo com pesquisas do mercado livreiro, em 2007 foram publicados no Brasil algo em torno de 10 mil títulos de autores nacionais na rubrica obras gerais, onde entra literatura. Então, como se explica que meia dúzia deles são sempre os mesmos a disputar os prêmios? São muito melhores que os demais? Ou são produto do marketing pesado das empresas editoriais?

No ano passado, o paranaense Cristóvão Tezza ganhou todos os principais prêmios distribuídos no Brasil, com seu romance autobiográfico O filho eterno. Você apostaria nele para o Prêmio Nobel?