Duas notícias

1) Desde 2002, o jornalista e poeta baiano (radicado em São Paulo) Carlos Machado distribui, via e-mail, o Poesia.net, um interessante boletim semanal em que divulga poemas e seus autores. O Poesia.net 201, que circula a partir de hoje, é dedicado a este escriba. Alguns poemas de Arqueolhar, meu livro lançado em 2005, estão nos monitores de mais de 2 mil internautas que recebem o boletim. É um trabalho feito por amor à poesia, que pode ser melhor conhecido no site Ave, Palavra, que guarda as 201 edições já distribuídas.

2) O jornalista e escritor Galeno Amorim acaba de inaugurar seu blog, com o claro objetivo de "contribuir para que o papel da leitura na vida das pessoas seja algo cada vez mais claro e também mais presente no imaginário coletivo". Para buscar esse nobre propósito, ele se propõe a contar, semanalmente, novas histórias de personagens, anônimos ou não, que modificaram suas perspectivas de vida graças aos livros e à leitura. E conclama os militantes da causa a dividir com ele a tarefa. É visita indispensável. Conheça!

14 de março, Dia Nacional da Poesia


Entre as nuvens, Castro Alves declama para os anjos.
O jovem poeta faz hoje 160 anos de idade,
e continua nos fazendo chorar.

Adormecida













Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.


'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos - beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia....
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
"Virgem! - tu és a flor da minha vida!..."


Castro Alves, 1868

Na capital do Brasil, é proibido entrar na Biblioteca

Quem tenta visitar a Biblioteca Nacional de Brasília, inaugurada com toda a pompa pelo presidente Lula em dezembro, esbarra em dois policiais militares que guardam a porta do edifício. É proibido. Só é possível conhecer uma pequena sala à esquerda da entrada, onde está montada uma desinteressante exposição de fotografias pertencente ao Arquivo Público do DF.

A Biblioteca Nacional, edifício de cinco pavimentos, com 11.500 metros quadrados, está literalmente vazia, três meses depois de sua inauguração e suposta abertura ao público. Deverá contar com um acervo de 500 mil volumes. Teoricamente - porque nenhuma autoridade se dispõe a informar de onde virá esse acervo, quando virá, se virá. Enquanto isso, o secretário de Cultura do DF, Silvestre Gorgulho, a quem cabe (também teoricamente) a administração da Biblioteca, discute com o Ministério da Cultura um projeto comum para "tornar Brasília a capital cultural do Brasil" e com o Ministério da Ciência e Tecnologia a criação de um acervo digital.

Emir Suaiden, diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), instituição vinculada ao Ministério, já deu uma aula aos 16 secretários do GDF sobre a futura (?) Biblioteca Nacional Digital, um projeto que, segundo ele, "viabiliza a implantação de um centro de inclusão social numa biblioteca onde o virtual, o digital e o bibliográfico funcionarão em harmonia".

Enquanto as autoridades discutem idéias e propostas, o elefante branco dorme. O edifício faz parte do Complexo Cultural da República, que custou R$ 110 milhões ao Governo do Distrito Federal. O outro edifício, inaugurado no mesmo dia, é o Museu da República. Segundo o governo local, sua missão é incluir a cidade no circuito nacional e internacional de exposições. Conta com sistema de climatização e dois auditórios, além de salas para restauração de obras e laboratórios. Por enquanto, está ocupado com uma exposição de fotos de projetos do arquiteto Oscar Niemeyer ao redor do mundo.

O Complexo faz parte do projeto original de Brasília, de autoria de Niemeyer, e ocupa a ala sul da Esplanada dos Ministérios, próximo à Catedral Metropolitana. A ala norte ainda está vazia, o que por enquanto não faz grande diferença.