Anuncia-se para setembro do próximo ano a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, com o patrocínio da Biblioteca Nacional (leia-se Secretaria de Cultura do DF, pois a Biblioteca, juridicamente, não existe) e da Câmara do Livro do DF. O evento, de acordo com os organizadores, trará escritores, críticos e leitores (importante! Se trouxé-los, será sucesso) do Brasil e outros países para participar de leituras, conferências, debates, concursos, oficinas, exposições e apresentações públicas de todos os tipos.
Trata-se, em princípio, de uma grande notícia e é bom que comecemos a discuti-la. Portanto, todo o espaço necessário neste blog está, desde já, disponível para isso.
A primeira questão que me ocorre é a intenção de promovê-la "junto com a Feira do Livro de Brasília", um evento de responsabilidade da Câmara do Livro. Atenção: a Feira do Livro tem acontecido há vários anos em espaço absolutamente inadequado, o shopping Pátio Brasil, movido pela intenção de levar para a feira as pessoas que circulam por lá. Ora, público de shopping center não é, por definição, público leitor, embora seja, também por definição, público consumidor. Logo, uma Feira do Livro em shopping center não estimula necessariamente a leitura, embora estimule o comércio de livros.
A Feira do Livro de Brasília é um evento com intenções acima de tudo comerciais, e é preciso cuidado para não contaminar a BIP com esses propósitos. Posso parecer arrogante e purista, mas defendo que seria melhor caracterizar tal evento de poesia como um momento de contemplação, reflexão e apreciação da arte poética; uma grande confraternização de artistas que lutam, cada um em seu país, sua cidade, sua região, por um mundo menos mercantilista e mais humano; enfim, uma grande reunião de criaturas questionadoras que, ao desequilibrar a "normalidade" social, tornam o mundo um pouco mais equilibrado.
É claro que haverá venda de livros e é bom que um grande público compareça ao evento e os livros circulem bastante, como conseqüência natural de um evento de sucesso.
Contra o vínculo à Feira do Livro, um outro argumento: dois eventos que se pretendem grandes não podem acontecer juntos, ao mesmo tempo, pois fatalmente um sufocará o outro. No caso, é evidente que a Poesia sairá perdendo.
Também é importante que a organização já vacine a Bienal de Poesia, desde já, contra uma das mais graves doenças do mundo cultural brasileiro: a falta de continuidade. Em 1998, foi realizada, com grande sucesso, a I Bienal de Poesia de Belo Horizonte. Mas, como não aconteceu outra, ela desmentiu a si mesma - deixou de ser bienal - e foi lamentavelmente esquecida.
Leia aqui todas as notas e informações sobre a Bienal Internacional de Poesia de Brasília publicadas neste blog.