HOMENAGEM AOS POETAS DE BRASÍLIA

  O poeta e compositor Climério Ferreira presta uma inusitada homenagem aos poetas que vivem em Brasília. Seu livro Da poética candanga - Poesia sobre poesia (Ed. Casa das Musas) traz releituras e recriações de versos de autores da cidade. Este escriba é um dos homenageados, ao lado de Reynaldo Jardim, Guido Heleno, Cassiano Nunes, Ariosto Teixeira, Paulo Tovar, Eudoro Augusto, Chico Alvim, entre outros. 

Climério é professor aposentado da Universidade de Brasília e autor de canções de sucesso da MPB, ao lado de seus irmãos Clodo e Clésio. 

O livro será lançado nesta quinta-feira, 29, no Açougue Cultural T-Bone, 312 norte, em Brasília. Estaremos lá. 

[Foto: Arquivo Correio Braziliense, Elza Fiúza - 1979]

BELO MONTE DE MERDA

O Greenpeace depositou diante da entrada principal da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a melhor representação da Usina de Belo Monte e de outros projetos do governo: um monte de esterco. Sem maiores comentários. 

[clique na foto para ampliá-la]

BRASÍLIA NÃO TEM O QUE FESTEJAR

Os compêndios médicos tratam de uma rara doença, a síndrome de Hutchinson-Gilford, popularmente conhecida como progéria, que se caracteriza pelo envelhecimento precoce de crianças. Apresenta-se antes da adolescência e a perspectiva de vida é de no máximo 17 anos. A cidade de Brasília padece de uma síndrome parecida - uma certa progéria urbana.

 Ao completar 50 anos, Brasília sofre de todos os males de metrópoles que o tempo arruinou aos poucos. O péssimo serviço de transporte urbano cria o caos no trânsito. O desemprego estimula a violência, e a segurança pública é a pior possível. Miséria, corrupção sem disfarces em todos os níveis da administração pública, problemas ambientais. Hospitais não oferecem nem o mais básico serviço esperado. Crianças vivem nas ruas, sobrevivendo de esmolas e consumindo drogas. E para completar, a própria população carece de respeito pela cidade. Um retrato do Brasil.

Inaugurada em 1960, trazia o germe de males que grandes cidades do Brasil e do mundo já enfrentavam. Muitos desses problemas poderiam ter sido previstos ainda na prancheta, e sanados gradualmente.

Seus criadores esqueceram-se de um detalhe: como qualquer aglomerado urbano, nascia ali um organismo vivo, e seu destino era ser habitado por milhões de almas, criando uma sociedade, ou várias sociedades, complexas e carentes de boas condições de vida.

 O primeiro erro de seus construtores, que sonharam uma cidade meramente estática, foi não pensar o projeto de ocupação de todo o quadrilátero do Distrito Federal. Prevista para ser um centro administrativo, a capital do país é uma cidade artificial, com uma população de 200 mil habitantes. Tombada pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade, ocupa uma área de 450 quilômetros quadrados dentro dos 5.800 quilômetros quadrados do quadrilátero do Distrito Federal, que na época da construção de Brasília era uma enorme extensão de terra vazia sem qualquer planejamento de ocupação.

Os 200 mil habitantes dessa área privilegiada estão cercados de uma população de 2,4 milhões de “vizinhos” sem qualquer identidade com Brasília, que vivem em dezenas de cidades que se multiplicaram ao redor, sem qualquer planejamento urbano.

Os sucessivos governos do Distrito Federal, ao longo desses 50 anos, permitiram e até incentivaram essa ocupação desordenada, alimentada por uma especulação imobiliária descontrolada e pelo mito de que Brasília era um eldorado. O governo local chegou ao ponto de distribuir gratuitamente lotes para moradia de milhares de famílias, criando aglomerações urbanas populosas, sem que se criasse uma estrutura econômica geradora de empregos.

Essa enorme população, sem consciência de cidadania, sem qualquer projeto para o futuro, sem quaisquer intenções coletivas, só tem olhos para os problemas individuais de cada um. Os políticos entenderam que somente com propostas assistencialistas terão chance de se eleger. O eleitor do Distrito Federal não se incomoda com a corrupção, e é o grande culpado, sim, pela gente desqualificada que ocupa cada vez mais cargos públicos. Repito: é o retrato do Brasil.

 Algumas das maiores cidades do Distrito Federal, com mais de 200 mil habitantes, não têm cinemas ou teatros. Todos os equipamentos públicos do setor cultural, quase todos localizados na pequena área central tombada pela Unesco, estão abandonados. Obras importantes de artistas do Brasil e exterior, que compõem o acervo do Museu de Arte de Brasília, estão empacotadas para se proteger de goteiras e do mofo. O Cine Brasília, onde se realiza um dos mais tradicionais festivais de cinema do país, o Espaço Cultural 508 Sul, Concha Acústica, envelheceram sem manutenção.

Monumentos de grande importância cultural, como o Memorial JK, Teatro Nacional, Catedral Metropolitana, Palácio do Planalto (sede do governo federal) estão em péssimo estado de conservação. Os três últimos estão em obras, que não ficarão prontas na data de comemoração dos 50 anos, 21 de abril.

Criada para ser um modelo para o futuro, Brasília falhou em tudo e, ao completar 50 anos, não tem do que se orgulhar. A cidade é hoje um microcosmo do Brasil, um país incapaz de planejar seu desenvolvimento e que tenta resolver os problemas depois que eles surgem, sem criar uma estrutura de prevenção.

A grande utopia de Brasília, cidade cheia de propostas utópicas, foi a tentativa de se criar no centro do Brasil uma civilização avançada, de primeiro mundo. Foi também o grande fracasso. Se Brasília tivesse sido criada no mundo civilizado, provavelmente seria uma das cidades mais visitadas do planeta. Mas foi criada no Brasil, país que prefere crescer como um câncer, sem qualquer planejamento. Brasília tornou-se, assim, apenas a caricatura de uma utopia. 

[Foto 1: Poesia Nômade; foto 2: Ecotidiano; foto 3: UnB]

A PROFECIA DE SÁ, RODRIX & GUARABYRA

Gravado no segundo semestre de 2008, o CD Amanhã, de Sá, Rodrix e Guarabyra só foi lançado em fevereiro de 2010, quase um ano após a morte de Zé Rodrix. O CD traz 12 canções inéditas do trio, mas a faixa que mais chama a atenção é Novo Rio, uma profecia, carregada de lirismo, da tragédia que assolou o Rio de Janeiro nos últimos dias. Clique para ouvir.