BREVE MEMÓRIA DA BIENAL DE POESIA

Ao falar para uma platéia de 700 pessoas que lotavam o auditório do Museu da República, na abertura oficial da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, o poeta Affonso Romano de Sant´Anna perguntava por que o século XX, o mais sangrento da História, insistiu tanto em decretar a morte da poesia. E não apenas da poesia – falou-se em morte do livro, morte do romance, morte da história, morte da arte. Ninguém soube responder – espera-se, agora, que se decrete, isto sim, a morte dessa conversa. Em Brasília, a poesia mostrou-se viva e vigorosa, ao longo dos cinco dias da Bienal. Foi um contraponto aos chatíssimos desfiles militares da Semana da Pátria.

O QUIXOTE CONTRA OS POLÍTICOS CABEÇA-DE-VENTO
O evento, promovido pela Secretaria de Cultura do DF com o apoio de grande número de instituições e entidades, realizou-se graças à batalha quixotesca de Antonio Miranda, poeta, professor e diretor da Biblioteca Nacional de Brasília. Houve falhas, gafes, frustrações. Mas houve também grande mobilização de escritores e público em torno de uma proposta, reconheçamos, pretensiosa. Não do poder público, é claro. A experiência só vai se tornar tradição na cidade se for transformada em lei. Fora algumas experiências isoladas, o poder público no Brasil não prioriza eventos como esse.

O GOVERNADOR CONFESSOU QUE ERA POETA

Ao contrário do poeta e compositor Arnaldo Antunes, que não veio abrir o evento porque faltou dinheiro, o governador José Roberto Arruda compareceu à abertura. Chegou de helicóptero. Falou sobre sua infância e adolescência, e confessou que não estudou letras porque o pai não permitiu. Teve a coragem de recordar a derrubada dos totens poéticos do artista plástico Gougon por funcionários do governo. E até falou um poeminha. O público estava de alto astral e preferiu não vaiá-lo.

UM NOVO MOVIMENTO POÉTICO
“A modernidade fez a apologia do desencontro, invertendo o pacto que sempre houve entre poeta e comunidade”, falou Affonso Romano. “Se no passado o poeta era um oráculo e falava em nome da tribo, nos tempos atuais ele se escondeu para monologar.” Sant´Anna convoca os poetas para tomar de assalto os novos canais e recuperar o tempo perdido no século XX. É possível, se não mensurável, que isso já esteja acontecendo com a ajuda da internet, que abriu novas possibilidades de troca e divulgação, e um novo movimento poético se encontre em plena eclosão.

POETAS ESTRANGEIROS NÃO ATRAÍRAM PÚBLICO
A multiplicação de eventos cidade adentro levou bom público a auditórios, galerias, bares e cafés, bibliotecas, exposições. O Simpósio de Crítica de Poesia, realizado na UnB, foi prestigiado e agradou os ouvintes inscritos. Infelizmente, aquele que era talvez o programa mais interessante da Bienal, que reuniu grande número de poetas estrangeiros para leitura de seus textos, foi o que menor público atraiu. Acuado nos auditórios do Museu da República e com um nome péssimo – “Sessões magnas” – o evento estimulou pouca gente a se mover até lá.

REVERÊNCIA À POESIA E AOS LIVROS
Mais importante que a dimensão do público foi a reverência à poesia, o que se observou em praticamente todos os espaços. A ampla distribuição gratuita de livros, no primeiro dia da Bienal, chegou a ser surpreendente. Às quatro antologias comemorativas do evento se juntaram grande número de livros, por autores e editores a quem parecia importar apenas a disseminação da poesia. Foi um espetáculo.

UMA GRANDE CELEBRAÇÃO
A idéia de distribuição gratuita de livros foi de Antonio Miranda, que contagiou participantes e o próprio público a fazer parte dessa idéia grandiosa. Muitos supunham que o projeto era excessivamente grande. Miranda achava que não, mas fez questão de advertir que só daria certo se houvesse empenho e envolvimento dos próprios poetas. Houve. Tanto de Brasília, quanto dos que espontaneamente vieram de outros lugares, movidos pela vontade de participar. Ao contrário de outras bienais envolvendo livros e literatura, a Bienal de Poesia de Brasília nada teve de comercial; foi uma grande celebração.

FIGURAÇAS, OS HOMENAGEADOS
A Bienal Internacional de Poesia de Brasília elegeu quatro poetas como homenageados oficiais, e eles estiveram entre as figuras mais interessantes do evento. Affonso Romano de Sant´Anna fez uma belíssima palestra sobre a resistência da Poesia. Reynaldo Jardim, garoto de 82 anos, marcou presença nos eventos, surpreendendo até quem o conhece. E a exposição sobre sua obra, no terceiro andar da Biblioteca Nacional, é simplesmente imperdível. Thiago de Mello, na Feira do Livro, e Wlademir Dias-Pino, na exposição Obranome-2, outras boas lembranças.

CAMPANHA PELA IMPLOSÃO DO CONJUNTO CULTURAL
Apesar do aspecto imponente, o Conjunto Cultural da República, formado por um museu inadequado para grandes exposições e uma biblioteca sem espírito agregador de leitores, é o grande vacilo na obra do arquiteto Oscar Niemeyer. Sem rampas de acesso ou mesmo escadas, a não ser as de incêndio, a biblioteca provoca aglomerações diante dos elevadores em qualquer evento que atraia mais de uma dezena de pessoas. Deveriam implodir tudo e fazer de novo.

O JORNAL E AS PAUTAS PERDIDAS
A imprensa agiu burocraticamente, sem espírito de reportagem. O Correio Braziliense, principal jornal de Brasília, anunciou o evento com bons espaços, mas dele nada aproveitou. Apesar da presença de grandes autores na cidade, muitos estrangeiros, foi incapaz de realizar uma entrevista ou uma matéria mais aprofundada. Não teve a curiosidade de ver – e informar sobre – o que estava acontecendo nos mais diversos espaços onde houve programação. Havia dezenas de boas pautas se oferecendo ao Caderno de Cultura, e todas se perderam.

FEIRA DO LIVRO, O VEXAME
A Feira do Livro, que a Câmara do Livro do Distrito Federal insiste em realizar em local inadequado e improvisado – os corredores externos do shopping Pátio Brasil – tentou pegar carona na Bienal e acabou se tornando um vexame. Trouxe quatro escritores portugueses para um lançamento que não houve, as palestras e recitais foram prejudicados pela falta de isolamento acústico de ambientes improvisados, e ainda foi ameaçada de terminar antes da data marcada, por falta de recursos.

LIGA TRIPA ENCERRA POEMAÇÃO

A participação do grupo Liga Tripa foi o fecho perfeito para o Poemação, evento realizado no sábado, 9 de setembro, no Café Martinica, dentro da programação da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília. O Liga Tripa é uma instituição da cultura brasiliense e vários poetas gravitam ao redor do grupo, que na verdade é mais que um grupo de música: é um movimento cultural.

O Poemação do Café Martinica reuniu poetas da cidade, além de alguns convidados de fora, para apresentar sua poesia ao público. O evento aconteceu de quinta a sábado, e outros bares e cafés promoveram eventos semelhantes. No Martinica, todos os poetas eram jornalistas profissionais. A I Bienal Internacional de Poesia de Brasília envolveu milhares de pessoas, entre público e participantes, muitos dos quais vindos de fora de Brasília e do Brasil.

O Martinica recebeu grande público nas três noites, que permaneceu atento e curioso. No sábado, participaram este que lhes escreve (também responsável pela coordenação do projeto), Ariosto Teixeira, Fernando Marques, Aloísio Brandão, Ivan Sérgio, Luís Martins, Paulo José Cunha e Vicente Sá. Apresentaram-se ainda Ronaldo Werneck, vindo de Cataguases (MG), o músico Octávio Scapin, vindo de Goiânia, e o ator Adeilton Lima.

Os músicos José Cabrera e Tiago Vovô acompanharam, respectivamente, Fernando Marques e Octávio Scapin. O poeta Fábio Carvalho leu alguns versos (ou artigos?) de seu livro A Constituição da Poesia.

Leia aqui todas as notas e informações sobre a Bienal Internacional de Poesia de Brasília publicadas neste blog.

POESIA FAZ A CABEÇA EM BRASÍLIA


O poeta Fabrício Carpinejar está em Brasília mergulhado nas atividades da I Bienal Internacional de Poesia. Para não deixar dúvidas, ele trouxe a poesia na cabeça. Veja esta e outras fotos da Bienal no Flickr.

POETAS JORNALISTAS NO MARTINICA

O Poemação, evento integrante da programação da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, apresenta, nesta quinta-feira, 4, e no sábado, 6, no Café Martinica (303 norte), um grupo de jornalistas da cidade que têm na poesia seu meio de expressão pessoal.

A apresentação começa pontualmente às 21h30. Na foto, alguns dos participantes: Ariosto Teixeira, Ivan Sérgio, Guido Heleno e Alexandre Marino (de pé); Luiz Martins, Aloísio Brandão, Paulo José Cunha e Carla Andrade (sentados).


Na sexta-feira, 5, será a vez do grupo OiPoema, formado por Luís Turiba, Nicolas Behr, Amneres Santiago, Cristiane Sobral, Bic Prado e Paulo Djorge.

POESIA PARA TODOS OS GOSTOS

O livro de poemas Arqueolhar, deste autor que lhes escreve, e a antologia Deste Planalto Central, que reúne 50 poetas participantes da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, estarão ao alcance do público a partir desta quarta-feira, 3 de setembro, na Mini-Feira do Livro de Poesia, que funcionará até o próximo domingo, 7, nos pilotis da Biblioteca Nacional de Brasília.

Arqueolhar, editado pela parceria LGE-Varanda em 2005, com ótimo acolhida da crítica, será vendido pela metade do preço de tabela. Ele também poderá ser adquirido no Café Martinica, durante o Poemação, evento que acontecerá na quinta, sexta e sábado (4, 5 e 6), a partir das 21h, reunindo diversos poetas da cidade numa grande confraternização lírica.

Deste Planalto Central, organizado por Salomão Souza, será distribuído gratuitamente aos interessados, a partir da tarde desta quarta-feira, 3, na Biblioteca Nacional, durante e após a abertura oficial da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, marcada para as 18h30, no auditório do Museu da República.

Veja a programação completa da I BIP no sítio oficial do evento .

Acompanhe neste blog as sugestões diárias de eventos da Bienal de Poesia. Clique no atalho
Bienal de Poesia-2008 para ler todas as notícias e comentários sobre a I BIP neste blog.

TUDO PRONTO PARA A FESTA DA POESIA


A I Bienal Internacional de Poesia de Brasília (BIP) será aberta oficialmente nesta quarta-feira, 3 de setembro, no auditório do Museu da República. O poeta Affonso Romano de Sant´Anna, um dos homenageados da Bienal, fala sobre "As muitas vidas e muitas mortes da Poesia", e em seguida o grupo VivoVerso, da UnB, realiza recital que enfatiza a vertente lírica da obra de Sant´Anna.

Os eventos que fazem parte da I BIP estarão acontecendo desde cedo. Na Biblioteca Nacional, podem ser vistas mostras de Poesia Visual e Arte Poética. O Simpósio de Crítica e Poesia, que acontece de 3 (quarta) a 5 (sexta) no Anfiteatro 9 da UnB, terá início às 8h30, prosseguindo à tarde, a partir das 14h30.

A Câmara do Livro do DF organiza a Mini-Feira do Livro de Poesia, nos pilotis da Biblioteca Nacional, no Conjunto Cultural da República, com abertura às 15h30. No mesmo local, a partir das 17h30, terá início o Poemação da Praça da Cultura, com a Cena Contemporânea e poetas convidados.

No Cine Brasília, sessões às 16h30 e às 20h exibem vários filmes, entre curtas e longas, sobre poetas brasileiros.

As sessões magnas, dedicadas aos poetas estrangeiros e brasileiros convidados, terão leituras de poemas pelos autores, na língua original, com tradução simultânea projetada em telão. Serão realizadas no auditório do Museu da República, nos dias 4, 5 e 6, às 19h e 21h.

O concerto poético-musical Canto Latino América, da cantora chilena Elga Perez-Laborde, encerra a noite, no auditório do Museu, a partir das 22h30. Também participam o teatrólogo peruano Mario Delgado e a poetisa brasiliense Aglaia Souza, os violonistas Carlos Pascoal e Felipe Valoz; Kátia Almeida no violoncelo e piano e Jorge Macarrão na percussão.

Veja a programação completa da I BIP no sítio oficial do evento .

Acompanhe neste blog as sugestões diárias de eventos da Bienal de Poesia. Clique no atalho Bienal de Poesia-2008 para ler todas as notícias e comentários sobre a I BIP neste blog.

BIENAL DE POESIA: PROGRAMA DA QUARTA-FEIRA

SOLENIDADE DE ABERTURA DA I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA
Museu Nacional do Conjunto Cultural da República
Homenagem aos poetas Reynaldo Jardim, Affonso Romano de Sant’Anna, Wlademir Dias-Pino e Thiago de Mello
Início às 18h30

Conferência Magna Inaugural da I BIP
Affonso Romano de Sant’Anna
Recital-homenagem ao poeta Affonso Romano - Fale-me de Amor!
Grupo VivoVerso – Grupo de Pesquisa de Poesia Contemporânea da UnB

Canto Latino América
Auditório do Museu Nacional
Conjunto Cultural da República, 22h
Concerto poético-musical com Elga Pérez-Laborde (Chile) interpretando as vozes poéticas de Garcia Lorca e Pablo Neruda, José Marti e Violeta Parra, Chico Buarque e Antonio Miranda, entre outros. Declamação de poemas de Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Cassiano Nunes e outros, por Mario Delgado (Peru) e Aglaia Sousa (DF). Com Carlos Pascoal e Felipe Valoz (violões); Kátia Almeida (violoncelo e piano) e Jorge Macarrão (percussão). Entrada franca.

DIARIAMENTE (confira os detalhes no sítio oficial da BIP):

SIMPÓSIO DE CRÍTICA DE POESIA
Homenageado: Affonso Romano de Sant’Anna.
UnB/Anfiteatro 9
De 3 a 5 de setembro, das 8h30 às 12h e 14h30 às 18h.
Exige inscrição prévia.

SESSÕES MAGNAS
Dedicadas aos poetas estrangeiros e brasileiros convidados, consistirão em leituras de poemas pelos autores, na língua original, com tradução simultânea projetada em telão. Serão realizadas no auditório do Museu da República, nos dias 4, 5 e 6, às 19h e 21h.

POEMAÇÃO

Recitais de poesia e música; projeções de vídeos poéticosAo longo da semana, na Praça da Cultura, Café Martinica, Balaio Café, Rayuela Bistrô, T-Bone, Livraria Café com Letras e vários outros locais. Confira dias, horários e poetas participantes no sítio oficial da BIP. Toda a programação do Poemação acontece à noite, com exceção da Praça da Cultura, a partir das 17h.

Poemação Praça da Cultura
Cena Contemporânea
Praça do Conjunto Cultural da República
A partir de 17h, nos dias 3, 4, 5 e 6.

EXPO ARTES PLÁSTICAS & POESIA

OBRANOME 2 – Expo de Poesia Visual
Homenageado: Poeta gráfico Wlademir Dias-Pino
Projeto e curadoria: Wagner Barja
Museu da República
Até 28/09
Terça a domingo, de 9h a 18h30

REVANGUARDA - Mostra da arte poética


Reynaldo Jardim, homenageado da I BIP
Biblioteca Nacional de Brasília, 3. andar.
Segunda a domingo, de 9h a 18h
e várias outras mostras na Biblioteca Nacional, no mesmo horário

MINI-FEIRA DO LIVRO DE POESIA


Exposição de títulos e lançamento coletivo
Pilotis da Biblioteca Nacional de Brasília
15h30

MOSTRA DE CINEMA POESIA

Cine Brasília - 4 a 7 de setembro - 16h30 e 20h.

20h, 4 e 5 de setembro,
A Babel da Luz (Sylvio Back)
Cruz e Sousa, o Poeta do Desterro (Sylvio Back)

20h, 6 e 7 de setembro
Cora, Doce Coralina (Armando Lacerda e V. Fonseca)
Castro Alves – Retrato Falado do Poeta (Silvio Tendler)

16h30, 4 a 7 de setembro
O Poeta (Paulo Munhoz)
Cora Coralina - O chamado das pedras (Adriana de Andrade e Waldir Pina)
Assaltaram a Gramática (Ana Maria Magalhães)
Viva Cassiano! (Bernardo Bernardes)

Também há eventos na Feira do Livro de Brasília, realizada no Pátio Brasil Shopping.

Veja a programação completa da I BIP no sítio oficial do evento
.

Acompanhe neste blog as sugestões diárias de eventos da Bienal de Poesia. Clique no atalho
Bienal de Poesia-2008
para ler todas as notícias e comentários sobre a I BIP neste blog.

BRASÍLIA EM CLIMA DE POESIA

A I Bienal Internacional de Poesia de Brasília será aberta na próxima quarta-feira, 3, mas a cidade já se adianta e entra no clima poético antes mesmo da abertura oficial.

No Espaço Cultural Mosaico (SCRN 714/715, Asa Norte), poetas diplomatas e estrangeiros residentes em Brasília conversam nesta terça-feira, 2 de setembro, com o ator Adeilton Lima e com o público e apresentam seu trabalho. Participam: Eduardo Mora-Anda (Equador), Wilfredo Machado (Venezuela), Carlos Guerrero e Maria Romeu (México), Alfonso Hernández (Espanha), Javier Iglesias (Cuba) e o músico brasiliense George Durand.

Na quarta, 3, o escritor português José Luís Peixoto autografa seus dois romances publicados no Brasil, Nenhum Olhar (Ed. Agir) e Cemitério de Pianos (Ed. Record) na Livraria Café com Letras (CLS 203, Asa Sul). Peixoto é poeta e tem um texto elaborado que por si só vale a leitura.

Este blog dará informações diárias sobre a Bienal de Poesia e recomendará alguns eventos, dentro da vasta programação que terá início na quarta e prosseguirá até o domingo, 7.

Que semana da Pátria, que nada. É semana da Poesia!!