Esther Maciel em Brasília


A escritora mineira Maria Esther Maciel vem a Brasília lançar O Livro dos Nomes, publicado pela Companhia das Letras. O lançamento será nesta sexta-feira, 25, no Café com Letras (203 sul - 3322-4070), a partir das 19h.

Maria Esther é professora da Faculdade de Letras da UFMG e doutora em Literatura Comparada, com pós-doutorado em Cinema pela Universidade de Londres. Também é ensaísta e pesquisadora do CNPq. Mas sugiro uma atenção especial ao seu texto denso, poético, cativante.

O Livro dos Nomes é um romance construído a partir da história pessoal de 26 personagens, figuras reunidas por parentesco ou convivência. Ou, para quem preferir, uma coleção de contos interdependentes. O belo texto de Esther vai aos poucos amarrando o leitor a toda essa trama de tramas.

Brasília, 48 anos. O sonho e o pesadelo.


A Esplanada dos Ministérios, cantada como uma das obras-primas do arquiteto Oscar Niemeyer, que valeu a Brasília o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco, recebeu 850 mil pessoas nas comemorações dos 48 anos da cidade, no dia 21 passado. Foi uma data especial, pois a cidade acaba de receber outro título importante, o de Capital Americana da Cultura 2008. Pois não é que essa massa deixou sobre os belos gramados da Esplanada mais de 70 toneladas de lixo!!!

Não é erro - foram 70 toneladas, que fizeram da bela área administrativa da capital federal um lixão a céu aberto... Há alguma coisa errada nessa história. Não é possível que alguém considere isso normal.

Capital Americana da Cultura 2008... A massa não sabe o que é isso. Foi à Esplanada para ver shows do nível do breganejo Leonardo, uma banda qualquer de axé... E, acima de tudo, para pisar, destruir, mijar onde fosse possível. Um dos comentários mais comuns, no dia seguinte, era o cheiro de pocilga da Esplanada.

O secretário de Cultura do DF, Silvestre Gorgulho, disse a este escriba que a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional é uma das mais importantes das Américas. Ela só se apresenta no espaço elitista do Teatro Nacional. Por que não oferecaram ao povo a oportunidade de ouvi-la a céu aberto?

Não. Há um mito de que o povo só gosta de lixo. Deve ser por isso que o povo devolve lixo ao logradouro admirado pelo mundo inteiro. Alguma coisa está fora da ordem. E depois me criticam quando digo que morro de saudades de passear nos gramados de Champs de Mars.

Brasília, 48. Em busca do sonho.

Não basta festejar. É preciso colecionar motivos ao longo do ano. Não é apenas o tempo. Um ano a mais, um ano a menos. É preciso criar a diferença. Não é apenas mudar. É mudar para melhor. Reformas não bastam. Maquiagem. Roupa nova. Asfalto novo. Gramados, viadutos, pontes, avenidas. Nada disso. A saída é mudar a alma. Voltar o olhar para dentro. O clima. Não basta resgatar a cidade. É preciso resgatar o espírito. Acabar com o salve-se quem puder. Estabelecer o estamos salvos. Dar fim à poluição visual. Mas também à poluição das mentes. Respeitar a poesia. “Fora da poesia não há salvação” (Mário Quintana). Não apenas respeitar, mas reverenciar. Não apenas levantar paredes. Não apenas erguer edifícios. Mas preenchê-los com vida. Museus não são prédios trancados. São espaços onde as famílias possam passar seus domingos e descobrir como é grande o mundo, infinitas as possibilidades de nossas mentes e corações. Bibliotecas não são depósitos de livros. São recintos para circulação de gente e idéias. Uma cidade não é apenas uma cidade. É um espaço humano. Uma cidade jamais estará pronta. Uma cidade é construída a cada dia pela ação daqueles que nela vivem. Construir uma cidade não é apenas colocar pedra sobre pedra. Não é erguer monumentos. É plantar árvores. É regar as árvores. É plantar utopias. Alimentar utopias. É promover encontros. É sorrir, chorar, expressar-se. Um tijolo pode ser feito de barro, mas também pode ser um desenho, um poema, um acorde musical, uma história. A cada hora, a cada dia, a cada ano, uma palavra alça vôo e adquire novos significados, transformando a alma, o olhar e o sonho das pessoas.

A capital da truculência [3]

A foto registra o fato que marcou a semana passada, em Brasília. O artista plástico Henrique Gougon recolhe os cacos de um dos painéis de mosaico que ele criou e instalou há quatro anos, por sua própria conta e risco, em várias quadras da Asa Sul. Eram seis pares de painéis. Cinco foram destruídos a marretadas.

Os painéis veiculavam poemas de vários autores da cidade - entre os quais Cassiano Nunes, que morreu no ano passado, Nicolas Behr, Angélica Torres Lima e Fernando Mendes Vianna (morto em 2006).

A ordem para a ação truculenta veio da Administração de Brasília, que decidiu acabar com os painéis de propaganda irregular que proliferaram na cidade desde o governo anterior. Não se sabe o que poesia tem a ver com propaganda irregular. Na cidade que acaba de receber o título de "Capital Americana da Cultura 2008" (?), a confusão seria uma piada, se não fosse uma agressão.

Vários painéis de mosaico de Gougon podem ser vistos na cidade. É dele o totem em homenagem ao educador Paulo Freire, instalado em frente ao Ministério da Educação. Outro painel, numa das estações de metrô de Águas Claras, homenageia o autor do projeto urbanístico de Brasília, Lúcio Costa.

Os painéis poéticos que adornavam praças e paradas de ônibus da Asa Sul foram um presente que Gougon deu à população. Não foram encomendados por ninguém. Mas Brasília é a cidade do oficial. O poder não respeita as manifestações espontâneas.

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A capital da truculência [2]


Um dos pares de painéis poéticos construídos pelo artista plástico Henrique Gougon, que foram instalados há quatro anos em paradas de ônibus da Asa Sul. Dois seis pares, cinco foram destruídos a marretadas por funcionários da Administração de Brasília. Na foto, poemas de Nicolas Behr.

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A capital da truculência [1]

O artista plástico Henrique Gougon e o escritor Cassiano Nunes em 2004, na inauguração dos painéis poéticos que adornavam paradas de ônibus na Asa Sul, em Brasília. Os painéis foram destruídos a marretadas na semana passada pela Administração de Brasília. A ordem era retirar painéis de propaganda irregular.

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