Fundado em 1782, o Martinho da Arcada, situado na Praça do Comércio, é o mais antigo café de Lisboa. Por lá circularam, entre outros clientes ilustres, Mário de Sá-Carneiro, Cesário Verde e Fernando Pessoa, que até hoje tem sua mesa reservada, e sobre ela uma xícara e alguns livros. Na parede, uma foto e um poema, redigido ali mesmo. Em outubro de 1987, um poeta brasileiro foi conferir o ambiente e receber fluidos do ilustre português, que espiritualmente ainda circula por lá. E voltou, exatamente 20 anos depois. É claro que o Martinho, do alto de seus 225 anos, não mudou muito nesse curto período. O que surpreende é que o poeta brasileiro, que lá tomou uma Sagres e guardou o rótulo como lembrança, também está muito bem conservado.
Um grande festival de rock´n´roll realizado numa fazenda no interior dos Estados Unidos, em 1969, entrou para a história da música e tornou-se o principal símbolo da contracultura e da era hippie. Agora, mais de 40 anos depois, o espírito Woodstock permanece vivo numa cidade do interior de Minas – ainda que limitado ao espaço físico de um bar lotado, um palco onde tocam bandas formadas por uma garotada talentosa, tudo isso animado por um maestro que carrega a alma desse tempo.
Se o Festival de Woodstock levou quase 500 mil jovens a uma fazenda, debaixo de chuva e em meio a lama, para quatro dias de celebração da paz e da boa música, o que acontece agora no Sudoeste de Minas provoca um sentimento de nostalgia a quem viveu o espírito da época. Mas a maior parte do público está ali para provar que o rock está mais vivo do que nunca – que o digam os meninos atentos aos covers de Pink Floyd, Creedence Clearwater Revival e muitos outros.
A cidade é Passos, o lugar mágico se chama Woodstock Bar e o mentor de tudo é o guitarrista Magrão, nascido em São Paulo mas ligado à cidade desde sempre. O Woodstock Bar localiza-se numa rua bucólica, quase deserta, entre terrenos baldios, no final do bairro de São Francisco. É ali que a coisa ferve nas noites de quinta, sexta, sábado e domingo.
O bairro de São Francisco é um dos mais tradicionais de Passos, que em 2008 completa 150 anos de emancipação política. Nasceu ao redor do morro do mesmo nome, onde foi construída uma simpática capelinha, ainda nos primeiros tempos da cidade. A capelinha sobreviveu intacta até a década de 70, mas a partir daí começou a sofrer sucessivas reformas, até que a demoliram e construíram no lugar uma nova igreja, autêntico exemplar do mau-gosto da arquitetura pós-moderna. Parece uma nave alienígena.
A capelinha foi uma perda, mas não era mais possível salvá-la. Ao longo das últimas décadas, os padres lotearam o morro e o bairro subiu pelas suas encostas, descaracterizando-o. Mas o bairro mantém até hoje suas principais características de cidadezinha do interior, com casinhas singelas, ruas tranqüilas por onde as pessoas caminham, trocam um bom-dia e conversam, a caminho da padaria ou do botequim. Foi nesse ambiente tipicamente interiorano que nasceu o Woodstock Bar. É por isso que os que o procuram, noite adentro, têm às vezes dificuldade para encontrá-lo – pior ainda, quem está em Passos para uma visita. O cara percorre ruas escuras, vira esquinas desertas, e de repente se depara com uma rua lotada de carros e motos e é despertado por um som que parece vir de uma outra época. E vem mesmo.
O Woodstock Bar deveria ser incluído no roteiro turístico oficial de Passos, uma cidade simpática que recebe visitantes atraídos por suas lojas de roupas modernas e ecoturistas em busca das belas cachoeiras da região. E, é claro, os imortais roqueiros.
Os escritores Alaor Barbosa e Ronaldo Cagiano participaram de um improvável, porém real, Encontro de Literatura Latino-Americana em Teerã, capital iraniana. Conheceram um grupo de escritores de vários países - Argentina, Chile, Bolívia, México, entre outros - e um país ultra-exótico para os nossos padrões. O evento foi promovido pelo governo do Irã e os escritores convidados puderam desfrutar de considerável mordomia, se é que se pode chamar de mordomia a pesada vigilância a que foram submetidos. Eles não podiam circular pela cidade por conta própria, mas apenas com escolta e em lugares aonde eram levados. Conversar com mulheres nativas? Nem pensar. Durante o Encontro, Ronaldo Cagiano falou sobre "A estética da diversidade na ficção brasileira contemporânea" e Alaor Barbosa fez uma palestra sobre a obra de Guimarães Rosa. A experiência certamente renderá boa leitura para os curiosos que aguardam relatos da viagem. Na foto que ilustra esta postagem, Alaor e Ronaldo posam em cenário típico de Teerã.