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[poema] VÍRUS, MICRÓBIOS E CUPINS

 

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Este poema, inédito em livro, foi publicado originalmente em meu perfil de poemas no Instagram: @alexandre.marino.poeta

[poema] O PARADOXO DE THAM LUANG

 

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O poema O paradoxo de Tham Luang se inspira em fato ocorrido há dois anos na Tailândia para refletir sobre essa espécie cada vez mais perdida, que somos nós. Inédito em livro, foi publicado na revista da Academia Brasiliense de Letras, a convite do poeta Ronaldo Costa Fernandes, e agora em meu perfil poético no Instagram, @alexandre.marino.poeta

BRASÍLIA, 60

Quando cheguei a Brasília, a cidade não era muito diferente daquela que foi inaugurada em 1960, como símbolo de tempos melhores que viriam. Em 1982, a ditadura militar exalava sinais de que não duraria muito tempo, e a Lei da Anistia já estava em vigor. A capital, com apenas 22 anos, inspirava poemas, canções e lendas. Uma dessas dizia que todos os recém-chegados passariam por três fases, os chamados “3Ds”: o deslumbramento, fruto do primeiro contato com a cidade; o desencanto, que viria com o aprofundamento desse contato, e o desespero, trazido pelo tédio, pela solidão e pelo vazio existencial, inevitável em meio ao espaço sem fim do Planalto Central. A essas três fases alguns acrescentavam outras duas: a demência, caracterizada pela intenção de aqui permanecer em definitivo, e a despedida, que se opunha à anterior, ou viria muito tempo depois.

Escrevi o poema As cinco estações em 1999, portanto com tempo suficiente para ter vivido todas as fases. E permaneci em Brasília, não por demência, mas talvez por destino. Procurei fazer uma interpretação poética de minha vivência na cidade e de sua gradual transformação, que eu observava e tentava compreender. No mesmo ano eu lancei meu terceiro livro de poemas, “O delírio dos búzios”, de que este poema fez parte. Agora, abril de 2020, Brasília é outra, vive os mesmos problemas urbanos de qualquer grande metrópole do país e a sentença dos “5Ds” parece ter sido esquecida. Aos 60 anos, Brasília é uma cidade real. 






OS LIVROS, O NATAL E O MERCADO

Uma carta aberta do CEO da Editora Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, pede que no Natal as pessoas presenteiem com livros, uma forma de combater a profunda crise em que o mercado livreiro está mergulhado. Duas das maiores redes de livrarias do país, a Saraiva e a Cultura, estão em processo de recuperação judicial. A Cultura acumula uma dívida de R$ 285 milhões, enquanto a Saraiva, maior do país, deve R$ 675 milhões. Juntas, devem para as editoras R$ 325 milhões, segundo o Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel). Elas respondem por 40% do faturamento das principais editoras do país, o que revela o tamanho do estrago em cascata. 

A Livraria Cultura, em pouco mais de dez anos, investiu numa expansão irracional por várias capitais do país. Invadindo o mercado como um tanque de guerra sem freios, atropelou e provocou o fechamento de pequenas livrarias, que tinham como foco livros de qualidade e não “livros de mercado”, aqueles que vendem centenas de milhares de exemplares mas não carecem de reedições, pois são lidos (quando são) e depois caem no esquecimento, sem deixar marcas. 

“É impossível concorrer com a Cultura”, me disse Luiza Neiva, que eu poderia chamar de empresária mas prefiro chamar de uma amante dos livros, pouco antes de fechar a sua Café com Letras, simpática livraria de rua de Brasília, palco de leituras, lançamentos, saraus e shows. Com a livraria, encerrou-se também a “fábrica de leitores” que ela mantinha numa sala dedicada a atividades para as crianças. 

Nesse processo de expansão, a Livraria Cultura comprou a Estante Virtual, rede de sebos que sempre atendeu a quem procurava livros mais baratos ou raros. Ao anunciar a compra, em dezembro de 2017, a Cultura já estava em crise – atrasava pagamentos para as editoras há pelo menos dois anos. Tudo isso sem falar na aquisição da Fnac, que na verdade pagou à Cultura para que a empresa assumisse suas dívidas. 

Para um bom leitor, garimpar numa pequena ou média livraria dá resultado melhor que numa gôndola das grandes redes, onde os espaços são vendidos para as editoras e os livros lá expostos têm a obrigação de vender a rodo. As grandes editoras, como a Companhia das Letras, têm que atender a esse mercado tão voraz quanto culturalmente irrelevante. Essa editora, que também passou por um processo de expansão nos últimos anos, publica livros nas mais diversas áreas, entre as quais literatura e, dentro desta, poesia. Mas um texto sobre “análise de originais”, publicado em seu site, avisa: “Livros de poemas não serão aceitos para análise.” É curioso: a editora publica livros de poesia, mas não recusa-se a receber originais. 

Brasília possui duas lojas da Livraria Cultura. A primeira, no Shopping Casa Park, foi aberta em 2000. Na festa de inauguração da segunda, no Shopping Iguatemi, em 2010, eu disse a Pedro Herz, proprietário da empresa, que a estante de poesia, comparada ao tamanho da loja, era muito pequena. “Isso é uma questão de demanda”, ele respondeu. Para mim, Brasília não apresentava demanda para duas lojas da Cultura, mas essa demanda foi criada com estratégias de marketing. Hoje, a frequência às lojas se reduziu e as estantes estão cheias de espaços vazios. 

Ao longo de seu processo de expansão, a Cultura nunca se preocupou em criar estratégias para vender livros culturalmente importantes – entre os quais incluo a poesia – mas apenas livros “de mercado”. Por isso, tornou-se uma livraria desinteressante, onde o bom leitor circula sem vontade de comprar. As gôndolas da Cultura deixaram de expor livros instigantes, ao contrário de livrarias menores, onde o propósito é mais cultural que comercial. Com a crise, a situação piorou, porque os estoques, mesmo de livros de maior apelo, não são repostos. Se mesmo antes da crise a Cultura já se recusava a vender livros de editoras menores ou independentes, ou de autores menos conhecidos das panelinhas da mídia, agora até escritores mais conhecidos desapareceram de suas estantes. 

As duas lojas da Cultura acabaram com as livrarias de rua de Brasília, que não existem mais. Em outras cidades, elas sobrevivem, mesmo com a concorrência da Saraiva, que sempre foi mais um supermercado de livros que uma livraria. Numa livraria, o consumidor – leitor – recebe, ou deveria receber, uma assessoria do vendedor para encontrar o livro que pensa em comprar e para conhecer um livro que atenda seu gosto. Isso também não existe mais na Cultura. É coisa do passado. 

Sou a favor do apelo de Luiz Schwarcz e também acho que o Natal deve ser coalhado de livros. Mas, ao comprar, por que não fazê-lo em pequenas livrarias, que também lutam para sobreviver, e por que não atentar para as pequenas editoras? O livro é um produto artesanal, por mais industrializado que seja o processo de sua produção, que é sempre guiado por uma paixão, ainda que apenas enquanto é escrito. As pequenas editoras enfrentam dificuldades, mas também são guiadas pela mesma paixão. Com a vantagem de que as grandes redes não lhes devem milhões de reais, porque jamais se interessaram por elas. 

[hiatos] PALAVRAS DE ANGÉLICA

Convivo com Angélica Torres Lima, desconsiderando os hiatos, há alguma coisa próxima dos 30 anos. O jornalismo nos aproximou, na redação de algum jornal da Brasília dos anos 80, e a poesia nos fez amigos. Angélica é poeta sensível, um dos nomes mais importantes da poesia construída nessas poucas décadas da formação cultural de Brasília. Por isso, fiquei tomado de orgulho ao ler a bela mensagem que ela me enviou, com suas impressões sobre meu livro recém-lançado, o Hiatos. Reproduzo abaixo e agradeço suas palavras. 

"Que belo livro, Alexandre. Hiatos é o seu melhor, para mim, até agora. Você tem a dizer e diz com a profundidade que se espera de um poeta. Mais ainda: um poeta com tempo de rua e de estrada, arenosa, pedregosa mas também interestelar. Seu duelo com o presente, o passado e o futuro dialoga com os hiatos da matéria animal, vegetal, mineral e cósmica de quem te lê, ou seja, não há pra onde correr. A identificação é flagrante. É um espelhamento do vazio, da solidão, do deserto, das ruínas, da perplexidade existencial que carregamos, sem atenuantes convincentes.

E ao final se confirma: Hiatos é um poema só, o que a meu ver é prova de maturidade poética mas também humana e cidadã – portanto, tenho que dizer isso, você fez bem em não abordar o grande momento nacional. Assim o que fica em essência é o denominador comum de uma cosmogonia partilhável, de novo ressaltando o Um que irmana leitor e poeta, essa espécie de gol do verso.

Li com admiração e prazer e te abraço com a antiguidade da nossa amizade. 

Angélica Torres Lima

[livro] ALGUMA COISA A RESPEITO DE 'HIATOS'

Meu sétimo livro de poemas, Hiatos, dá continuidade ao exercício que venho praticando desde que entendi as infinitas possibilidades da poesia, na minha interação com o mundo e comigo mesmo. Eu costumo dizer que a poesia reforça, fortalece e aprofunda minha experiência de viver. A linguagem poética abre espaço para que as palavras adquiram uma aura de novos significados, muito além daqueles registrados nos verbetes dos dicionários, gerando sentidos e emoções muito particulares para cada leitor, assim como para o próprio autor. Penetrar no mistério e na magia da poesia, eis o meu grande barato.

Hiatos começou a surgir no momento de uma experiência pessoal intensa, daquelas que nos fazem dirigir o olhar para trás e para frente  rompendo os limites de um dia a dia em que tudo aparentemente se repete  e para nossos interiores  como é descrito metaforicamente no primeiro poema do livro. Experiências intensas são hiatos em nosso cotidiano: o mundo para para que elas aconteçam, e depois retoma seu ritmo.

Assim, a vida, que nada mais é do que um hiato entre o nada e o nada, também é feita de hiatos. O curso da História tem momentos de suspense e de vazios. O que há entre a luz e a escuridão, entre um silêncio e outro, senão hiatos? 

Hiatos é lançamento da Editora Patuá, de São Paulo. E o selo da Patuá tem um sentido da maior importância. É uma das muitas editoras de pequeno porte do país, mas tem se destacado pela ousadia, pelos autores e livros que publica e pelos prêmios que tem recebido, alguns deles de propriedade quase exclusiva das grandes editoras. A poesia não é uma mercadoria. Produzir poesia para um suposto mercado cultural é um equívoco. A Patuá não tem essa pretensão, está investindo em literatura sincera. Por isso não concorre com as grandes – corre por fora. Em seis anos de trabalho, Eduardo Lacerda e sua pequena equipe já publicaram mais de 500 livros, alguns deles vencedores ou finalistas de prêmios como Portugal Telecom, Jabuti ou Oceanos. Só tenho que agradecer à Patuá por fazer parte de seu catálogo. 

[poema] FÓTONS

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LANÇAMENTO DE HIATOS EM BRASÍLIA


Convido amigos, leitores, escritores, todo o público interessado em poesia para o primeiro lançamento de meu novo livro de poemas, Hiatos. Será realizado em Brasília, no dia 23 de agosto, quarta-feira, no Martinica Café, localizado na CLN 303, Asa Norte, a partir das 19h30. 

Hiatos é uma publicação da Editora Patuá, de São Paulo. 

Informarei oportunamente lançamentos em outras cidades. 

Conto com todos vocês. 

HIATOS

Foram quatro anos de trabalho, que se intensificou nos últimos meses. Por mais que eu estabelecesse um cronograma, ele se recusava à maturação e exigia mais trabalho. Finalmente, nos últimos dias de maio, dei a tarefa por encerrada e declarei concluído, pronto, fechado, o meu sétimo livro de poesia: Hiatos.

Composto de 53 poemas, distribuídos em seis partes, este livro dá prosseguimento à busca que venho empreendendo desde o primeiro, de 1979: a de desvendar a alma das palavras, de forma a transcender seu significado aparente e com a ajuda delas alcançar o mistério presente no vácuo, na sombra, entre rastros de corpos, hiatos humanos. 

Hiatos parte de uma experiência pessoal intensa e avança no encalço dessa criatura que, ao tentar compreender a si mesma, só poderá salvar-se pela poesia. Um ser às vezes invisível, às vezes fantasma, esfinge na metrópole, confrontando memória e amnésia, sonhando no deserto, à sombra da última árvore. 

Hiatos, a caminho.

MEUS LIVROS NA BANCA DA CONCEIÇÃO

Exília e Arqueolhar, à venda na Banca da 308 Sul
Meus livros mais recentes, Exília (Dobra Editorial, SP, 2013) e Arqueolhar (LGE/Varanda, DF, 2005), estão à venda na Banca da Conceição, na 308 Sul, em Brasília. É um ponto de venda importante, por duas razões: primeiro, porque a 308 Sul é quadra símbolo de Brasília, aquela onde se conservou radicalmente a proposta de Lúcio Costa para esta cidade quase utópica onde vivo. Com projeto paisagístico de Burle Marx, a quadra é atração turística de Brasília. Segundo, porque a jornalista Conceição Freitas é desde outubro de 2015 a proprietária da banca de revistas da 308 Sul. 

Conceição Freitas tornou-se, ela própria, uma referência em Brasília, construída ao longo de muitos anos em que escreveu sobre a cidade, defendendo seu projeto, nas páginas do Correio Braziliense. Meus livros fazem parte de uma criteriosa seleção de obras que Conceição escolheu para serem vendidas no limitado espaço da banca. Estou muito bem acompanhado por outros escritores que aqui constroem não apenas a sua obra, mas o acervo literário de uma cidade ainda jovem, mas que gera e acolhe grandes talentos. 

Só posso agradecer à Conceição. O espaço da Banca da 308 Sul, além de restrito, é valioso. 

LIVRARIA NA RUA


A Le Calmon Livraria e Café marca a volta das livrarias de rua a Brasília. Meus livros Exília (SP, Dobra Editorial, 2013) e Arqueolhar (LGE/Varanda, 2005) estão à venda lá, assim como livros de outros autores de Brasília. 

O espaço é convidativo e aconchegante. As estantes não sufocam o leitor; ao contrário, sugerem que se tome o livro para folhear e ler algumas linhas. E o ambiente não parece impor ao cliente o best-seller da hora, mas o deixa à vontade para suas próprias descobertas. Talvez seja assim a livraria ideal, já que o livro, antes de ser um produto comercial, é – ou deveria ser – um suporte para o pensamento e a reflexão. 

A Le Calmon Livraria e Café, localizada na quadra 111 Sul, foi criada com esse espírito e marca a volta das livrarias de rua a Brasília, abrindo caminho, quem sabe, para outras iniciativas semelhantes. Criada por um casal de advogados, Adriana Beltrame e Petrônio Calmon, ela faz parte de um projeto que inclui uma editora especializada, a Gazeta Jurídica, com dois anos de existência e já com 60 títulos publicados, e um selo literário, a LeCalmon Editora. Deste, Uvas, Vinhos e Tulipas, romance de Vanda Amorim, e Causos de São Chico e Outras Querências, de Athos Gusmão Carneiro, são os destaques. 

Adriana lembra que o cliente não encontrará nas estantes livros de autoajuda ou religiosos, que não fazem parte da proposta da Le Calmon. Este é mais um detalhe que dá à livraria uma personalidade diferenciada, já que são outros os seus “best-sellers”, como romances de literatura brasileira e estrangeira e biografias. Mas, caso o leitor não encontre na casa o que procura, a Le Calmon aceita encomendas de qualquer tipo de livro.


No andar superior da livraria foi montado o café, que complementa o ponto de encontro de pessoas que têm em comum o prazer da leitura. Os dois ambientes funcionam de segunda a sábado, das 9 às 21 horas.

Le Calmon Livraria e Café
CLS 111, bloco C, loja 22
(61) 3345-6233
De segunda a sábado, das 9h às21h
www.lecalmon.com

EXÍLIA NA BIENAL DE BRASÍLIA

Nesta sexta-feira, 18, lançamento de Exília no Café Literário Jorge Ferreira na Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília. 
A Livraria do Chico (estande 33, bloco A) vende Exília na Bienal de Brasília. 


LITERATURA E INTERNET NA TV

No programa Entrelivros, da TV Brasil, uma conversa sobre literatura, internet e mercado. Foi ao ar na segunda-feira, 14 de abril, durante a 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília. Participação de André Giusti e deste escriba. 


[história afetiva] HÁ VAGAS - OU HAVIA?


Capa da terceira edição
A revista literária Há Vagas circulou em Brasília de setembro de 1982 a agosto de 1985, em três edições, que contaram com o apoio da Universidade de Brasília. Seus fundadores foram Armando Veloso, Chico Leite, José Adércio Leite e Paulo Joe, com a participação de Regina Ramalho, que fez o projeto gráfico da primeira edição, e um grande número de colaboradores. No início da década de 1980, o movimento literário de Brasília era muito intenso e os criadores da revista conseguiram agregar grande parte dos escritores que circulavam na cidade. Na época, a perspectiva de mudanças políticas, com o fim iminente da ditadura militar, e a capital ainda em busca de identidade, com apenas 22 anos de inaugurada, apontavam para um horizonte sem limites e muita expectativa também na cultura.  

A primeira edição de Há Vagas trazia na capa um desenho que vazava para a contracapa, em que se viam todos os colaboradores da revista segurando a carteira de trabalho. Quem assinava o editorial, sob o título O homem é o lobby do homem, era o jornalista e poeta Tetê Catalão. Apesar de rico em metáforas, ainda hoje o texto não deixa dúvidas quanto à conjuntura política e econômica da época. “A pior recessão será aquela capaz de desfibrar sonho por sonho, letra por letra, carícia por carícia”, afirmava logo na primeira frase. “Em pleno desemprego nacional, afirma-se que HÁ VAGAS.” O país vivia os últimos suspiros da ditadura militar, em meio a crise econômica, mas ainda faltavam três anos para que o último presidente de fardas entregasse o poder. 

Capa da primeira edição
“Quem achar que deve, se apresente. Afinal, quem diz que você pode ou não pode é você mesmo: se a vaga é tua, vai na vaga. Abre o vago-simpático e brilha vagau no brinquedo de estar lúcido.” Tetê Catalão fechou assim o editorial, e deu gás para que alguns escritores que enviaram colaborações à revista e não foram publicados protestassem contra a “falta de vagas”. No entanto, em suas três edições a revista veiculou textos de grande qualidade literária, de autores de diversos estilos e propostas, de vários pontos do país, comprovando que as portas estavam, de fato, abertas. 

Primeiro número – Um dos destaques da primeira edição de Há Vagas era o poeta Francisco Alvim, participante do movimento literário brasiliense, nome importante da poesia dos anos 70. Ele contribuiu com poemas e uma interessante entrevista, em que refletia sobre a ainda recente poesia marginal. 

Entre os autores de contos, poemas e ilustrações publicados no primeiro número estão, além de seus criadores e editores, Ariosto Teixeira, Cassiano Nunes, Cesário de Sousa, Eduardo Rangel, João Borges, Jô Oliveira, Luis Eduardo Resende (Resa), Luís Martins, Paulo Andrade e Turiba. 

Após a publicação do primeiro número de Há Vagas, houve uma dissidência de alguns escritores desse grupo, que se afastaram para criar a Bric-a-brac, outra revista literária de grande importância na história cultural de Brasília. 

Capa da segunda edição
Segundo número – Na capa, o artista plástico Felix Valois reproduziu graficamente uma frase poética pichada em um muro de Brasília: “Não sei como as pal-/avras/ ainda são feitas/ de silenci-os!” O segundo número da revista foi editado por Chico Leite, Armando Veloso, Domingos Pereira Netto e Alexandre Marino, com a colaboração de Paulo Joe (São Paulo) e Theophilus (Fortaleza), e edição de arte de Milton Goes, Resa, Jô Oliveira, Evandro Abreu, Renato Ferrari e Rômulo Andrade. A data de edição é primavera de 1984. 

Colaboraram no segundo número, além dos editores, Adriano Espinola, Cassiano Nunes, Carlos Herculano Lopes, Evandro Abreu, Lourenço Cazarré, Nirton Venancio, Patt Raider e Luís Turiba, entre outros. Chico Leite, Armando Veloso e Alexandre Marino conduziram a entrevista desta edição, com o poeta Affonso Romano de Santanna. 

Uma das curiosidades desta segunda edição foi um conto cedido pelo poeta Paulo Leminski, de título Sintomas. De Leminski também foi publicado um poema, sem título. 

Marino, Chico, Domingos,
Goes, Armando
Outra curiosidade foi o poema enviado por Waly Salomão, O cólera e a febre. O poema fala de uma situação de tédio num domingo de sol. Waly teria ficado furioso ao ver a ilustração de Milton Goes para seu poema, cuja primeira estrofe trazia os versos “Um bode imundo irrompe/ (...) e perante minha pessoa a fera/ estaca e já dentro de mim se esmera/ (...)”. Na ilustração, Goes usou a imagem literal de um bode, o animal, que se transforma numa seta e fere o peito de um homem. Waly talvez não tenha compreendido que, neste caso, o bode foi a metáfora da metáfora, e o realismo reforçou a imagem figurada. 

Terceiro número – Aquela que seria a última edição de Há Vagas, de agosto de 1985, foi feita por Armando Veloso, Chico Leite e Alexandre Marino, com a colaboração de Paulo Joe e Theophilus. A edição de arte ficou a cargo de Milton Goes e Chico Leite. Cristina Bastos teve importante contribuição em todo o trabalho. A imagem da capa, do fotógrafo Juan Pratginestós, mostra um casal sentado nas arquibancadas vazias do antigo anfiteatro do Parque da Cidade, cenário do lendário Concerto Cabeças, e na contracapa as mesmas arquibancadas, lotadas, ambas fotos feitas do alto. 

O poeta Ferreira Gullar foi entrevistado pela jornalista Patrícia Assis. A professora Maria Duarte escreveu um ensaio sobre arte e cultura nos novos tempos que se inauguravam no país. Encartadas na revista vinham as Breves anotações para um provável manigesto, com texto final de Chico Leite, que discutiam a proposta literária dos editores da revista, voltada para uma poesia de linguagem universal, uma “viagem da pedra primitiva ao neon”, revelada nos versos de Paulo Joe: “Nem vanguarda, nem retaguarda, apenas o que o coração aguarda.” 

Entre os colaboradores desta edição estavam ainda Alice Ruiz, Antonio Barreto, Guido Heleno, Nevinho Alarcão, Nilto Maciel, Paulo Leminski, Reynaldo Jardim, Thais Guimarães e Zaida Regina. 

Há Vagas reuniu, em suas três edições, nomes de grande importância da literatura que se fazia na época em Brasília, publicando ainda escritores que se destacavam em outros estados por uma postura de inquietação e questionamento. Novos tempos chegavam. Há Vagas cumpriu sua parte. 
 

A CAMINHO DE EXÍLIA

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Esta é a capa de meu novo livro de poemas, Exília, um belo trabalho de Regina Kashihara. Edição da Dobra Literatura, o livro terá lançamentos a partir da próxima semana. 

Na terça-feira, 18 de junho, vamos lançá-lo em São Paulo, na Casa das Rosas. Na quinta-feira, 20, em Passos, na Livraria Mar de Minas. E no sábado, 22, em Belo Horizonte, na Livraria Mineiriana. Volto a Brasília para lançá-lo no restaurante Carpe Diem na quinta, 27 de junho. 

Mais detalhes desses eventos - endereços, telefones, horários - estão disponíveis na coluna à direita. Informações sobre o livro podem ser lidas no menu superior deste blog, na aba "Exília". 

Contatos com o autor: am.versoseprosas@gmail.com

Outras informações: Alexandre Marino Versos e Prosas, no Facebook. 

[estante afetiva] POESIA EM MOVIMENTO

O poeta Alberto Bresciani fez sua estreia em livro sem pressa, como se aguardasse o tempo suficiente que o qualificaria para dialogar com o leitor. Em Incompleto movimento, lançado em 2011 pela Editora José Olympio, ele finalmente estabelece esse diálogo, com uma poesia concisa e de alta densidade. Consciente de que sempre há de faltar um gesto para completar o movimento, Bresciani  adverte, logo no início, que se é “inútil, tão inútil / esse discurso frágil // Em silêncio, todavia, / um sol oculto no corpo”.

O conflito com o tempo é matéria-prima com que Bresciani compõe seus poemas, de intensa lapidação. “Tardio ainda assim / eu me invento”, afirma em Sorte, para depois advertir que no silêncio “calo o medo e todo corte”. Entre os elementos comuns aos poemas do livro, pode-se encontrar, além do tempo, o corpo e suas extensões – que começam na casa, como ambiente, e vão até o rosto e as mãos, expressão e gesto – e a natureza com seus elementos, que ele torna sempre palpáveis – o vento, a água, os peixes, os pássaros, a luz. Além de nossas tentativas de voos, que eventualmente redundam em naufrágios.

Do início ao fim do livro, o leitor que atentar para as palavras e deixar fluir as sensações despertas pela poesia há de intuir que Bresciani busca, além e no fundo, a essência. A essência da matéria da poesia, que é a própria poesia. Essa busca está exposta naquele que é a síntese e, talvez, o melhor poema do livro, Miragem – “Somos ficção / Simulamos o invisível / e a imagem // no reflexo do espelho – ali nada há / como nada somos // Onde encontrar / a verdade / ou a real essência // desses fantoches / de nós mesmos / se os mistérios // não estão em lugar / mas no que mais fundo / escondemos?”

Alberto Bresciani divide sua coleção de poemas em quatro porções de gestos – os que transfiguram, os que iluminam, os que atordoam e os que paralisam. O movimento será sempre incompleto, mas a leitura dos poemas estabelece um diálogo em moto contínuo, entre o poeta, que o prossegue, e o leitor, que pressente a poesia e é engolido pelo redemoinho que ela provoca.

SERGUILHA EM BRASÍLIA

O poeta português Luis Serguilha comparece a Brasília esta semana - mais precisamente na próxima quinta-feira, 15 de março - para lançar seu novo livro, KOA´E. Poeta e ensaísta, escritor premiado, com textos publicados em revistas de literatura no Brasil, Espanha e Portugal, além de traduções para várias línguas, Serguilha é atração imperdível.

KOA'E projeta o holomovimento poético, a contínua dança energética-poética, a teia dançante de infinitas possibilidades, explica o crítico de arte Daniel-Karys Strauss. Luis Serguilha é conhecido como um dos mais transgressivos e inovadores da atual poesia portuguesa - e da poesia lusófona, se poderia acrescentar. 

Strauss prossegue: "KOA'E recria o mapa cósmico como uma melodia de imersões e emersões fractais onde o possível leitor se transforma em músico e bailarino. Um corpo-teatro-sensorial em ebulição. KOA'E expande, constrói e recolhe curto-circuitos nos corpos dos leitores. As multiplicidades estéticas deste livro criam um rizoma de fusões imaginárias-perceptivas. A violência das construções poéticas de KOA'E desoculta a vida e recria-a onde cada golpe imagético resgata abismos e cartografa arquitecturas mágicas fazendo da sua heterogeneidade um fluxo intensificador de forças estéticas."

Serguilha lança KOA´E em Brasília na próxima quinta-feira, 15 de março, das 19h às 21h, no Balaio Café, 201 Norte, bloco B. É preciso ver isso de perto.

BRASÍLIA TERÁ BIENAL DE LIVROS


Depois de dar um pontapé na segunda edição da Bienal Internacional de Poesia de Brasília, que vinha sendo planejada há dois anos, e de demitir Antonio Miranda do cargo de diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, a secretaria de Cultura do DF anuncia a 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, a se realizar em abril de 2012.

Pois é, mais uma “bienal”. E o nome é pretensioso. O secretário de Cultura, Hamilton Pereira, anuncia a captação de R$ 7,5 milhões em patrocínio, depois de negar apoio ao evento de poesia, que precisava de R$ 1,5 milhão para se viabilizar. Hamilton se apresenta como poeta, mas é apenas um político como todos os outros.

A secretaria convocou o escritor Luiz Fernando Emediato e deu-lhe o cargo de coordenador literário da anunciada Bienal do Livro e Leitura. Emediato critica a Biblioteca Nacional por não ter livros disponíveis para empréstimo. Talvez ele não saiba que a Secretaria de Cultura negou recursos para que bibliotecários fossem contratados para cadastrar as dezenas de milhares de volumes que a biblioteca já possui. Os poucos bibliotecários que lá trabalham eram obrigados a cumprir funções burocráticas e seus salários estavam constantemente atrasados.

Luiz Emediato lembra que o brasiliense é “leitor de peso”, e o DF é o maior consumidor de livros per capita do país, segundo pesquisa da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Esses dados são uma falácia. Se fosse assim, as editoras correriam para participar de eventos na cidade, o que não acontece. O poder público – mais especificamente, o governo do DF – não entende nada de cultura. Brasília foi pensada para ser o centro cultural do país, mas essa ideia foi desvirtuada pelos militares e os governos locais, capitaneados por Joaquim Roriz, não querem saber disso. Agnelo Queiroz não é diferente.

O prometido evento terá o arquiteto Oscar Niemeyer como convidado, de acordo com o coordenador. É uma ótima ideia. Ao percorrer a Biblioteca Nacional de Brasília, Niemeyer terá uma noção do péssimo resultado de seu projeto – um prédio absolutamente inadequado para uma biblioteca.