Bombas sobre Macondo

Leio na Folha de S. Paulo de ontem, 26/6, matéria sobre um suposto movimento de escritores latino-americanos contra o realismo mágico. Alguns desses novos escritores participarão da Flip, em Parati, no início de julho. O movimento já produziu até uma coletânea de contos, McOndo, trocadilho idiota que procura comparar o gênero à rede de lanchonetes McDonalds.

O que o realismo mágico fez pela literatura deste continente miserável, ignorante e iletrado não foi pouco. Deu-nos pelo menos um Prêmio Nobel, merecidíssimo (estou me referindo a García Marquez) e descreveu nossas tragédias com as tintas da criatividade e da arte. Cem Anos de Solidão, assim como outros livros do mesmo autor, com seus personagens absurdos e situações nonsense, traça um retrato psicológico fiel do povo latino.

A matéria da Folha - "Latinos debatem uma Macondo em ruínas", Ilustrada, pág. E3 - é assinada pela repórter Sylvia Colombo. Ela parece concordar com os neo-rebeldes, tanto que chama o movimento que combatem de "cadáver insepulto". Fotos de vários desses autores ilustram a página. Seus livros são publicados por grandes editoras daqui, de lá ou multinacionais. Márquez, Juan Rulfo, Julio Cortázar e muitos outros, quando começaram, não tinham a alta tecnologia marqueteira em que se apoiar, apenas seu talento.

Este escriba não combate a literatura feita por esses novos autores e acredita que escrevam bons livros, a julgar pelo pouco que conhece de alguns deles. O realismo urbano que eles propõem faz sentido, já que nos últimos 30 anos houve intensa urbanização dessas sociedades. Mas cuspir na obra dos grandes autores do continente não passa de rebeldia infantil.

Além disso, o continente latino-americano, depois de séculos de opressão econômica e cultural, com seus governantes populistas e "ridículos tiranos", como disse Caetano Veloso, será sempre um pouco surrealista.

O piano


Dorme um piano
entre as cinzas do porão,
onde os gatos e suas ninhadas,
indiferentes à escuridão
ou qualquer sinal de morte,
caminham sobre o teclado
e descobrem o imponderável
(como se ordenassem:)
acorde!


[a ilustração é de Meire de Oliveira, publicada na revista Vida Simples]

Arte e mercado

A produção cultural brasileira está refém das estratégias de marketing e dos humores do mercado. A indústria do livro impõe aos leitores, a cada fim de semana, nas páginas dos cadernos culturais, novos gênios que estreiam na literatura. Autores e livros medíocres ganham status de inovadores, geniais. É o mesmo processo que já tomou conta da música brasileira, fazendo com que produtos que não passam de lixo conquistem o gosto dos consumidores. O jornalista Luís Nassif vem a Brasília discutir essas e outras questões afins e lançar seu livro Cabeças de Planilha. O evento acontece nesta terça, 26, a partir das 19h, no Clube do Choro (Eixo Monumental, próximo ao Centro de Convenções). De quebra, Nassif, que é bandolinista, participa de uma roda de choro ao lado de músicos da cidade.

Um poeta de vida simples

A revista Vida Simples de julho, que acaba de chegar às bancas, publicou o poema O Piano, de autoria deste escriba, na sessão Outras Palavras. É a edição de número 55 da revista, voltada para um estilo de vida menos estressante e com melhor qualidade. Nesse contexto é que entra a poesia - em todas as edições o tema é abordado em artigos, dicas de livros e um poema, publicado na última página. O Piano, retirado do livro Arqueolhar, recebeu uma bela ilustração de Meire de Oliveira.

Para ler O Piano e outros poemas do Arqueolhar, acesse o sítio Ave Palavra, do jornalista e escritor Carlos Machado, clicando aqui. No Sítio do Alexandre Marino, você acessa poemas de vários livros deste autor.

Em Teerã

Os escritores Alaor Barbosa e Ronaldo Cagiano participaram de um improvável, porém real, Encontro de Literatura Latino-Americana em Teerã, capital iraniana. Conheceram um grupo de escritores de vários países - Argentina, Chile, Bolívia, México, entre outros - e um país ultra-exótico para os nossos padrões. O evento foi promovido pelo governo do Irã e os escritores convidados puderam desfrutar de considerável mordomia, se é que se pode chamar de mordomia a pesada vigilância a que foram submetidos. Eles não podiam circular pela cidade por conta própria, mas apenas com escolta e em lugares aonde eram levados. Conversar com mulheres nativas? Nem pensar. Durante o Encontro, Ronaldo Cagiano falou sobre "A estética da diversidade na ficção brasileira contemporânea" e Alaor Barbosa fez uma palestra sobre a obra de Guimarães Rosa. A experiência certamente renderá boa leitura para os curiosos que aguardam relatos da viagem. Na foto que ilustra esta postagem, Alaor e Ronaldo posam em cenário típico de Teerã.

A festa do Liga Tripa

O Clube do Choro recebeu no último sábado a trupe do Liga Tripa, para fazer a alegria de um bom público que compareceu à sala. Não é sempre que podemos preencher nossas noites de sábado com duas instituições brasilienses. Toninho (flauta), Caloro (contrabaixo africano), Carrapa (cavaquinho), Aldo Justo (violão), Fino (percussão) e Duboc (violão) fizeram a festa. Para quem perdeu, resta esperar pela próxima.

Bric-a-Brac, Maior Idade

Bric-a-Brac, se estivesse viva, completaria 21 anos. Mas quem disse que não está viva a revista litero-cultural experimental que circulou entre 1986 e 1992, levando a poesia de Brasília a surpreender a mídia nacional? Espiritualmente vivíssima, como prova a exposição Bric-a-Brac, Maior Idade, Poética Multimídia, que será aberta no dia 14, quinta, na galeria principal da CEF, em Brasília.

O jornalista e poeta Luís Turiba, editor da revista, explica que será uma exposição retrospectiva, com novas leituras de antigos trabalhos e muitos documentos inéditos, cartas, manuscritos, etc. Haverá uma parede dedicada a novos trabalhos, que também serão publicados em forma de catálogo, como se fosse uma nova edição, "a Bric-a-Brac 2007, Maior Idade."

Também está sendo produzido um documentário-clip sobre a trajetória da publicação.

A imagem que você vê no alto desta postagem é a capa da edição 4, de 1990. Poderá ser relida na galeria da Caixa.

Liga Tripa no Clube do Choro!

O Liga Tripa vai apresentar sua música feita de lirismo, crítica social e irreverência, no Clube do Choro, no próximo dia 9, sábado. Por incrível que pareça, há gente em Brasília, ligada em música, que não conhece o Liga Tripa. Mas quem conhece quer ouvi-los de novo, e não há público mais fiel, assim como não há música mais tipicamente brasiliense.

O Clube do Choro fica próximo ao Centro de Convenções de Brasília, no meio do gramado que separa as duas pistas do Eixo Monumental. É um espaço informal, descontraído, totalmente adequado a uma apresentação do Liga Tripa, que costuma arrastar o público pelos gramados e avenidas depois de descer do palco.

Já lá se vão mais de 25 anos que o Liga Tripa emitiu seus primeiros acordes nos gramados brasilienses. Misturando influências do baião, do frevo, do samba e outros ritmos desse Brasil adentro, Aldo Justo e sua trupe criaram um ritmo - a "ligada" - que não poderia ter surgido em outra cidade. Na formação atual, Sérgio Duboc, Toninho Alves, Carrapa, Fino e Caloro completam o grupo, com violões, flautas, cavaquinho, percussão e o "negão" - um contrabaixo monocórdio de origem africana que é uma das atrações do Liga.

O grupo já se apresentou em diversas capitais brasileiras e em cidades da Nicarágua, onde representou o Brasil no V Encuentro Iberoamericano de la Cultura.

Portanto, para não esquecer: Liga Tripa no Clube do Choro, dia 9, sábado, às 21h30. Ingressos a R$ 10 e R$ 5.