Um bom começo para um bom 2007

Vem aí 2007, trazendo esperanças e novas energias. 2006 passou, com perdas e ganhos. Lá se vai mais um pedaço de nós, mas nosso edifício pessoal recebeu mais alguns tijolos. Esperamos que 2007 nos surpreenda com boas notícias e a perspectiva de um mundo melhor, com mais tolerância, solidariedade e poesia. Muita saúde, inspiração e sorte a todos.

Minha contribuição para este início de ano será um novo livro de poemas, que começará a circular ainda em janeiro. Tiragem pequena, um presente especial para leitores escolhidos.

O vácuo



Brasília ganhou neste último mês de 2006 o Complexo Cultural da República, conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer no Eixo Monumental de Brasília. Foi aberto ao público a 16 de dezembro. Poderia ser uma das grandes notícias do ano, se não fosse um pequeno detalhe: o Complexo, formado por um Museu e uma Biblioteca, ambos monumentais, estão vazios. Ocos. Cheios de vácuo. O prédio da Biblioteca, com espaço para abrigar 500 mil volumes impressos, não tem um único livro sequer.

O Complexo ocupa 91,8 mil mestros quadrados, custou R$ 110 milhões e foi construído em quatro anos. Faz parte do projeto original de Brasilia, e fica próximo à Catedral e ao Teatro Nacional, dois cartões postais conhecidos no mundo inteiro. Bem ao seu estilo, o ex-governador Joaquim Roriz, recém-eleito senador pelo DF, construiu o Conjunto indiferente aos custos, da mesma forma como levantou quase 30 viadutos e pontes nos dois últimos mandatos. No entanto, em momento algum trocou idéias com sua equipe sobre o acervo dos dois edifícios - de onde viriam as coleções, as obras, os livros, como seria administrado.

Roriz já deixou o governo. Ficaram como herança dois belíssimos prédios, à altura dos demais monumentos da principal via de Brasília. Mas ficou, também a incômoda sensação de que vivemos num país de fachada, de aparências, sem grandeza, que não consegue compreender as suas reais necessidades de educação, de formação cultural, de compreensão do mundo e da humanidade.

Criação literária em debate no MinC

O Ministério da Cultura distribuiu Relatório sobre as discussões promovidas pela Secretaria de Políticas Culturais durante a Oficina Sobre Produção Literária, que reuniu, no dia 5 de dezembro, diversos escritores convidados. O objetivo: levantar subsídios para o Poder Público fomentar ou estimular a produção literária. Para os mais céticos, pode ser uma bobagem, medida burocrática sem resultados práticos. Mas nunca é demais acompanhar, até porque não se tem notícia de que o Governo tenha aberto portas, em outras ocasiões, para que escritores apresentassem reivindicações ou expusessem questões que os incomodam.

De acordo com Sérgio Fantini, um dos convidados, o Relatório reproduz as discussões com bastante fidelidade. Como se poderia esperar, foi um primeiro passo e não houve resultados práticos concretos, mas percebe-se que foram lembradas questões importantes. Como a intenção do MinC é traçar linhas gerais de uma política cultural para o Brasil, definida no Plano Nacional de Cultura (PNC), é bom que os escritores estejam atentos e possam encaminhar sugestões.

O manifesto “Temos fome de literatura”, redigido em 2005 pelo Movimento Literatura Urgente e assinado por mais de 180 escritores, foi o ponto de partida das discussões. O documento defendeu a inclusão da literatura nas ações públicas, a distribuição de bolsas de criação literária, promoção de programas de circulação de escritores pelas universidades e escolas de ensino médio, intercâmbios de autores latino-americanos e de países lusófonos, apoio a publicações literárias, entre outras ações.

Não se pode falar em estímulo à criação literária no Brasil sem falar no estímulo à leitura. O País tem alto índice de analfabetismo funcional, bibliotecas pobres e mal conservadas, baixíssima proporção de livrarias e um mercado editorial elitizado. Portanto, o investimento em educação, abertura de bibliotecas e enriquecimento do acervo das existentes, além de ações para o barateamento do livro, são medidas recomendáveis para que o escritor veja crescer o seu público, ainda que o resultado só seja perceptível a longo prazo.

Diante desses problemas estruturais, talvez a melhor contribuição da Oficina tenha sido o debate sobre programas de circulação de escritores em escolas, bibliotecas e feiras de livros pelos municípios do interior, o que colocaria autores em contato direto com os estudantes e despertaria curiosidade pelo seu trabalho, além de levar o objeto livro a um público maior. Esses programas são muito comuns no Rio Grande do Sul, patrocinados pelos governos estadual e municipais. O apoio à realização de feiras de livros no maior número possível de cidades, especialmente pequenas e médias, poderá compensar a inexistência de bibliotecas e livrarias, e conseqüente falta de convivência da população com o objeto livro. A presença de escritores nessas feiras, para palestras e debates, e o subsídio para a aquisição de seus livros estimularia a leitura e o trabalho do escritor.

Outra boa idéia apresentada na Oficina foi a da criação de uma agência nacional de fomento, nos moldes do CNPq ou da Capes. Assim como a distribuição de bolsas de criação literária, prêmios e programas de residências para escritores, poderia gerar um movimento criativo com repercussão na qualidade e no vigor de nossa literatura. A Oficina debateu ainda temas como a autonomia dos escritores, os males do dirigismo estatal e de mercado, o apoio das emissoras de TV, cooperativas de autores, a regulamentação da profissão do escritor (idéia felizmente rejeitada por todos), a realização de um censo nacional sobre criação, produção e distribuição editorial, etc. Certamente há concordâncias, discordâncias, controvérsias.

O mais importante é que todos os interessados participem da discussão. Para começar, solicitem a este escriba a íntegra do Relatório distribuído pelo Ministério da Cultura. Escrevam para
arqueolhar@gmail.com.

Participaram oito convidados: Fabio Weintraub, Fernando Reis, Francisco Foot Hardman, Gina Machado, Guiomar de Grammont, José Almino, Paulo Bentancur e Sérgio Fantini; do Ministério da Cultura, Elder Vieira e Jéferson Assumção. Do Núcleo de Redação do PNC, Sérgio Alcides foi o moderador e Daniel Hora tomou as notas para a elaboração do Relatório.

Jardim da Babilônia

Este minifúndio virtual comemora os 80 anos do poeta, jornalista e multiartista Reynaldo Jardim, figura histórica da fase de ouro do jornalismo brasileiro. Reynaldo faz aniversário no dia 13 de dezembro - a próxima quarta. Já no dia 11, segunda-feira, haverá no foyer do Teatro Nacional, em Brasília, a abertura de uma exposição multimídia, sarau poético-musical e exibição de filmes. Além disso, Reynaldo receberá o título de Cidadão Honorário de Brasília, concedido pela Câmara Legislativa do DF. Entre as muitas façanhas cometidas pelo poeta ao longo de seus 80 anos, está a criação do lendário Caderno B do Jornal do Brasil, nos anos 50, uma revolução permanente que o pobre e medroso jornalismo de resultados praticado hoje tem vergonha de recordar. Reynaldo foi também o criador do jornal O Sol, citado por Caetano Veloso na canção Alegria Alegria e tema do documentário O Sol - Caminhando contra o Vento, de Tetê Moraes e Marta Alencar, surpreendente e merecido sucesso recente do cinema nacional. Nascido em Curitiba e morador de Brasília há alguns anos, Reynaldo parece estar quieto no seu canto, mas mesmo assim foi a razão da criação da ARREY - Associação Recreativa Unidos dos Amigos do Reynaldo Jardim. Não é todo dia que um personagem desses chega aos 80!
[o título desta postagem foi tomado por empréstimo da matéria Reynaldo Jardim da Babilônia, de Luís Turiba, publicada na revista Roteiro Brasília]

Primeiras notícias da Oficina

O Ministério da Cultura divulga nos próximos dias um relatório sobre a Oficina de Produção Literária, promovido pela Secretaria de Políticas Culturais. Nessa primeira reunião, realizada na terça-feira, 5 de dezembro, o ponto de partida das discussões foi o manifesto "Temos fome de literatura", elaborado há dois anos pelo movimento Literatura Urgente e assinado por grande número de escritores de todas as regiões do País.

Os principais pontos do manifesto, debatidos ontem, são o incentivo à criação literária, com medidas como concessão de bolsas, promoção de caravanas de escritores para palestras em universidades, a interferência oficial na deficiente distribuição de livros no Brasil, entre outros assuntos.

A reunião foi fechada, mas o escritor mineiro Sérgio Fantini, um dos convidados, revelou a este escriba suas impressões e declarou-se otimista, pela maneira como as discussões estão sendo conduzidas. O objetivo dessa e futuras reuniões é definir propostas para o Plano Nacional de Cultura (PNC). Segundo Fantini, não houve grandes polêmicas e os participantes preferiram ouvir os relatos apresentados e, à medida do possível, enriquecê-los, com discussões equilibradas.

O sítio do Ministério da Cultura na internet não tem qualquer informação sobre esse assunto. É uma pena, porque poderia ser uma fonte de consulta sobre o andamento dessa discussão. Também não seria mal se o Ministério abrisse um canal de debate público, para que outros escritores pudessem enviar sugestões para as pautas de novas reuniões. A democratização dessa discussão não deve se restringir ao convite a escritores supostamente representativos para reuniões fechadas. Boas idéias podem vir de longe, de cabeças desconhecidas.

Com exceção do poeta e editor Augusto Massi, os demais convidados compareceram. Lá estiveram os escritores Fábio Weintraub, José Almino, Guiomar de Grammont, Paulo Bentancur; o historiador e crítico literário Francisco Foot Hardman, e a consultora cultural Gina Guelman Gomes Machado, além de Sérgio Fantini, representante do Movimento Literatura Urgente.

A oficina foi coordenada pelo poeta Sérgio Alcides, integrante do Núcleo de Redação do PNC. Élder Vieira, coordenador executivo do Plano, e Jeferson Assunção, do Núcleo de Redação, também participaram. Estão previstas novas reuniões, ainda sem data marcada, com a participação de outros escritores.

Literatura no PNC

O Ministério da Cultura promove nesta terça-feira, 5/12, em Brasília, uma Oficina sobre Produção Literária, com a finalidade de levantar subsídios para a redação do Plano Nacional de Cultura. Esse documento pretende traçar as linhas gerais de uma política cultural para o Brasil. De acordo com informações oficiais, a criação literária deve ser pensada como parte das políticas públicas de estímulo à leitura, acesso ao livro e promoção da literatura brasileira dentro e fora do País.

Escritores como Ademir Assunção e Cláudio Daniel levantaram essa discussão há dois anos, propondo o movimento Literatura Urgente e lançando um manifesto, apoiado por grande número de escritores, em que se reivindicava uma política pública para a Literatura, e não apenas para o livro. Há uma grande diferença.

Para a reunião desta terça, algumas questões foram colocadas. O Estado tem algum papel a desempenhar no estímulo à criação literária? Programas de apoio ou subsídio seriam favoráveis à atividade do escritor? Nesse caso, como fica a independência? Quais as alternativas para o estímulo à criação literária no Brasil? Como seria um programa público com esse fim?

Há muito o que discutir, e é ótimo que esse debate seja proposto. Para esse primeiro encontro, foram convidados os escritores Augusto Massi, Fábio Weintraub, José Almino, Guiomar de Grammont, Paulo Bentancur; o historiador e crítico literário Francisco Foot Hardman, e a consultora cultural Gina Guelman Gomes Machado. Também participa meu amigo Sérgio Fantini, poeta e ficcionista, um dos integrantes do Literatura Urgente.

Sempre defendi que o maior estímulo à criação literária é uma política consistente de formação de leitores, com a necessária multiplicação de bibliotecas bem administradas, renovadas e acessíveis à população. Existem iniciativas incipientes nesse sentido. Mas a ação do Ministério revela ao menos uma intenção de incluir a Literatura entre as atividades reconhecidamente importantes para o enriquecimento cultural do País, assim como a música e o cinema. Espera-se que os escritores brasileiros estejam atentos e contribuam para essa discussão.

Cagiano em BH

O escritor Ronaldo Cagiano, mineiro radicado em Brasília, estará em Belo Horizonte neste sábado, 2/12, lançando seu livro de contos Dicionário de Pequenas Solidões, na Livraria Quixote (Fernandes Tourinho, 274, Savassi), a partir das 11h. O livro dele é publicado pela Língua Geral, nova editora criada pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa. Ele estará acompanhado de Christiane Tassis, que autografa o romance Sobre a Neblina, da mesma editora. Ronaldo e Christiane já lançaram seus livros no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na semana passada, Dicionário de Pequenas Solidões levou grande público à livraria Café com Letras, de Brasília. Boa sorte aos livros, aos autores e à editora.