LÁ VEM BOMBA!!!


Você pode dizer o que quiser, mas Sérgio Fantini é o cara. Ele gosta de zanzar por aí com seu jeito sarcástico, mais que irônico, sempre amigo, mas quando solta um livro novo, lá vem bomba. A ponto de explodir. Você que se segure com essa escrita que é só dele, ainda que ele dê uma entrevista aqui e ali tentando explicar um pouco a coisa e tal.

Algumas dessas explicações
ele deu em entrevista à Revista de Autofagia, publicada em Belo Horizonte e disponível na internet, se você procurar. "Transformei o poeta em prosador". Desde 1976 ele vinha publicando seus poemas em xerox, zines, livrinhos, folhetos, e a coisa tomou grandes dimensões.

A ponto de explodir
, sua mais recente façanha, começa com um contozinho despretensioso, HC, uma historinha adolescente, que você vai guardar na memória até a velhice,como se aquilo tivesse acontecido com você. "Um dia vamos rir disso tudo", você diz para ele, ele e os personagens, a Liz e o Pistache, você já imaginou um personagem que se chama Pistache? E de repente você já está a ponto de explodir de rir daquilo tudo.

Tem também aquela gente sofrida e amarga
que circula pelas páginas a ponto de explodir. Tem aquela história policial com um título instigante, seu deus não é o meu, tem o John Lennon marcando para sempre a agenda de três jovens soltos na vida... Sim, todo o mundo se lembra o que fazia naquele 8 de dezembro!

E tem poesia, é claro.
Implícita e explícita. Por exemplo, Diário do inclame, mais que justa homenagem a Tião Nunes, e o texto título, uma porrada que nos atira contra o muro dos becos sem saída.

O livro foi lançado pelo selo Uainote
em 2008 e circula entre amigos, parentes, eventos, lugares onde o Sérgio circula. Sempre haverá o risco de dar de cara com ele. Em Belo Horizonte, onde vive, ou qualquer outra quebrada por aí. E então, está esperando o quê para ler o livro do Sérgio Fantini? A ponto de explodir estamos todos.

NOSSO CARNAVAL

Às vésperas do carnaval que o governador do Distrito Federal passará na cadeia, é preciso relembrar que Brasília sofre a maldição de ser a capital de um país doente. A cidade, projetada para a modernidade e o futuro, só não deu certo por causa dos políticos. A comemoração de seus 50 anos, a 21 de abril, deveria ocorrer em absoluto silêncio, não um minuto de silêncio, como se homenageiam os mortos antes das partidas de futebol, mas com 24 horas de silêncio.

Este carnaval também será de silêncio, o mesmo silêncio de perplexidade e impotência, ainda que os blocos saiam às ruas para cantar versos engraçadinhos tendo como tema a desgraça que não é brasiliense, é nacional. No cárcere, ou em casa, se conseguir, o ex-governador curtirá a solidão, a da justiça fingida e hipócrita. Afinal, por que os outros personagens de todos os outros mensalões não estão ao lado de Arruda, compondo o bloco dos mensaleiros?

O governo do DF pretendia promover um festejo inesquecível para comemorar o cinquentenário. Ao invés de trazer artistas de todas as regiões do país para uma grande confraternização - Brasília é a síntese brasileira, já se cansou de repetir - pretendia trazer Paul McCartney. Pretensão e megalomania.

Com as mesmas intenções megalômanas, injetou dinheiro no carnaval carioca. O tema da escola de samba Beija-Flor é Brasília. Muitos brasilienses estarão desfilando na escola. Não sei se, diante dos últimos fatos, a platéia vaiará. Se o fizer, os passistas tentarão demonstrar seu orgulho de viver em Brasília, apesar da bandidagem que tomou o poder.

Não é bem assim. Quem dá o poder aos bandidos é o povo. Brasília se confunde com todo o Distrito Federal, mas o Distrito Federal não se identifica com Brasília. O primeiro erro foi não ter havido um projeto para todo o quadrilátero, como houve o originalíssimo projeto de Lúcio Costa para Brasília. Seria, talvez, revolucionário. Como não foi assim, tornou-se mera utopia, que se esgota enquanto a população do entorno se volta contra uma cidade com a qual não se identifica.

Nessa guerra, políticos desprovidos de ética só enxergam as perspectivas do lucro sem limites. Repetindo mais uma vez, Brasília é a síntese do Brasil.