O que há de melhor na paisagem? O próprio gesto de contemplar, o integrar-se à essência daquilo que se esparrama perante nossos olhos. Assim é a poesia - um ato de contemplação, um derrame de imagens despertadas por nossa imaginação e memória. A transição dos sinais gráficos da escrita para particulares paisagens se faz enquanto nossos olhos percorrem os versos, ou enquanto a voz amiga os decodifica em sons e palavras. A poesia tem o poder, quase mágico, de provocar essa interação entre poeta e leitor. O primeiro traduz para o papel a sua emoção, seu ponto de vista sobre o mundo; o segundo recria o poema a partir de sua sensibilidade. Assim, a poesia é um jogo de cumplicidade e afinidade, ainda que momentâneas, entre o criador-poeta e o criador-leitor. Ambos atuam em sintonia e, assim, completa-se o poema. O mergulho do leitor na poesia que o envolve e lhe desperta todos os sentidos é um momento extremamente feliz. Alcançar a poesia é gratificante, mas é atividade que exige talento, sensibilidade e sabedoria, virtudes freqüentemente presentes no interior do indivíduo, mas nem sempre disponíveis para aflorar. Essa interação entre dois universos distintos é fruto de um diálogo atemporal e silencioso. Nenhum poeta é grande sem um grande leitor, assim como nenhuma paisagem será bela se não houver quem saiba contemplá-la.
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