Em dezembro de 1972, circulou na cidade de Passos, sudoeste de Minas Gerais, a primeira edição da revista literária Protótipo. Publicava contos e poemas de um grupo de estudantes do ensino médio, ou ginasial, como se dizia na época, com idades entre 16 e 19 anos. O expediente da revista explicava: “(...) Objetivando a descoberta de novos valores, voltados para o mundo que nos cerca, em forma e conteúdo, o sempre/real mágico, correndo livre na imaginação de cada um: aquilo que desejaríamos criar ou estamos botando pra fora do corpo.”
A revista era patrocinada pelos comerciantes da cidade, aqueles que se sensibilizaram com a inquietação dos jovens – filhos, sobrinhos, filhos de amigos, ou simplesmente conterrâneos. Passos, localizada a 350 km de Belo Horizonte, por estrada não totalmente asfaltada, tinha uma população de 30 mil habitantes. O país vivia conturbado momento político e efervescente momento cultural. Jovens artistas de todo o país colocavam sua criatividade a serviço da resistência à ditadura militar. Protótipo despertou a atenção dos oficiais que administravam o chamado Tiro de Guerra, onde os jovens prestavam o serviço militar obrigatório. E também de professores e artistas da cidade.
Do expediente da revista constavam os nomes de Antonio Barreto, Carlos Parreira, Alexandre Marino, Iran Machado, Antônio Rogério Daniel, Carlos Parada, Paulo Régis da Silva, Marco Túlio Costa e Marise Pacheco. “Protótipo é nós. Nosso modo de exprimir o mundo presente. Aqui-agora, nos explodimos em estilhaços/bagaços, no interior das vísceras. Por favor, reaja. Faz de conta que te agredimos”, apelava o editorial.
Na imagem que ilustra este texto, a reprodução da capa da primeira edição da Protótipo, uma raridade. A revista, que pretendia mostrar aos conterrâneos os primeiros passos dos futuros escritores passenses, rompeu os limites da província e foi comentada nos principais veículos de comunicação do Brasil.
Algum tempo depois, em 1981, o escritor Glauco Mattoso, em seu livro O que é poesia marginal, da coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense, informava que Protótipo era uma das pioneiras do movimento da poesia marginal, ao lado da carioca O Feto. Na época o rótulo de "marginal" para designar a mais recente geração poética brasileira ainda não estava assimilado pela cultura acadêmica, mas já era usado pelos autores, incluindo o próprio Mattoso.
Um pouco da história de Protótipo será contada aqui, em capítulos.
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