CORAÇÃO VAGABUNDO

O tempo trouxe maturidade e levou embora um tanto daquela arrogância que Caetano Veloso parecia gostar de exibir. Mas o gênio, o olhar aguçado, a sensibilidade e a capacidade de observação continuam afiados, a julgar pelo que se vê no documentário Coração Vagabundo, lançado nacionalmente no final de julho e ainda circulando pelos cinemas do Brasil.

O filme de Fernando Grostein Andrade
mostra momentos de intimidade do músico baiano durante turnês de lançamento do CD Foreign Sounds, em shows realizados em São Paulo e cidades dos Estados Unidos e do Japão (2003-2005). Chega a ser estranho ouvir Caetano falar de suas dificuldades com a língua inglesa ao enfrentar uma entrevista na televisão norte-americana. “Eu sou de Santo Amaro, e lá vivi até os 18 anos”, afirma ele. “Não sou de São Paulo, uma cidade com espírito cosmopolita.” Não é qualquer baiano que encara aquela gororoba japonesa que Caetano se esforça para provar, na cena mais hilária do filme.


Ao mesmo tempo, é emocionante
ver Caetano Veloso interpretar, em plena forma, clássicos do jazz ou os seus próprios, com destaque para Terra, uma das mais belas canções feitas no Brasil desde que o Festival da Record revelou o músico. E as manifestações de fãs ilustres, como o cineasta Pedro Almodóvar e o cantor David Byrne, só reforçam a experiência dos brasileiros privilegiados que acompanham sua carreira. Coisa que estrangeiros anônimos também aprenderam a fazer, como o monge que se declara fã, ou os japoneses que contorcem a língua para entoar trechos de suas canções.


Outro momento marcante do filme
é a rápida aparição do cineasta Michelangelo Antonioni, homenageado por Caetano com uma bela canção. Antonioni revê num computador um de seus grandes momentos no cinema, a cena final de Passageiro profissão repórter, enquanto conversa com a esposa sobre o músico brasileiro.


O documentário também mostra
que a produtora do filme, Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano, é aquilo que sempre foi: uma chata. Na época, o casal estava em processo de separação e Caetano demonstra, em algumas passagens, não viver bom momento emocional. Agora que Caetano Veloso está livre de Paula Lavigne, quem sabe volte a criar um grande disco, como os que fez nos anos 70 e 80? Ao mostrar o grande artista que ele é, o filme nos reacende a esperança.

Um comentário:

No Osso disse...

Xará, cê tá de implicância com o Caetano, Cê, o penúltimo disco do baiano, é muito bom...

Não quero nem ouvir sua resposta...

Abraços... não vi o documentário, mas verei.