ADEUS, WISLAWA


 A poetisa polonesa Wislawa Szymborska (pronuncia-se Vissuáva Chembórska) morreu nesta quarta-feira, 1º de fevereiro, aos 88 anos, em sua casa, na Cracóvia. Seu único livro publicado no Brasil, sob o singelo título de Poemas, lançado no ano passado, é uma belíssima amostra de sua poesia, mas apenas despertou minha sede de conhecê-la melhor. Apesar de seu nome quase imemorizável para nós, brasileiros, eu não me esqueci dessa autora premiada com o Nobel em 1996 desde que li na revista Piauí, em 2007, alguns de seus poemas. Um dos melhores exemplos de sua poesia forte, contundente, vigorosa é este que você lê abaixo. Ele não consta da coletânea publicada pela Companhia das Letras, mas quem sabe não constará de futuras traduções brasileiras?

Fotografia do 11 de setembro

Pularam dos andares em chamas -
um, dois, alguns outros,
acima, abaixo.
A fotografia os manteve em vida,
e agora os preserva
acima da terra rumo à terra.
Ainda estão completos,
cada um com seu próprio rosto
e sangue bem guardado.
Há tempo suficiente
para cabelos voarem,
para chaves e moedas
caírem dos bolsos.
Permanecem nos domínios do ar,
na esfera de lugares
que acabam de se abrir.
Só posso fazer duas coisas por eles -
descrever este vôo
e não acrescentar o último verso.

Wislawa Szymborska


 Tradução de Sylvio Fraga Neto e Danuta Haczynska da Nóbrega

2 comentários:

F@bio Roch@ disse...

Uma voz que cala, não é uma voz que se acaba... lindo poema!!... o belo, a gente enxerga de longe.

Abraço

JIVM disse...

Estupendo! E a poeta está bem viva, não está?

JIVM