Brasília está coalhada de lixo, forrada de farrapos de papel, restos de uma campanha eleitoral medíocre. Há quem diga que não é sujeira, é democracia; como se a democracia não fosse feita de propostas concretas para levar uma sociedade à evolução, como se a democracia se restringisse a papeizinhos impressos com sorrisos falsos.
Neste sábado, a primeira chuva, o cansaço, uma última tentativa de isolamento de uma realidade deprimente. O senso crítico apurado por anos de jornalismo leva-me a rejeitar notícias. No domingo, o voto obrigatório. As opções que me apresentam não correspondem a meus sonhos de democracia.
No Distrito Federal, o candidato do partido do governo tem ligeira vantagem sobre uma desconhecida. Surpreendo-me. Mas é a esposa do candidato, e não o candidato... Ameaçado de ter sua candidatura cassada, renuncia e inscreve a própria mulher em seu lugar. O tribunal aceita.
Nas eleições para a presidência da República, uma outra desconhecida lidera. É a máscara de um presidente que não pode disputar o terceiro mandato. O outro candidato parece envergonhado, não defende as ideias e realizações do próprio partido. E há outra mulher tentando se eleger. Não corta os cabelos porque a religião não lhe permite, mas acredita ser capaz de dirigir um país.
No domingo, a chuva que fingiu chegar vai-se embora. Visto meu traje de votar e dirijo-me às modernas urnas eletrônicas que não me permitem escrever mensagens na cédula. Mas basta teclar o número zero e confirmar para anular meu voto. Mais simples que eleger um canalha.
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