CENÁRIO BRASILEIRO

 Vinte dias fora de Brasília, e retornamos com a primeira chuva. A cidade nos recebe sem a luminosidade dos ipês, mas os gramados ainda guardam o tom pastel que mais de 120 dias de seca impuseram como marca da paisagem.

Brasília está coalhada de lixo, forrada de farrapos de papel, restos de uma campanha eleitoral medíocre. Há quem diga que não é sujeira, é democracia; como se a democracia não fosse feita de propostas concretas para levar uma sociedade à evolução, como se a democracia se restringisse a papeizinhos impressos com sorrisos falsos.

Neste sábado, a primeira chuva, o cansaço, uma última tentativa de isolamento de uma realidade deprimente. O senso crítico apurado por anos de jornalismo leva-me a rejeitar notícias. No domingo, o voto obrigatório. As opções que me apresentam não correspondem a meus sonhos de democracia.

No Distrito Federal, o candidato do partido do governo tem ligeira vantagem sobre uma desconhecida. Surpreendo-me. Mas é a esposa do candidato, e não o candidato... Ameaçado de ter sua candidatura cassada, renuncia e inscreve a própria mulher em seu lugar. O tribunal aceita.

Nas eleições para a presidência da República, uma outra desconhecida lidera. É a máscara de um presidente que não pode disputar o terceiro mandato. O outro candidato parece envergonhado, não defende as ideias e realizações do próprio partido. E há outra mulher tentando se eleger. Não corta os cabelos porque a religião não lhe permite, mas acredita ser capaz de dirigir um país.

No domingo, a chuva que fingiu chegar vai-se embora. Visto meu traje de votar e dirijo-me às modernas urnas eletrônicas que não me permitem escrever mensagens na cédula. Mas basta teclar o número zero e confirmar para anular meu voto. Mais simples que eleger um canalha.

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