A igrejinha de Nossa Senhora de Fátima é um dos símbolos da arquitetura de Brasília. Projeto de Oscar Niemeyer, localiza-se na entrequadra 307/308 sul e foi inaugurada em 1959, um ano antes da própria cidade. Sua fachada é decorada com azulejos de Athos Bulcão, constantemente agredidos por atos de vandalismo, como aconteceu recentemente em conseqüência de um incêndio mal-explicado.
O interior possuía originalmente afrescos de Alfredo Volpi, com suas tradicionais bandeirolas. No entanto, uma reforma irresponsável, realizada na década de 60, cobriu as paredes com tinta e a obra de Volpi se perdeu definitivamente.
Estão sendo realizados trabalhos de restauração, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) escolheu Francisco Galeno para fazer uma nova pintura no interior. Ele se inspirou no próprio Volpi, e fez um projeto bonito, singelo, quase infantil: a Nossa Senhora de Fátima, com o rosto não identificável, se apresenta entre pipas e bandeirinhas.
“Essa gente não acredita em Deus nem na arte”, reclama Galeno, referindo-se aos detratores de seu trabalho. “O fanatismo torna as pessoas cegas.” Para explicar sua pintura, ele lembra que, segundo a tradição católica, Nossa Senhora apareceu para três crianças da cidade de Fátima, interior de Portugal. “Essas crianças eram pastoras, tinham uma vida difícil, mas certamente também brincavam”, afirma ele.
O tom alegre dos desenhos de Galeno incomoda os fanáticos, que preferem identificar a religião com a dor, a culpa e o martírio. Contra o tradicionalismo, pesa o fato de que a Igrejinha é um dos símbolos da modernidade e do futurismo de Brasília, e ela não é propriedade deste ou daquele grupo religioso. Recebe não apenas católicos intolerantes, mas também turistas e visitantes da cidade, do país e do mundo.
A Igrejinha fica aberta diariamente, de manhã e à tarde, o que a torna vulnerável à agressão e intolerância. Dizem que Deus é onipresente e tudo vê, mas por via das dúvidas vão instalar umas câmeras para vigiar o ambiente.
Há um abaixo-assinado na internet em apoio à obra de Galeno. Acesse aqui.
2 comentários:
É meu amigo, em primeiro lugar, obrigado pelo interesse em minha humilde página.
Com referencia as agressões na obra do artista ora citado isso é um fato lamentável de todos os pontos de vista.
a)Além de demonstrar a intolerancia tem o lado vandalo mesmo que precisa ser punido com mais rigor.
b) Isso não é um excessão, mas parece que se tornou regra nas grandes metropólis, principalmente, os bens públicos e privados, históricos ou não são pichados por esses animais. Que os animais me perdoe.
Aguado seu ponto de vista em um dos meus. Visite também: http://kidureza.blogspot.com
Abraço
Até hoje, eu não tinha a mínima ideia sobre Francisco Galeno, apesar de ter morado em Brasilia. Soube de sua morte ao conversar com uma colega, que o conhecia desde sua infância em Brazlândia, e muito lamenta sua morte.
Por curiosidade, abri seu nome no Google e vi algumas fotos de suas obras, particularmente os murais da igreja.
Umas poucas fotos, mas suficientes para surpreender. Galeno era um consumado, excelente pintor. Sua técnica, seu manejo de cores e formas, seu modo sintético e simples de construir a arquitetura das imagens... Não tinha nada de ingênuo, nem de amadorístico. Era um mestre, um artista consumado. As homenagens póstumas que recebeu do Governo do DF são mais que merecidas.
Quanto à imagem da Virgem, seu manto branco naquele vasto campo azul... Na próxima viagem a Brasília, vou visitar a igreja e admirá-la longamente. Tenho certeza de que Ela amou o mural.
Meus parabéns aos seus amigos e admiradores do DF. Vocês têm muito bom gosto.
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