[estante afetiva] A ARTE DE TONINO GUERRA


Eu tinha o hábito de visitar a Livraria Portugal, de Brasília, para ver as novidades de literatura portuguesa. Mas, naquela manhã de sábado, o que me encantou foi uma pequena obra prima de literatura italiana. Retirei da prateleira um volume que me atraiu pelo título: O livro das igrejas abandonadas. Eu não conhecia o autor – Tonino Guerra – ou, melhor dizendo, não sabia que ele era também o roteirista de filmes que me haviam marcado profundamente, como Amarcord, de Federico Fellini, BlowUp e Zabriskie Point, de Antonioni, Paisagem na neblina, de Theo Angelopoulos, Nostalgia, de Tarkovski... A lista é imensa. Naquele momento, folheando o pequeno livro, eu descobria a bela prosa poética de Guerra, traduzida do italiano por José Colaço Barreiros e publicada pela Assírio & Alvim, de Lisboa.

Li e reli aquelas histórias várias vezes. Tonino Guerra criou um universo poético e cinematográfico, em que as narrativas se parecem com descrições de filmes de curta metragem, que ele conta do início ao fim não para estragar a surpresa de um futuro espectador, mas para encantá-lo. Todas as histórias de O livro das igrejas abandonadas têm como cenário algum pequeno templo, nem que seja uma caverna onde vive um frade escondido do mundo.

Curioso pela obra de Tonino Guerra, pedi a uma livraria do Porto, em Portugal, dois outros volumes, igualmente surpreendentes: O mel, em que o escritor conta, em versos, a história de sua aldeia, Santarcangelo de Romagna, onde seu irmão mais velho, Dino, habitou até a morte, e Histórias para uma noite de calmaria, uma coleção de contos e poemas em que ele aborda o mesmo universo, tão singelo quanto mágico.

“Há sempre uma história na sua poesia, há sempre poesia em suas histórias”, escreveu sobre ele o também italiano Italo Calvino. O livro O mel tem outra curiosidade: foi todo escrito em romagnolo, dialeto da região onde nasceu Tonino, acompanhado de uma versão em italiano. A tradução portuguesa foi feita diretamente do romagnolo, a pedido do autor, por Mário Rui de Oliveira.

Dois dos poemas de O mel foram recitados em filmes ¬– um em Casanova, de Fellini, e outro em Nostalgia, de Tarkovski. Sua capacidade de injetar altas doses de poesia a elementos da memória fez com que esses e outros filmes que ajudou a criar, especialmente naquela fase áurea do cinema italiano, se tornassem clássicos.

Tonino Guerra nasceu em 16 de março de 1920 e faleceu cinco dias depois de completar 92 anos. Ele havia retornado há poucos anos para Santarcangelo de Romagna, província de Rimini, onde nasceu.

Um comentário:

Fanzine Episódio Cultural disse...

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