A ARTE DE JOSÉ VASCONCELLOS

A infância redescoberta
Eu conhecia o artista plástico José Vasconcellos graças a um pequeno e belo desenho a lápis, feito por ele nos anos 70 numa folha de papel A4. Minha mãe, prima dele, o ganhou de presente e o guardava com carinho entre objetos preciosos. “Isso vale muito dinheiro em Copenhague”, me disse o próprio Vasconcellos, quando o conheci na sala Martins Pena do Teatro Nacional, em Brasília, na semana passada.
 
Vasconcellos vive desde 1974 na Dinamarca, onde é reverenciado pelos museus e galerias e, é claro, também pelo público. Suas obras fazem parte de coleções de vários países europeus e dos Estados Unidos, e livros sobre ele foram publicados em edições inglesas, francesas, alemãs, entre outras. 

Ele trabalha, hoje, basicamente com resina vegetal sobre tela ou madeira, às vezes usando colagens, criando obras complexas, de grande beleza plástica. Há muitos anos não produz mais gravuras como a que lhe mostrei no dia 2 de agosto, quando enfim o conheci pessoalmente.

Sem título
 Apesar do parentesco e de nascidos na mesma cidade – Passos, em Minas Gerais – só o encontrei agora, em Brasília, onde ele esteve para abrir uma exposição de 23 de suas obras no Espaço Cultural Zumbi dos Palmares, na Câmara dos Deputados. Fiquei impressionado com as cores, as texturas e sua abordagem muito pessoal do realismo fantástico, expressão, aliás, que dá nome à exposição. “Um mergulho no universo mágico do inconsciente coletivo, apontando certos arquétipos comuns a todos nós e resgatando fantasmas adormecidos no canto da memória de cada um”, como ele mesmo escreveu no catálogo da exposição.

Embora viva há quase 40 anos fora do Brasil, Vasconcellos é aquele mineiro típico – eu diria até um passense típico – que gosta de uma boa prosa, desenrolada com sotaque inconfundível. E é casado com uma artista igualmente talentosa, a pianista Valéria Zanini, que fez um recital inesquecível na Sala Martins Penna, tocando peças de Schubert, Schumann, Liszt, Villa-Lobos e Prokofieff. 

Valéria é goiana de Anápolis. Ela e Vasconcellos deixaram o Brasil em 1973, por pressão da ditadura militar. Foram para o Chile, de onde saíram no ano seguinte, após o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende. Partiram direto para a Dinamarca, onde encontraram terreno fértil para desenvolver sua arte. 

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