Durante uma viagem de avião, entre Brasília e São Paulo, eu soube que meu amigo, xará e conterrâneo Alexandre Brandão transou com a Gisele Bündchen.
O Xará é escritor, o que talvez o credencie a mentir, de forma não condenável. Escritores fingem completamente, como disse Fernando Pessoa, mas é outra a mentira que contam: afinal, uma das fontes da força da literatura é que cada mentira, cada fantasia, remete à realidade.
O ofício do escritor não é nada simples – não é feito de colocar palavras umas atrás de outras, mas de saber usar a palavra certa no lugar certo, o que é muito diferente. As palavras são como pedras de infinitas faces, e cada face tem um sentido e uma sutileza, o que torna a construção do texto uma função de ourives. É por isso que acreditei na história contada pelo Alexandre Brandão, embora a creia improvável, talvez não a transa em si, mas os diversos contextos.
Quem ler o livro No Osso – Crônicas Selecionadas, publicado pela Cais Pharoux, vai deparar com histórias em que Brandão revela suas várias faces de ourives da palavra. Há memória, fantasia, ficção, história e textos em que o autor simplesmente brinca com as palavras, como uma criança brinca com pedras, pedaços de ossos ou frutos verdes caídos das árvores. Escrever é, no mínimo, muito divertido, assim como ler o resultado dessas brincadeiras.
Mas o trabalho de Alexandre Brandão é muito sério – e aí talvez seja melhor tratar sua literatura não como uma brincadeira, mas como um jogo. Logo na primeira crônica, O mundinho das palavras, ele mostra de que essas pecinhas mágicas são capazes quando manipuladas por um bom artesão. Só faltou perguntar, no final, se delirium verbis é doença de escritor.
O livro traz 45 crônicas, escritas a partir de 2000. Parte delas foi publicada em jornais e blogs, especialmente o blog No Osso, que Brandão mantém há alguns anos e que emprestou o nome ao volume. Algumas referem-se à cidade de Passos, cenário de sua infância, mas alcançarão qualquer leitor sensível. Em outras, o autor exercita seus dons e imaginação de contista, em textos que pegam o leitor pelos sentidos e o conduzem sem turbulências até o final do livro, quando se percebe que a viagem foi rápida e prazerosa.
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